Capítulo 32 - Norte ou Enver

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A viagem foi em ritmo acelerado e Bharani não estava situada há grande distância da capital, assim, em algumas horas de cavalgada se separaram da cavalaria e seguiram em um ritmo ainda mais veloz por umas poucas horas. Chegaram quando a escuridão da noite já se fazia presente.

Se apresentaram no muro externo e depois de serem interrogados e reconhecidos foi lhes permitida a entrada pelo portão principal da muralha. Cavalgaram através estrada ladrilhada de pedras cinzentas até que as paredes marmorizadas do castelo se fizeram visíveis e lá, novamente, se apresentaram. Um cavalariço rapidamente os ajudou a desmontar e levou os animais. Teve especial cuidado com o animal que o príncipe montava, presente de seu avô, o rei da Pradaria.

Quando entraram através das portas duplas em forma de arco viram o rei cruzar o salão, caminhando de encontro aos dois. Tristan percebeu o cansaço no semblante do pai, através dos olhos emoldurados por profundas olheiras escuras. O rei abraçou o filho, sem nada dizer e depois também abraçou Gauargi, que pareceu surpreso e sem reação com a atitude do monarca. Até mesmo as tapeçarias que cobriam as paredes e contavam a história do reino através dos séculos, por um momento, também pareceram surpresas.

— Estava preocupado com vocês. — disse o rei por sob o bigode, que já apresentava fios grisalhos. — Sei que estão cansados. — continuou com leve pesar. — Mas preciso saber se possuem alguma novidade!

Os dois amigos se entreolharam.

— Infelizmente, não temos, meu pai. — disse o príncipe. — Cavalgamos diretamente para cá. Todas as vilas de Bharani até aqui estão praticamente vazias, apenas isso foi o que conseguimos perceber de novo.

— Entendo. — disse o rei, mostrando-se um tanto decepcionado. — Tive esperanças de que pudesse ter encontrado seu irmão no caminho.

— Não o encontrei e estou muito preocupado com a falta de notícias. Minha mãe já sabe? — perguntou o príncipe.

— Não! Claro que não. Se soubesse já teria, ela mesma, saído atrás dele. — sorriu, saudoso ao mencionar a esposa. — Já é tarde. Vão descansar e amanhã cedo conversaremos mais.

Se despediram com um aceno e seguiram para seus devidos aposentos.

Em seu dormitório, que se situava no terceiro piso da torre leste, o príncipe despiu-se e lavou o corpo utilizando um pano limpo e uma bacia com água fresca. A noite estava estranhamente quente. Ainda nu, deitou-se e cobriu o corpo com o fino lençol de algodão, mas apesar do cansaço, não conseguiu dormir de imediato. Pensava nas notícias que tinha recebido. Era certo ir até Enver em busca de um boato, quando o reino mergulhava em caos? Tinha quase certeza que seu pai pediria que ele partisse rumo a Balmora e, uma vez lá, seria mais difícil de conseguir qualquer informação sobre o rumor. Quando voltasse, já teria se passado muito tempo. A falta de notícias de seu irmão também o afligia. Mas de todos os pensamentos que tinha, o que acabava sempre voltando a sua mente era o de uma moça ruiva muito bela, com seios salpicados de sardas, frequentando uma festa de reputação duvidosa, o que o surpreendia, pois jamais pensara em Alynor como uma mulher. Sempre pensava nela como a princesa, a criança mimada e birrenta com quem teria que se casar um dia. Pegou no sono enquanto devaneava e sonhou com tais devaneios. Sonhos que guardou para si mesmo.

No dia seguinte, aos primeiros raios de Atos, o príncipe herdeiro e o futuro conde de Urda já estavam reunidos com o rei e seus conselheiros na enorme mesa oval onde entalhes detalhavam cada montanha, planície e vale dos reinos da coalizão. Um trabalho único da arte élfica. Em certo momento, a atenção de Tristan se desviou, como fizera tantas vezes antes, em direção à bela mulher que adentrara o recinto. Ela o olhou diretamente nos olhos e sorriu, antes de se voltar para um dos conselheiros e sussurrar algo em seu ouvido. O homem arregalou os olhos no mesmo instante.

A Chama de UrunirOnde histórias criam vida. Descubra agora