Capítulo 58 - Caça

22 5 0
                                    

— Ora, ora! Fico feliz que esteja vivo. — A voz enferrujada surgiu de um canto. — Como se sente?

— Muito melhor. Ainda estou com um pouco de dor na ferida da perna, mas nada que não possa suportar. — respondeu o príncipe se sentando.

— Um garoto de fibra! — A velha soltou uma risada encarquilhada. — Venha! Venha comer alguma coisa. Esteve dormindo por quase dois dias, deve estar faminto.

— Dois dias? — perguntou, surpreso.

— Sim, sim. Lhe dei mais chá depois, assim você não precisaria lidar com o pior da dor. Tenho um fraco por rostos bonitos. — Deu uma piscadela para Tristan e indicou uma cadeira para que sentasse.

— Eu agradeço muito por sua ajuda. — disse Tristan, sentando-se.

— Agradeça ao Anton! O menino sabe como me ganhar e sabe que ainda sou a melhor curandeira. — Gabou-se. Serviu um pouco de sopa de vegetais com pequenos pedacinhos de carne branca, de alguma ave, e esperou que ele começasse a comer. — Você salvou aquelas pessoas. Elas chegaram aqui na cidade um pouco depois de você. Estão muito agradecidas, tratei de uma moça que me contou sobre o acontecido.

Tristan ficara feliz em saber que os aldeões haviam chegado em segurança, ia mencionar algo quando a porta se abriu e Anton entrou. Era mais jovem que Tristan, um tanto mirrado, juvenil, possuía olhos azuis muito claros e o cabelo também era claro, da cor da palha.

— Está acordado! Que bom! A vovó disse que você teve febre, fico feliz que tenha melhorado.

— Estou melhor sim. Agradeço a você por sua ajuda.

— Não há necessidade, era o mínimo que eu podia fazer. — disse cabisbaixo.

Tristan não entendeu o significado do sentimento de culpa que sentiu na voz do rapaz, mas preferiu não se meter.

— Venha! Sente-se e coma conosco. — disse a velha para o rapaz, enquanto já servia uma tigela de sopa. — Agora, nos conte meu jovem, o que faz aqui no norte? Não são tempos seguros.

Tristan não esperava ter que dar satisfação, mas a senhora, ainda que linguaruda, era gentil e havia tratado de suas feridas.

— Eu estou indo para Balmora. Pretendia fazer uma última parada aqui, pegar suprimentos e seguir viagem, mas com os acontecimentos, achei melhor dar uma olhada.

— Balmora, hein? Você é corajoso. A subida da montanha está cada dia mais perigosa, mais cheia de orcs que emboscam aqueles que tentam alcançar a cidade. — disse a idosa olhando-o por cima da caneca de chá, que bebia.

— São tempos difíceis, mas eu preciso chegar na cidade. — Fez uma pausa para comer um pouco mais. — Ouvi um dos orcs interrogando o pessoal do vilarejo. Perguntavam pelo príncipe Tarquin. Ouviram alguma coisa a respeito dele?

— Então é verdade! — disse Anton, atraindo a curiosidade de Tristan. — Eu ouvi alguns rumores, mas não havia acreditado. Disseram por aí que um grupo de orcs estava caçando o príncipe, que havia vindo para o norte. Eu nunca vi qualquer um dos príncipes, então não saberia dizer, ainda que ele estivesse em minha frente. — sorriu e Tristan também deu um sorriso com o canto dos lábios, achando graça da ironia. — Eu ouvi de uma moça de fora, de outra vila, que o príncipe se desviou do caminho para não ser pego.

— Desviou para onde? — perguntou Tristan, tentando parecer apenas curioso.

— Oeste. Lá para as bandas da vila de onde ela viera. Espero que estejam bem. Depois do que aconteceu com a outra aldeia, dá um pouco de medo.

— Irão atacar todas as aldeias e vilas da redondeza. — falou a mulher. — Tanto pela caça ao príncipe, quanto para amedrontar a todos. Velzur ainda conta com alguns homens da guarda e está mais distante. Com a situação dos orcs, o rei ordenou que metade dos homens voltassem para a proteção da cidade.

A Chama de UrunirOnde histórias criam vida. Descubra agora