Corda bamba

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Fernando Fontes

- Eu não vou trabalhar com essa mulher. Eu grito com meu superior.

A ordem ecoou em meus ouvidos como um tiro.

- Fernando, você e a Valquíria vão investigar o desaparecimento da filha do deputado federal. É um caso delicado, sigilo absoluto é crucial. Isso é uma ordem.

Bagunço meus cabelos, ter Valquiria ao meu lado me causava náuseas. A repugnante irmã da minha ex-esposa. Ter que trabalhar com ela era como remexer em um baú de memórias amargas.

Relutante, saí do prédio da PF em uma viatura descaracterizada ao lado dela, seguido por outro veículo com equipe papiloscopia. O silêncio era ensurdecedor, nenhuma palavra era dita. A tensão pairava no ar como uma névoa densa.

Ao chegarmos à mansão do deputado, Valquíria, com seu sorriso cínico, sugeriu que entrássemos juntos. Recusei-me categoricamente. A investigação era o meu limite, a intimidade, jamais.

Enquanto ela vasculhava a casa com a equipe forense, eu permaneci do lado de fora, observando a grama verdejante e os pássaros cantando empoleirados nas árvores. Uma falsa sensação de paz em meio ao turbilhão de pensamentos que me assolavam.

Ao retornarmos à para o prédio da PF, a fúria de Valquíria era palpável.

- Você me odeia, não é?, ela gritou, seus olhos faiscando como brasas.

- Não te odeio, Valquíria, respondi com calma. Simplesmente não sinto nada por você, apenas desprezo.

As palavras saíram como um soco no estômago. O silêncio que se seguiu era cortante. Ela segura no volante, tento manter o controle do carro, quando ela consegue virar a direção. De repente, o rugido de um motor e o impacto violento de metal contra asfalto. A viatura capotou várias vezes, lançando-me para fora do veículo.

A escuridão me abraçou, e a última coisa que lembrei foi do rosto de Valquíria, distorcido pelo terror, antes do mundo se apagar.

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