Capítulo 11 - Anfitriã

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Seguiram caminhando com cautela. Era difícil localizar-se naquele lugar. Atos parecia não se importar com o local, deixando de oferecer seu brilho. Por isso, o pântano era naturalmente mais escuro e o ar era pesado e abafado.

Maxine havia parado e analisava o terreno com Callon, para que conseguissem seguir o melhor caminho até as entranhas do pântano. A garota era a melhor rastreadora entre eles. O mesmo se dizia sobre a arte de encontrar caminhos. Seu senso de direção era também admirável, no entanto, eram os olhos de Callon os mais afiados e, fazendo jus a isso, o elfo lançou duas flechas, que assoviaram e se cravaram em algo, logo atrás de um amontoado de galhos e vegetação.

— O que foi isso? — perguntou Victoria, assustada.

— Algo estava se movendo, por detrás daquele arbusto. Prefiro atirar antes, considerando o local em que estamos. — respondeu o elfo, que continuou empunhando o arco.

Maxine, com a espada em mãos, se aproximou, seguida de perto por Leon. Os dois caminharam o mais silenciosamente que puderam, considerando o solo lamacento. Deram a volta, preparados para um ataque, mas Callon havia sido preciso. Os dois relaxaram.

— Talvez você mereça um elogio por sua visão élfica. — disse Maxine, guardando a espada na bainha e pegando, novamente, a faca de caça.

Leon puxou o alvo de Callon, já sem vida. Um orc magricela. Estava coberto por retalhos de peles díspares em mal estado, além de lama e vegetação. Tentava se camuflar, talvez, para passar despercebido, já que estava em menor número, ou então, preparava alguma armadilha.

Maxine, com a faca de caça, se aproximou e arrancou-lhe a orelha esquerda, guardando-a em uma das algibeiras que carregava. Victoria olhou para Maxine, horrorizada.

— Estão pagando por cada orc derrotado. — respondeu simplesmente, lembrando as palavras de Leon.

Os olhos de Callon pareceram brilhar à menção do pagamento.

— Vocês têm certeza de que querem continuar? — Maxine perguntou, com a cabeça baixa. Deu uma boa olhada ao redor e logo olhou a todos. — Já está anoitecendo, ainda que aqui seja bastante difícil dizer com certeza. O caminho só vai ficar mais difícil.

— Max, estamos todos aqui por nossa própria vontade. — Victoria sorriu docemente.

Maxine olhou para a amiga e então para Yurgan, certamente ele não estava ali por sua própria vontade, mas sim pelo dever de proteger sua irmã. A jovem suspirou.

— É a primeira vez que enfrento um desafio tão perigoso. E não está ficando mais fácil. Sei que é isso que quero para mim, mas... — ela olhou para Victoria. — Não havia realmente contado com todo o perigo. Fui arrogante.

— O que Callon falou é verdade, Max. Fiquei extasiada com a sua ideia, pois, eu mesma não podia tê-la concebido. Eu não estava a par das lendas que rondavam o pântano. Se estivesse, pode ter total certeza de que a ideia teria sido minha. Salvo meu irmão, todos estamos aqui por nossa própria vontade. É a mais pura verdade.

— É verdade que minhas esperanças em encontrar aquelas patrulhas com vida já se põem no horizonte, assim como Atos fará em breve... — Yurgan pareceu ficar encabulado por um momento, ainda que seu semblante continuasse austero. — ... e tenho certeza de que é perceptível que não é de meu apreço, expor Victoria a essa situação sem um planejamento prévio. No entanto, já estamos aqui.

O rapaz fazia de tudo para que a irmã não sentisse os pesares daquela incursão, deixando para ela o maior quinhão de sua ração de viagem e da água em seus odres. Maxine havia percebido há algum tempo, mas, evitara tecer qualquer comentário. Sabia que, se tratasse de agir racionalmente, um homem com o dobro do peso e carregando três vezes a carga que garota carregava, necessitaria de muitos mais nutrientes para se manter de pé, mas o rapaz parecia saber o que estava fazendo e conhecer muito bem os próprios limites para que ela precisasse interferir. Ainda assim, lhe pareceu um fardo exaustivo.

A Chama de UrunirOnde histórias criam vida. Descubra agora