Balanço vazio

256 28 3
                                    

O frio da manhã percorria a minha espinha enquanto subia de elevador para o terceiro andar da Polícia Federal. Fazia meses desde a última vez que pisei neste lugar, e a sensação de estranhamento era quase palpável. As paredes brancas, antes tão familiares, agora pareciam me observar com certa indiferença.

Ao chegar à minha mesa, senti um aperto no coração. A placa com o meu nome ainda estava lá, intacta, como se o tempo não tivesse passado. Respirei fundo e abri a porta, hesitante.

A sala estava exatamente como eu a deixara: a mesa com arquivos , o computador desligado, porta retrato de costas para porta. Me aproximei da mesa e me sentei, encarando os retratos por um longo tempo.

Minha esposa, meus filhos, meus pais... Todos eles me sorriam, mas eu não conseguia me lembrar daqueles momentos, de sorrisos capturados, de suas risadas em cada imagem. A amnésia, cruel e impiedosa, havia roubado de mim as lembranças mais preciosas.

Um aperto na maçaneta da porta me tirou do meu torpor. Victor, meu amigo e colega de longa data, entrou na sala acompanhado de outro homem que eu não reconheci, Pedro. Felipe entra logo atrás.

- Fernando, que bom te ver de volta!, Victor exclamou, com um sorriso largo no rosto. Viemos te dar as boas-vindas.

Apertei a mão de Victor com força, agradeci por sua presença. Ele era um dos poucos que ainda acreditava em mim, mesmo depois dos meus vacilos. Dou abraço em Felipe amigo de infância

- Você deve ser o Pedro, digo. Desculpa não me recordo de você.

- Compreendo, delegado Fontes. Estou feliz de tê-lo de volta.

- Obrigado. Aperto sua mão.

Pedro me cumprimentou com cordialidade, mas seus olhos me observavam com uma certa curiosidade. Eu podia sentir que ele sabia sobre o meu acidente, sobre a minha amnésia.

- Então, Fernando, como você está se sentindo? Pedro perguntou, com cautela.

- Estou melhor, respondi, tentando afastar a tristeza que me consumia. Ainda me recuperando, mas ansioso para voltar ao trabalho.

Victor assentiu, com um sorriso compreensivo. 

- Não se preocupe, Fernando, ele disse.Vamos te ajudar a se readaptar. Você não precisa se apressar.

- Obrigado, Victor, agradeci, sinceramente. Sua amizade significa muito para mim.

Conversamos por mais alguns minutos, e aos poucos, fui me sentindo mais relaxado. A presença de Victor, Felipe e Pedro me dava força e esperança.

- Delegado, o senhor se lembra do que causou o acidente? Pedro me indaga.

- Nada. Tento todos os dias me lembrar do meu passado e do acidente, mas nada. Meu médico falou da possibilidade de hipnose ser uma opção, mas ainda estou pensando.

- Tem certeza que não tem nada referente a isso na sua lembrança? Felipe pergunta com uma expectativa.

- Tem algo e não sei se uma lembrança ou somente sonho.

- O que é, delegado Fontes? Pedro pergunta curioso.

- Desse do hospital, sonho com minhas mãos no volante, quando de repente uma mão feminina com unha vermelha briga comigo para mudar a direção. Quando eu olho era o rosto da Valentina. Sonhei várias vezes.

Eles trocam olhares, quando Victor fala com veemência sobre uma possibilidade de Valquíria que estava comigo no acidente ser a culpada.

- Vamos encontrar as provas, Victor disse, com determinação. Vamos provar que Valquíria é culpada. Felipe diz.

ALGEMADO EM VOCÊOù les histoires vivent. Découvrez maintenant