Capítulo 1 - Sumiço

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Yogratax ...

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A pequena Alynor olhava o bosque escuro à sua frente. O que aconteceria se ela pregasse uma peça, se escondendo? Desaparecer por alguns momentos poderia fazer Tristan receber uma lição! A mente infantil imaginava dezenas de desfechos interessantes para aquela hipótese, até que seus pensamentos foram interrompidos por seu próprio grito e, no mesmo instante, o menino, ator principal da peça que se desenvolvia na mente da garotinha, gargalhando, se pôs a correr.

Tarina, ao longe, observava seus dois filhos e a menina Alynor, sua futura nora, a brincar no gramado. Alynor perseguia um sorridente Tristan e Tarquin perseguia a menina com uma expressão preocupada, como era possível a uma criança de cinco anos.

No gramado as crianças se divertiam. Em verdade, Tristan se divertia. Havia colocado um punhado de minhocas sobre o pé de Alynor e, conhecendo o temperamento da garota, pôs-se a correr e ria por ela não o alcançar.

— Tem que correr mais rápido se quiser me pegar, porca pintada! — Gargalhou e correu ainda mais depressa.

Alynor foi reduzindo a velocidade até parar, com o rostinho sardento tingido de vermelho, devido a raiva e o esforço. Quando já se preparava para começar a gritar novamente, sentiu que alguém se aproximava e virou-se, bem a tempo de ver Tarquin a sorrir e encostar em seu braço.

— Alcancei! — gritou o menino, muito feliz.

Alynor passou o dorso da mão pelos olhos, para espantar as lágrimas que haviam se formado anteriormente e sorriu abertamente para Tarquin.

Ambos possuíam a mesma idade e se davam muitíssimo bem, diferente da relação de Alynor com Tristan.

A menina ruiva pegou o menino pela mão e voltaram saltitando para o palácio.

— Seria tão melhor se você se fosse meu prometido, Tarquin. — disse ela.

*

Urunir e Yogratax, dois reinos irmãos situados na área central da coligação. Eram aliados e desejavam que a aliança entre eles se tornasse ainda mais concreta, algo que perdurasse. Assim, um casamento entre os filhos mais velhos dos monarcas foi arranjado. O acordo foi assinado no início do verão e as bodas aconteceriam na primavera do ano seguinte, contudo, o destino não estava de acordo com o plano dos monarcas e no inverno rigoroso que se abateu naquele ano, o herdeiro de Yogratax veio a falecer devido a um terrível acidente durante uma caçada. O segundo filho, Tristan, era apenas um infante, muito longe da idade casadoura e a primogênita de Urunir precisava de um marido.

Após o período de luto, Ionna, a filha mais velha do rei Aylard Boccanera, selou matrimônio com Theodor Akhal, um dos netos do monarca da Pradaria dos Cascos. Ainda que não fosse o elo desejado, já era algo, pois, o rapaz era sobrinho da rainha Tarina, de Yogratax e havia se encantado com a jovenzinha, o que deixou a todos muito satisfeitos.

Contudo, não demorou para um novo acordo ser selado, o segundo filho, Tristan Devoranthis, agora herdeiro, se casaria com a segunda filha de Urunir, Alynor Boccanera. A menina era três anos mais jovem que o príncipe e, na época do acordo, mal havia saído dos cueiros.

Quando completou três anos foi apresentada ao seu prometido. Um jantar festivo foi oferecido para receber seus futuros sogros. O jovenzinho, com toda a educação que lhe havia sido oferecida até aquele momento de sua vida, cumprimentou os anfitriões e deu um olhar avaliativo em sua futura noiva. Com toda a sabedoria de seus seis anos desdenhou a menina sardenta e rechonchuda, preferindo ficar, sempre que podia, na companhia de outras crianças mais velhas e bem longe da pequena Alynor.

A Chama de UrunirWhere stories live. Discover now