Capítulo 57 - Resgate

21 6 0
                                    

Tristan fizera o caminho até Velzur, a última cidade antes de Balmora, em um bom tempo, ainda que a estrada estivesse em mal estado e uma chuva forte o atrasasse por mais tempo do que gostaria. Não recebera notícias de Tarquin nos vilarejos pelos quais passara no caminho e isso o preocupava. Gostava de acreditar que o irmão estava sendo discreto, mas pensamentos sombrios sempre invadiam sua mente.

Acreditou que subiria a montanha no dia seguinte, mas ao adentrar na taverna que possuía um antigo membro, já aposentado, da guilda, soube que seria impossível seguir.

— Os ataques estão cada vez mais comuns. Esses malditos orcs! — reclamou um homem barbudo.

— Espero que a caravana consiga chegar sem nenhum problema, mas com a ousadia desses bastardos eu duvido que eles consigam passar incólumes. — falou outro homem.

— Eles precisam receber esses suprimentos. Rupert estava nervoso com a subida. — continuou o taverneiro que era um homem alto, forte, já com alguma idade e começando a ficar calvo.

Tristan acompanhava o interlúdio enquanto fazia sua refeição em silêncio, e no instante seguinte a porta se abriu, deixando um ar gelado entrar, sacudindo as chamas crepitantes da grande lareira.

— Atacaram o vilarejo na subida da montanha! — Uma garota entrou na taverna anunciando e se dirigindo ao balcão.

— Atacaram? Quando? — perguntou uma voz.

— Parece que foi antes do amanhecer. O prefeito estava guiando um casal que sobreviveu e veio buscar refúgio aqui. Coitados!

— Malditos! Se continuar assim, logo eles estarão aqui! — disse outra voz com medo.

— Maldita hora para se ter uma invasão! Já não basta a guerra? — lamentou o taverneiro.

— Subir a montanha deve ser impossível agora.

O príncipe levantou a cabeça, procurando o dono da voz. Ele tinha razão. Um ataque dos invasores acabara de acontecer a um vilarejo aos pés da montanha. Os sobreviventes, ao que tudo indicava, haviam fugido. Os orcs eram os donos do lugar. No entanto, ainda que todos ali tivessem uma opinião e uma história para contar, o ideal era ver com os próprios olhos.

Tristan terminou a refeição e saiu. Pegou o cavalo e se dirigiu para a estrada, sabendo que ela levava ao acesso para a montanha. Galopou durante todo o caminho e ao notar o primeiro fio de fumaça negra subindo, soube que estava perto. Deixou o cavalo, amarrando-o em uma árvore com uma longa corda, para que o animal pudesse pastar. Seguiu a pé de maneira cautelosa. Andou por muitos metros mata adentro até que avistou a borda e o cheiro de queimado atingiu as narinas. Tomou cuidado extra nesse trecho para não revelar sua posição. Continuou andando, muito devagar e silenciosamente até que alcançou as últimas árvores. Deu uma boa olhada nelas e escolheu uma. Conseguiu subir sem fazer estardalhaço e alcançou uma boa altura. Lá de cima, ele tomou seu lugar e observou o vilarejo abaixo.

Metade das casas estavam queimadas e haviam muitos corpos pelo chão. Ou era o que Tristan acreditava, até que um orc arrastou um dos corpos e ele começou a se debater. O orc acertou um soco na cabeça do homem que se debatia, o mesmo desfaleceu na hora e o orc o arrastou para uma das casas que não foram queimadas, a maior delas. Percebeu que outro orc fazia o mesmo com outra pessoa desacordada. Haviam sobreviventes e eles os estavam mantendo todos juntos.

Esperou um pouco mais no topo da árvore, observando. Com o silêncio que se fazia ao redor, era possível captar uma ou outra conversa dos orcs. Havia contado quatro deles e quase entregou sua posição quando ouviu o nome do irmão soar muito estranho na língua dos brutamontes. Precisou pensar rápido, pois a tarde já se adiantava.

A Chama de UrunirOnde histórias criam vida. Descubra agora