Capítulo 44 - Voltando

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Maxine estava de volta à estalagem e taverna Espada Esplendorosa quando Atos estava no centro do céu limpo. Pediu uma refeição, que já perfumava o ambiente, e logo foi surpreendida pela figura taciturna de Yurgan, que possuía novamente seu porte altivo. Ela sorriu discretamente. Encarou longamente a espada presa ao cinto, desprovida de bainha, mas nada comentou. Não precisava.

Os dois falaram pouco, apenas comentaram sobre a vila, a estalagem e a comida. Então, depois da refeição, Maxine pegou o restante de suas coisas, assim como Yurgan, fecharam a conta de sua estadia e, então, partiram.

Caminharam em marcha acelerada por algumas horas e, já no final da tarde, passaram pelo vilarejo onde Yurgan tinha feito a primeira parada. Ou era o que Maxine pensava.

— Saudades da sua primeira parada? — perguntou, irônica, quando passaram pelo local.

— Não foi aqui o primeiro lugar onde parei. — respondeu sem qualquer entonação.

Maxine ficou esperando.

— Só isso? Não vai me contar onde foi?

Yurgan não parecia muito disposto, mas depois de alguns momentos, ele quebrou o silêncio.

— Parei em um outro vilarejo mais ao leste, mas algum tempo depois que estava ali, quando não estava entregue à bebedeira, notei a proximidade com a Floresta Velha e parti. Vaguei por uns dois dias, eu acho. Tinha a mente embotada, não lembro de muita coisa. — Ele fez uma pausa repentina. — Até que cheguei no vilarejo pelo qual passamos. Vamos achar um lugar para acampar? — Mudou de assunto, como se falassem sobre o clima.

— Claro. Vamos avançar mais alguns metros enquanto a escuridão não nos alcança.

Assim fizeram. Pararam ao escurecer, mas haviam avançado bastante e estariam em casa no dia seguinte, talvez ainda na parte da manhã.

Montaram acampamento, fizeram uma fogueira, mas a usaram somente para se aquecer do vento gelado da noite, pois, comeram o que tinham trazido na bolsa. Uma boa refeição da taverna onde estiveram. Comeram em silêncio e Yurgan se ofereceu para tirar o primeiro turno de vigia. Maxine limpou a boca e as mãos e levantou-se para montar sua cama ao ar livre. Depois disso, deitou-se. Observou Yurgan por algum tempo e notou que ele parecia incomodado.

"Se soubesse que um abraço teria acelerado o processo para tirá-lo daquele poço de merda em que se encontrava, o teria feito antes." Ela sorriu, achando um tanto cedo para deixar aquele pensamento se traduzir em palavras provocativas. Permaneceu em silêncio e deixou-se embalar por um sono mais tranquilo do que os que tivera nas noites anteriores.

Horas mais tarde ela acordou com o toque de Yurgan e assumiu seu posto na vigia. Quando a madrugada já se extinguia para dar lugar à luz de Atos, Maxine já estava com uma fogueira pronta onde aquecia os pedaços de carne restantes e esquentava um pedaço de pão. O jovem não demorou a acordar e eles fizeram o desjejum. Maxine estava silenciosa e Yurgan estranhou.

— Seu silêncio me diz que tem algo a dizer. — A acusou.

Maxine ergueu uma das sobrancelhas.

— Diz, é? Estou me contendo. Ainda é cedo para fazer piadas com você. — Ela torceu a boca em um sorriso ao vê-lo bufar. — Tive um sonho. Como os que tinha antes. Imagens desconexas. Elas fazem sentido quando sonho, mas quando acordo não consigo ligá-las, ou entendê-las. Sempre fico pensando em cada parte, tentando juntar tudo. Contudo, não tenho muita sorte.

Yurgan a encarava, atento. Ainda que não demonstrasse, ele torcia para que ela ficasse em paz com seu passado. Afinal, haviam superado muitos desafios para chegar ao tal fruto. Era difícil ver a decepção da jovem ao ver que pouca coisa havia mudado.

A Chama de UrunirWhere stories live. Discover now