59 | Jingle Bell Rock.

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MARGOT

Londres - Inglaterra.

— Qual o problema?

Passei as mãos no cabelo, dando uma volta pela calçada outra vez. Hacker estava parado, encarando-me com uma feição interrogativa acerca do meu momento de inquietação.

— Eu que vou conhecer sua família, e você quem está nervosa? — franzindo as sobrancelhas, ele cruzou os braços. — Por acaso está insegura quanto a mim, meu bem?

— Não! — arregalando os olhos, voltei até ele. — Não. Você é… Ótimo. Perfeito. É bonito, civilizado e sabe ser gentil. Não duvido de que minha família vai adorar sua imagem — gesticulei para seu corpo. —, ao todo. Seria difícil encontrar alguém que postaria tão bem do meu lado, especialmente quando tia Karen crucificaria minha alma se eu apresentasse um feio como novo membro da família.

Ele curvou a borda da boca num sorriso convencido, por hora grato aos elogios. Até que percebeu o quão superficial soaram, então franziu as sobrancelhas, se ofendendo.

— Mas… — suspirei, encarando a rua, as mãos na cintura. — Penso se não estou sendo irresponsável em perder tempo numa viagem tão fútil quando o Serviço de Inteligência está uma loucura e Cassandra ainda está evaporada e tantos ataques estranhos estão acontecendo e há tanto risco de estarmos trazendo perigo para minha família ao mudarmos de localização e…

— Respire um momento, papagaio. Por favor.

Ele gesticulou as mãos em sinal para que eu me acalmasse. Revirei os olhos, mas respirei fundo, pacificando meus nervos.

— Está tudo sob controle. — ele garantiu. — Me certifiquei disso. São apenas alguns dias, já não temos retorno dos ataques há uma semana. Cassandra silenciosa pode significar que está morta. Os restos mortais de seus torturadores estão sendo comidos pela terra há 4 dias. Tudo está andando no caminho certo. — ele se forçou a manter os olhos sobre mim, para simular sinceridade. — Aqui, somos somente civis comuns em um dia de Natal. Apenas… Aproveite sua família. Não é sempre que tem esse privilégio. O próximo ano será recheado de trabalho.

Encarei-o. Suas mãos estavam dentro do bolso de seu sobretudo preto, o cachecol cinza protegendo-o do frio cortante na região do pescoço, apesar da cabeça continuar desprotegida. Noite passada soube que caiu uma grande nevasca sobre a cidade, no entanto, nesta manhã apenas flocos de neve circulavam o ar em nossa volta, e aparentemente se seduziram pela frieza natural que emanava de Hacker, pois o loiro médio continha um pouco de neve branca pousada em suas mechas de cabelo. Assim como um pouco nos cílios também.

Estava dolorosamente lindo.

E mentiroso.

Mas se escolheu fingir que não estava agindo estranho desde a manhã de ontem, então assim eu permaneceria fingindo que não percebi.

Tem algo para me contar, meu bem?

Eu não seria injusta, quando os momentos decadentes são meus, ele não me pressionava para contá-lo. Então, continuaríamos seguindo conforme o tempo um do outro. Já o questionei três vezes se queria conversar sobre algo, e sei que Hacker não é um homem por quem as pessoas conseguem simplesmente insistir até convencê-lo. Nada funciona dessa forma com ele.

Desviei o olhar cauteloso suspeito, me aproximando de Heiko para pegá-lo no colo, pois já estava abrindo um buraco enorme na calçada com o tanto que se esfregava na neve. Era compreensível, ele era um cachorro do frio, e viver na Califórnia não era lá o ambiente mais confortável para sua raça, certamente a Europa seria seu habitat mais adaptável em primeiro lugar. Argh, estava crescendo demais, e consequentemente ficando pesado e ultrapassado da idade de ser segurado no colo.

MISSÃO IMPOSSÍVELOnde as histórias ganham vida. Descobre agora