Chuva e trovões

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Olivia Lopes

Está chovendo neste momento. Escuto o som da chuva e de pessoas no quarto. Antes de abrir os olhos, presto atenção na conversa das enfermeiras.

- Ele é um gato. Que homem! Uma fala.

- Não entendo, logo como uma mulher dessa, poderia ter escolhido uma mais bonita. Outra retruca

- Verdade. Ela é gorda e preta com homem branco, deve ser para clarear a raça, tipicamente de mulheres do estilo dela.

- Com certeza fez macumba, homem desse nunca olharia para ela na rua, merece um mais bela.

Elas riem baixo. Quando ia responder, escuto uma outra voz.

- Que nunca seria você, com certeza. Vocês ainda vão se encrencar por causa desses pré- julgamentos. Saiam, eu troco o soro dela.

- Sim, enfermeira Joanna.

- Que mulheres insuportáveis.

Abro  os olhos e pergunto.

- Pode me ajudar a ir ao banheiro.

- Sim, querida. Vou pegar suporte para soro.

- Obrigada.

Fico pensando nas falas das enfermeiras e me sento na cama, observo aquele homem lindo. Eu não sei como ele se apaixonou por mim.

- Vamos, vem eu te ajudo.

Caminhamos até o banheiro. Antes de me assentar no vaso. D. Joanna pergunta.

- Você ouviu os comentários desagradáveis?

- Sim. Na realidade elas tem razão, nem eu sei como ele se apaixonou por mim.

- Viu o que você tem de melhor, com certeza.

- Como assim? Me sento no vaso.

- Querida, a forma como ele olha para você, e quando encontramos alegria de estar com alguém pelo que tem por dentro e não por que está por fora. Aquelas mulheres são pessoas que não tem nada além de falsa beleza, então esqueça o que ela falaram.

- Muito obrigada.

- Semelhante atrai semelhante, grave isso. Vou deixá-la fazer pipi. Ela sorrir.

Quando termino, pergunto a enfermeira Joanna se posso ir até o fim do corredor para observar a vista pela janela.

Olho a chuva, é um dos fenômenos da natureza mais lindo e mais assustador. Vejo os raios cortando o céu e em seguida o trovão, as gotas caindo sendo iluminada pela luz do poste,  água escorrendo e limpando o chão.

Desse de pequena lido com comentários acerca do meu peso e da minha cor, mas eu sei quem eu sou, ninguém vai diminuir. Eu sou como essa chuva, sua formosura só pode ser admirada por quem merece vê-la, por isso que tatuei no meu dedo anelar da mão esquerda a frase: “ “Me amou pelo que eu sou”. Quem colocar o anel aqui, vai amar a chuva e não o sol, porque a maioria ama o sol que nunca podemos trocar, mas chuva não. Ela toca nossa pele, nos refresca e nos limpa, podemos sentir- lá.

Neste momento sinto um braço envolver minha cintura. 

- Fernando,me solta. Estamos no hospital.

- Estou abraçando minha namorada.

- As pessoas estão olhando.

- Só as enfermeiras, os pacientes estão dormindo. Ele beija meu pescoço.

- Desisto. Você é teimoso que nem uma mula.

- Amo a chuva. É lindo, ver como ela cai na terra. Desse pequeno amo observa-la. E os raios e trovão são magníficos. Espetáculo da natureza, não acha pestinha? Estou chorando.

ALGEMADO EM VOCÊWhere stories live. Discover now