Seriguela

263 30 1
                                    

Fernando Fontes

Dois meses depois

O dia amanheceu cinzento e chuvoso, combinando com meu estado de espírito. Já se passavam três horas desde que saí em busca da bendita seriguela, e nada. As ruas desertas da cidadezinha pareciam zombar da minha frustração. Olivia, minha esposa grávida de seis meses, tinha desenvolvido um desejo incontrolável pela fruta ácida, e eu, como um bom marido, estava disposto a fazer qualquer coisa para satisfazê-la.

Já havia vasculhado todos os mercados e quitandas da região, sem sucesso. A única opção que restava era ir até a Feira zona rural, onde, segundo me informaram, alguns produtores ainda cultivavam a fruta. 

Enquanto dirigia pela estrada esburacada, meus pensamentos se misturavam com a preocupação e o cansaço. A noite anterior tinha sido particularmente difícil. Olivia, com seu sono agitado, havia passado a maior parte do tempo esmagada contra mim, me deixando com dores nas costas e olheiras profundas.

Finalmente, após o que pareceu uma eternidade, cheguei ao sítio onde, segundo me disseram, eu poderia encontrar seriguelas. O lugar era simples e rústico, com uma casa de madeira cercada por plantações.

Bati à porta e esperei alguns minutos até que uma senhora de cabelos grisalhos me atendeu. Com um sorriso gentil, ela me convidou a entrar e me mostrou o caminho para o pomar.

Lá, entre as árvores frutíferas, encontrei o que tanto procurava: um pé de seriguela carregado de frutos maduros e suculentos. Colhi uma quantidade generosa e, sem nem mesmo provar, voltei para casa o mais rápido que pude.

Ao chegar, encontrei Olivia na cozinha, com o rosto pálido e os olhos ansiosos. Quando me viu entrar com a bandeja transbordando de seriguelas, seus olhos se iluminaram e um sorriso radiante se formou em seus lábios.

Ela pegou uma fruta e a mordeu com entusiasmo, deixando escapar um gemido de satisfação. 

- Está deliciosa!, exclamou ela, com o suco escorrendo pelo queixo.

Naquele momento, meu cansaço e minhas olheiras desapareceram. O sorriso de Olivia era a recompensa que eu precisava. Sentei-me ao seu lado e a observei devorar as seriguelas, feliz por ter conseguido realizar seu desejo.

Enquanto ela comia, eu a observava com ternura. A gravidez havia tornado Olivia ainda mais radiante, com um brilho especial nos olhos.

Sabia que os próximos meses seriam desafiadores, mas também estava ansioso para a chegada dos nossos filhos. Aquele desejo incontrolável por seriguela era apenas um sinal da incrível jornada que estávamos prestes a iniciar. Com um suspiro de contentamento, abracei Olivia e a beijei na testa. 

- Obrigado por me fazer tão feliz, sussurrei em seu ouvido.

E assim, entre seriguelas e sorrisos, nossa história continuava a ser escrita. Saio de casa direto para trabalho. Cheguei na minha sala com e me sentou depois de uma manhã procurando seriguela.  Estou exausto. Victor entra.

- Achei que não viria trabalhar, nossa que cara.

- Cara de quem está procurando seriguela. E nos últimos dias Olívia dorme com seu corpo em cima do meu, pensa se consigo dormir.

- Hahahahaha, cara você está um caco. 

- E hoje que teremos o treinamento atualização dos primeiros socorros.

- Sim, vamos.

- Vou trocar de roupa.

Hoje teremos curso de fundamentos e práticas de primeiro socorro em atividade policial e rotina pessoal. Depois de algumas horas de estudo e prática, uma agente exemplifica uma situação ocorrida fora do local de trabalho com atendimento para um gestante em um restaurante que ela se encontrava com sua família. O professor do curso, logo pergunta se alguém tinha alguma mulher da família grávida, Victor não pensa duas vezes, ele levanta meu braço, então o mesmo me chama a frente.

ALGEMADO EM VOCÊWhere stories live. Discover now