O sonho

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Olivia Lopes

Três dias atrás...

Pisco os olhos, tentando me livrar da névoa que insistia em turvar minha visão. A luz fraca que entrava por uma fresta na parede de pedra era insuficiente para iluminar o cubículo em que me encontrava. Um tremor percorreu meu corpo, e me dou conta de que estava algemada em uma cama desconfortável, minhas mãos presas na cabeceira e meus pés amarrados por cordas ásperas.

Um som metálico chama minha atenção. Ao lado da porta de aço inox, um balde enferrujado continha água, e ao lado dele, um pedaço de pão amanhecido. Me contorce na cama, lutando contra as algemas que prendiam meus pulsos, tentando me livrar daquela prisão.

De repente, a porta se abriu com violência, e vejo a figura alta e sombria de Pierre se enquadrou na entrada. Seus olhos castanhos gélidos percorreram todo meu corpo, pousando por um momento em seus lábios secos e rachados. Um sorriso cruel se formou em seu rosto. Sinto um nojo de um dia ter confiado neste maldito.

- Bom dia, Olivia, dormiu bem? Disse ele com voz áspera.

Eu o encarou com ódio, mas não digo nada. Pierre se aproximou, sentando-se em um banquinho de madeira diante da cama.

- Vejo que está com fome, disse ele, pegando o pedaço de pão e segurando-o diante do meu rosto. - Mas antes de comer, vamos conversar.

Desvio meu olhar, recusando-se a dar a ele a satisfação de me ver, me submeter. Pierre ri, um som gutural que ecoou nas paredes do frigorífico.

- Você é muito teimosa, Olivia, fico excitado só de imaginar domando você. Disse ele. Mas não se preocupe, eu tenho tempo. Vamos esperar até que você esteja pronta para cooperar.

Com um último sorriso cruel, Pierre se levantou e saiu do lugar, fechando a porta com estrondo. Fico sozinha na escuridão, o medo e a fome se misturando em um nó na minha garganta. Aperto os olhos, tentando conter as lágrimas que teimavam em cair.

- Eu vou sair daqui, murmuro para mim mesma. Vou encontrar um jeito de escapar.

A luz fraca que entrava pela fresta na parede era a única coisa que me conectava ao mundo exterior. Me concentro naquela luz, imaginando o sol brilhando, o vento soprando dentro daquele lugar gigantesco. Me recuso a desistir, pois agora tenho uma vida dentro de mim, que depende que saía das garras desse maldito.

- Vou encontrar um jeito de voltar para casa.

Narrador

O estômago de Olivia roncava como um trovão, ecoando nas paredes úmidas do cativeiro. A luz fraca que entrava por uma pequena fresta na parede formam sombras grotescas no chão, aumentando a sensação de claustrofobia. Ela estava presa há um dia. A fome era uma tortura constante, um aperto implacável que consumia seus pensamentos.

De repente, a porta rangeu e uma fresta de luz se formou. Uma figura conhecida surge, era Verinha uma amiga do período que trabalhou no restaurante. Ela entrou, carregando uma bandeja com comida. O cheiro de pão fresco e carne assada inundou o cubículo, fazendo a boca de Olivia se encher de água.

Verinha se aproximou, sem dizer uma palavra.

- Coma, Olivia. Eu mesma preparei. Ela solta suas mãos.

Olivia não hesitou. Agarrou o pão com as mãos trêmulas e devorou cada mordida com avidez. A carne assada era macia e suculenta, um sabor celestial depois de dias de privação.

Enquanto comia, Olivia observava Verinha atentamente. O seu rosto estava com muito pesar, mas ela podia ver isso no par de olhos escuros e penetrantes.

- Quem é você, afinal, Verinha?, perguntou ela, com a voz fraca.

- Isso não importa, apenas coma. Respondeu a Verinha.

Olivia terminou a comida rapidamente, deixando a bandeja vazia.

Obrigada, disse ela, com um fio de voz.

Verinha não disse nada, apenas algema um dos seus braços novamente na cama. Em silêncio, pegou a bandeja e saiu do cubículo, fechando a porta atrás de si.

Olivia ficou sozinha novamente, com a mente ainda nublada pela fome. Mas agora, havia uma pequena semente de esperança em seu coração. Alguém conhecido tinha lhe trazido comida, o que significava que não a queriam morta. Ela agora se deita com certa dificuldade, devido seus estado de gravidez, ela pega no sono. A noite chega naquele frigorífico no meio da vegetação brusca da mata.

Naquela noite, exausta e faminta, Olivia adormeceu no colchão desconfortável da cama. Em seu sono, uma figura familiar surgiu: sua mãe, falecida há poucos dias.

Sua mãe era radiante, com um sorriso gentil e terno.

- Olivia, minha querida,vejo que você está em apuros. Precisa aflorar seus instintos protetores para seu próprio bem e do seu bebê. Eu treinei você para esse tipo de situação, então é hora de agir. Disse ela com uma voz suave e melodiosa.

Olivia, tomada pela emoção, caiu de joelhos e abraçou a mãe com força.

- Mãe, senti tanto sua falta, soluçou ela. Como chegamos a isso? Por que me sequestraram?

Sua mãe a acariciou com carinho.

- As respostas virão com o tempo, Olivia. Mas agora, o que importa é você e seu filho saírem daqui.

Olivia tocou sua barriga, ainda inchada com o bebê que crescia dentro dela.

- Sim, disse ela, com os olhos cheios de lágrimas. Preciso protegê-lo.

Sua mãe assentiu.

- Você é forte, Olivia. Mais do que imagina. Encontrará uma maneira de sair dessa situação. Mas precisa reagir.

- Reagir? Como?, perguntou Olivia, confusa.

- Lembre-se da sua força, treinamento e da sua inteligência, disse sua mãe. Observe tudo ao seu redor, procure por pistas, por qualquer oportunidade. Não desista, Olivia. Lute por você e por seu filho, seus instintos maternais e autoproteção vão guia- lá.

De repente, a imagem da mãe começou a se dissipar.

- Mãe, não vá!, Olivia implorou, estendendo a mão.

- Sempre estarei com você, Olivia, disse sua mãe, sua voz se tornando cada vez mais fraca. No seu coração, na sua memória. Acredite em si mesma.

E com isso, a figura da mãe se dissolveu na escuridão.

Olivia acordou com um sobressalto, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto. As palavras da mãe ainda ecoavam em seus pensamentos. "Reagir", ela repetiu para si mesma. "Lutar."

Com um novo senso de determinação, Olivia levanta seu olhar, observando tudo em volta do cativeiro com atenção renovada, buscando por qualquer sinal de fraqueza, qualquer chance de escapar. A promessa à sua mãe e ao filho que carregava lhe dava a força que precisava parar enfrentar Pierre Leroux.

Olivia sabia que a jornada seria árdua e perigosa, mas a imagem da mãe e suas palavras inspiradoras a impulsionaram. Ela não desistiria. Ela lutaria com todas as suas forças para escapar do cativeiro e proteger seu filho, custe o que custar.

ALGEMADO EM VOCÊWhere stories live. Discover now