Eles nasceram!

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A mão de Olivia apertava a minha mão com tanta força que eu achava que meus ossos se estilhaçariam. Gritos dilacerantes escapavam de sua garganta enquanto contrações implacáveis a dominavam. Seus olhos, antes tão cheios de vida e alegria, agora estavam nublados pela dor, suplicando por um fim àquele tormento.

Os médicos, com rostos sérios e eficientes, moviam-se ao seu redor, preparando-a para a cesariana. Eu observava tudo como se estivesse em um transe, incapaz de processar o que estava acontecendo. A gravidez de gêmeos, Laura e Henrique, que antes era motivo de tanta alegria, agora se transformou em um pesadelo.

Olivia sempre quis ter um parto normal. Ela se preparou para isso durante meses, lendo livros, fazendo exercícios e se alimentando de forma saudável. Mas a natureza tinha outros planos. Um problema na placenta a colocava em risco, um dos bebês estava com placenta grudada no útero gerando hemorragia, assim gerando risco para Olívia e Henrique, pois Laura já está pronta para nascer, então a cesariana era a única opção segura, não poderei acompanhar o parto, pois é um procedimento com alto grau de urgência e de risco.

Enquanto os médicos a levavam para a sala de cirurgia, eu a segui com o olhar, o coração apertado no peito. Senti um nó na garganta e meus olhos se encheram de lágrimas. Eu queria estar ao seu lado, segurando sua mão, confortando-a, mas tudo que eu podia fazer era ficar ali, impotente, observando-a sofrer.

Na sala de espera está nossa família e amigos, o tempo parecia ter parado. Eu andava de um lado para o outro, mordendo as unhas, a mente inundada por pensamentos e preocupações. E se algo desse errado? E se ela não aguentasse? E se eu não fosse um bom pai para meus filhos?

- Filho, toma um pouco de água. Minha mãe tenta me acalmar.

- Se algo acontecer com minha pestinha e meus bebês, eu não sei o que vai ser de mim.

- Nada vai acontecer, tudo vai dar certo. Nossa menina é forte, e nossos bebês também.Eu abraço minha mãe. Estou chorando.

- Eu não sei mais viver sem Olívia e meus filhos.

- Calma, meu filho!

Finalmente, após o que pareceu uma eternidade, a porta da sala de cirurgia se abriu. Um médico, com um sorriso no rosto, me disse que tudo tinha corrido bem. Olivia e os bebês estavam saudáveis, que logo deixariam a UTI e iriam para o quarto.

Senti um enorme alívio tomar conta de mim. As lágrimas que antes eram de tristeza agora eram de alegria. Eu poderia finalmente ver minha esposa e meus filhos, e a felicidade que eu sentia era indescritível. Nossa família e amigos todos emocionados com a boa notícia.

Ao entrar no quarto, encontrei Olivia ainda um pouco fraca, mas com um sorriso radiante no rosto. Ao lado dela, estavam os dois pequenos milagres, Laura e Henrique, dormindo tranquilamente.

Segurei a mão da minha esposa e a beijei na testa.

- Obrigado,obrigado por me dar essa família, eu disse, com a voz embargada pela emoção.

- Eu que agradeço, por me dar uma família linda!

Naquele momento, eu me senti o homem mais feliz do mundo. A dor e o medo que eu sentia minutos atrás foram substituídos por um amor e uma gratidão que transbordavam do meu coração.

A experiência do parto, com todas as suas dificuldades e alegrias, me ensinou muito sobre a vida. Ensinou-me sobre a força da mulher, sobre o amor incondicional e sobre a importância de aproveitar cada momento ao lado das pessoas que amamos.

Laura e Henrique, que nasceram em meio a tantas felicidades e dificuldades, se tornaram a prova viva da força e da resiliência da vida. Eles são a maior alegria da minha vida e me inspiram a ser um homem melhor a cada dia.

Há cinco anos atrás, estava eu passando por um processo de luto, pensando em tirar minha própria vida por causa da Valentina. Fechado e frustrado para relacionamentos, em menos de um ano uma mulher entrou na minha vida e mudou tudo. Estou aqui sentado ao seu lado segurando minha menina Laura, encontro ela está amamentando Henrique. Aquela peste, que entrou no prédio da polícia federal para levar um lanche e teve a audácia de me dar um selinho, hoje é minha esposa, amiga, mãe dos filhos e parceira. Como tudo muda quando nos abrimos e deixamos o amor curar nossas feridas.

ALGEMADO EM VOCÊOnde as histórias ganham vida. Descobre agora