Capítulo 2 - Busca

88 14 6
                                    


Pradaria dos Cascos...

2.996

A brisa fresca que soprava, na noite iluminada por Candra, trazia o cheiro da grama recém aparada. Um cheiro que fazia qualquer um, que perambulasse pela Padraria dos Cascos, fechar os olhos e se imaginar correndo livre, como os cavalos ali faziam. Não à toa, o território era chamado de reino dos cavalos. O príncipe de Yogratax, neto do monarca da Pradaria, caminhava pelo jardim, apreciando aquele ar que lhe trazia paz.

— Não é comum vê-lo assim, irritado.

Tristan encontrara Gauargi tomando ar, recostado nas pedras frias da parede do lado de fora do palácio.

— Sabe, eu gostaria de ser uma pessoa insensível e fazer uma piada terrível sobre a sua sorte de não ter a princesa Ionna como cunhada. Aquela mulher é capaz de tirar qualquer um do sério. Bruxa! — O jovem deu um belo gole do conteúdo que estava na caneca de madeira.

— Ela tem os motivos dela. Afinal, você é um nobre de Yogratax, Lorde Gauargi de Urda, amigo mais próximo do príncipe que fez a irmã dela desaparecer. É impossível para ela não levar as coisas para o lado pessoal. Eu, particularmente, acharia muito mais saudável que não nos obrigassem a essas formalidades. — O tom de derrota na voz do príncipe era sempre presente ao tocar em assuntos relacionados ao reino de Urunir.

— Meu amigo, foi por muito pouco... muito pouco. Poderia ter causado um belo incidente diplomático, imagine! — O ruivo sorriu maleficamente.

— Nem brinque com isso. Cada vez que essas formalidades pela parte de meu avô materno acontecem, é como se cutucassem uma ferida que nunca cicatrizou em Ionna.

Gauargi soltou o ar pesadamente.

— Penso que ela poderia ao menos tentar disfarçar em público. Pobre Theodor!

— Porque diz isso? Ele parece bem feliz ao lado dela. Irritantemente apaixonado, eu diria. — comentou o príncipe.

— Deve ser fingimento. Ou ela o obriga a ser assim... deve ser. Ou ainda, aquele Adrik fez alguma magia para manter o casamento deles. — divagou o outro.

O príncipe revirou os olhos diante das suposições sem cabimento de Gauargi. Às vezes ele pensava na sorte de Ionna e Theodor ou de seus próprios pais, casamentos arranjados, como tantos outros, mas onde o amor floresceu e eles eram felizes. Ele não tinha uma vontade urgente de se casar, contudo, sabia que se casaria e sabia quem seria sua esposa, desde tenra idade. Ainda que fosse mais agradável se os tivesse, não receava a falta de sentimentos, pois, no fundo, o que importava era seu dever e sua promessa.

Não fosse o desaparecimento da menina, possivelmente, já estaria casado. Em seu íntimo, reprimia o pensamento que agradecia tal fato. Com dezessete anos, certamente, ele visava outras práticas que não o casamento, no entanto, se mantinha fiel à palavra dada àquele que seria seu sogro, ele encontraria a garota e se casaria com ela. Um dia...

— Aquele Adrik me irrita. — continuou Gauargi.

— Eu o acho bastante amigável. O único na comitiva de Urunir que tenta ser cordial e manter a paz. Até trocou algumas palavras comigo, perguntando sobre a minha busca pela princesa. Ofereceu ajuda, ainda que me pedisse sigilo sobre isso.

— Pois, continuo não gostando dele! — retrucou Gauargi.

— Vamos! Amanhã temos que acordar cedo e dar exemplo, senão, seremos iguais a esses nobres, que são sagrados cavaleiros, apenas devido ao nome de suas famílias. — brincou Tristan.

— Espero que você saiba que isso vai acontecer com você, ainda que seja um inútil sobre uma sela. Por falar nisso, seu avô disse que queria te ver, amanhã, ao meio-dia, na glória de Atos, no estábulo, próximo ao rio.

A Chama de UrunirWhere stories live. Discover now