A Chama de Urunir

Capítulo 83 - Viagem

Victoria olhou pela janela da elegante carruagem e sorriu. Estivera enclausurada em uma cabana minúscula e úmida, que cheirava a mofo, até poucos dias atrás, e agora desfrutava de vinho, queijo fresco e frutas secas e frescas enquanto observava a paisagem mudar. Pensou que o tal Adrik era realmente um homem influente. Ela estava a caminho de Vitânia e contava com a proteção de pessoas poderosas, aparentemente, tudo graças ao mago. Sabia que o homem possuía interesse em seu atual estado, mas ela pouco se importava com os planos dele. Desfrutaria dos bons momentos que se apresentavam em sua nova vida.

À frente de Victoria estava um jovem sisudo, porém de boa aparência. Era alto e esguio, com cabelos escuros e curtos. Devia ser alguns verões mais velho que a garota e exibia com orgulho seu porte nobre. Lembrava um pouco ao seu irmão. Cirus era o nome do jovem, um aprendiz da magia e membro de uma família de prestígio de Vitânia.

— Cirus... É um nome bonito. — Victoria sorriu de uma maneira felina, deixando o rapaz um tanto incomodado. — Nossa viagem ainda levará algum tempo, certo? Por que não conversamos um pouco para quebrar essa monotonia? Pode me fazer perguntas se tiver curiosidade a meu respeito. Sei que sabe sobre meu atual estado.

O rapaz pareceu se interessar, mas continuou em silêncio por algum tempo, até que a jovem bufou devido ao tédio.

— Qual o motivo de estar em seu atual estado? — perguntou o jovem.

— Eu procurava poder. — Sorriu ela, ao vê-lo ceder. — Para ser sincera, eu não estava pensando muito nas consequências, apenas queria poder suficiente para realizar um ritual e trazer minha mãe de volta. No entanto, não deu certo. Fui impedida por algumas pessoas e me condenaram à morte por realizar magia negra. — Riu, com uma pitada de rancor. — Foi uma sorte ter aceitado me tornar uma bruxa! Somente por isso que estou aqui hoje.

— Um ritual para trazer alguém de volta à vida? — perguntou horrorizado e curioso ao mesmo tempo.

— Isso mesmo. Estava no caminho certo, mas fui interrompida e impedida. Meu próprio irmão e minha melhor amiga o fizeram.

— Nunca ouvi falar sobre tal ritual. Não deve realmente ser uma magia acessível a qualquer um. — comentou Cirus, ficando mais curioso, mas mantendo o tom sério.

— Bem, eu procurei bastante e o encontrei com uma bruxa. Foi assim que acabei envolvida com bruxaria. A mulher que tinha posse do ensinamento foi a mesma que me trouxe à vida e me colocou em contato com a névoa. Uma coincidência deliciosa! A troca pela informação foi eu aceitar me tornar como ela. Simples.

— Você acha? Eu diria que é algo bastante complexo. Uma decisão com muito peso. Mas algo que você mencionou me deixou curioso. Você foi condenada à morte por praticar magia negra. Como escapou? — perguntou Cirus.

— Ah! Sim! Essa parte é muito curiosa. Eu não escapei. — Deu um sorriso para o jovem que o deixou incomodado, era um sorriso um tanto insano. — Eu morri! Por sorte fui morta antes de ser consumida pelo fogo. Isso sim teria sido terrível. Minha melhor amiga me matou antes, com um virote, que se enterrou profundamente em meu coração. — Apontou para o próprio peito. — Meu corpo não escapou às chamas, claro. Mas o ritual já estava em andamento e quando meu coração foi trespassado, ele se completou e eu renasci!

A jovem parecia muito satisfeita com a história e o rapaz não demostrava qualquer expressão, mas no fundo estava um pouco chocado com as informações.

— Vai ajudar Molferath com as pesquisas dele? — perguntou, sondando as intenções da garota.

— Por enquanto. Ele é um homem interessante e eu nunca tive muito contato com tipos como ele. Sempre estive à sombra de meu irmão, ou ele à minha sombra, não sei ao certo. Depois, alguns companheiros de grupo passaram por minha vida, mas eles não duraram. Assim, quero saber mais sobre ele. Sobre você também. Você é um estudante de magia, não é?