Déjà vu

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Fernando Fontes

Abro meus olhos e sinto incômodo pela claridade, escuto vozes e aparelho apitando. Começo recobrar a consciência e logo me lembro de Valentina, com  dificuldade e ainda fraco digo:

Valentina. Sinto meu corpo fraco e vejo uma moça com roupas brancas dizer.

- Ele acordou, vou chamar o médico.

Fecho os olhos e sou tomado pelas piores lembranças da minha vida, o carro capotando e o semblante de terror de Valentina. Neste momento, uma mulher com cabelos cacheados, negra, gorda e com rosto cheio de lágrimas me abraça. Não entendo nada, não corresponde aquele toque que faz meu coração acelerar.

- Quem é você? Seus olhos se arregalaram parecendo duas é enorme jabuticabas.

- Sou eu, meu amor. Olivia é sua esposa.

Eu sou casado com Valentina Campos, por final onde ela está? Ela me olha sem acreditar nas palavras que saíram da minha boca.

Neste momento, meus pais e irmãos entram no quarto. A moça começa a chorar e abraça Carol. Meu pai indaga sobre o que está acontecendo.

- Parece que ele não se lembra de mim. Ela está com os olhos tristes.

Ver aquela cena faz meu coração doer, mas não sei quem é essa pessoa.

- Fernando, essa é sua esposa, Olívia. Pai fala.

- Nunca a vi na minha vida, papai. Onde está Valentina. Ela e eu sofremos um acidente de carro. 

- Não estou acreditando nisso, este pesadelo novamente. Carmen fala. Valentina morreu a 12 anos atrás, Fernando, pelo amor de Deus.

- O que você está falando, Carmen? Novamente inventando histórias para me separar de Valentina.

Uma dor enorme começa a latejar minha cabeça. Coloco minhas mãos na cabeça. A moça que  eles chamam de Olivia se aproxima e diz.

- O que está acontecendo, meu amor. Chamei o médico. Vai ficar tudo bem. Ela coloca suas mãos suaves em meu rosto.

A dor é muito forte que grito, tirando as suas mãos do meu rosto com violência. Ela está assustada. O médico e duas enfermeiras entram e pedem que todos se retirem. E manda a enfermeira administrar morfina. Em questões de segundos a dor cessa.

No quarto, depois de alguns minutos e alguns exames prévios do Dr. Alberto aquele recinto frio e estéril, a única coisa que me dava a certeza que realmente era um hospital. Sentei-me na cadeira desconfortável, o médico pediu para chamar minha família, meus pais entram e ficam ao meu lado, enquanto aguardávamos as palavras do neurologista enquanto examinava meu prontuário. A tensão no ar era palpável, meus olhos fixos em Olívia, que estava com semblante apreensivo e tendo, mas tendo força minha mente a se lembrar daqueles olhos de jabuticaba.

Sete anos da minha vida perdidos em um abismo negro. Eu não me lembrava de nada. Nem da mulher na minha frente, nem da minha família, nem da minha profissão. Tudo o que eu sabia era que sou casado com Valentina Campos, moro em São Paulo, que tenho 25 anos e sou policial civil.

Dr. Alberto, depois de ler todo o prontuário e olhar os exames no tablet, prende sua atenção em mim. Um homem alto e magro, com óculos de aro grosso e um sorriso gentil. Ele começa me perguntando .

- Então, Fernando, disse ele, em pé . Conte-me como está se sentindo.

Eu me afundei na cadeira, sem saber o que dizer. Como explicar que me sentia como um estranho em minha própria vida? Como descrever o vazio que consumia meu peito?

ALGEMADO EM VOCÊWhere stories live. Discover now