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MARGOT

         Sombras cercavam todos os arredores como uma parede, não era como uma penumbra, era totalmente preto, impossível de enxergar um ponto sequer ou ter qualquer reflexo. Era uma grande muralha de escuridão, talvez uma caixa, eu não sabia distinguir, afinal, era tudo completamente preto.

Alguns poderiam dizer que era o fim de tudo aquilo que cerca os planetas, cometas, estrelas, buracos negros e galáxias, bem no fim do universo que muitos acreditam ser infinito, mas que na verdade, não é. Se alguém pudesse ultrapassar toda aquela imensidão brilhante que vimos quando olhamos para o céu, veria o nada.

Mas o que seria o nada?

Bom... Eu não sei.

Quando fechamos os olhos, enxergamos tudo completamente preto, isso não seria o nada, não é? É apenas a sombra de nossas pálpebras, então se abrissemos, voltaríamos a enxergar tudo ao nosso redor.

Mas e quanto aos deficientes visuais? Eles enxergam tudo preto?

Preto é uma cor, então como eles poderiam enxergar tudo preto, se eles não enxergam nada?

Seus olhos não funcionam, são como se não existissem ali, portanto, é impossível enxergarem algo. Como qualquer outro membro do nosso corpo, se tentarmos enxergar pelos nossos cotovelos, o que acontece? Nada, não é? É exatamente esta a função dos olhos quando param de funcionar, são como se não estivessem ali. Portanto, deficientes visuais não enxergam tudo preto, eles não enxergam nada.

Mas o nada deveria ser algo? Se formos jogados para fora do limite do universo, simplesmente sumiriamos?
Bom... Acredito que após o universo, exista o limbo.

Nada e ninguém nunca foi e nunca será capaz de chegar até ele, mas podemos imagina-lo da forma como quisermos, deixar nossas imaginações voarem, criando o que o limbo poderia ser para nós.

Para mim, é uma grande imensidão escura, preta, mas não é como se fosse alguma estrutura sólida capaz de segurar algo, é como se fosse... O nada.
Não há como segurar, não há como sentir, não há como alcançar, não há como tocar, não há como escutar algo e muito menos emitir, mesmo que grite, não haverá eco, e muito menos algum som. Não há como enxergar absolutamente nada, mesmo que ligue alguma luz, ela não refletirá, como se não existisse. Nem que você olhe para baixo e tente ver suas pernas e braços, não enxergará nada, como se seu corpo também nem mesmo existesse. Mesmo que você corra o mais rápido e o mais distante que pode, não conseguirá sentir alguma parede, nem o chão, nem o teto. Você está simplesmente... No limbo.

E era ali que eu parecia estar agora.

Pensei em gritar olá, mas não conseguia mover minha boca, na verdade, nem mesmo conseguia sentir minha garganta, não conseguia sentir... Nada, como se meu corpo estivesse anestesiado da cabeça aos pés, ou como se até mesmo não existisse.

Eu não conseguia respirar, mas não sentia falta de ar, eu não sentia meus pulmões.

Nem meus batimentos que certamente deveriam estar acelerados pela apreensão, ou minha pele arrepiada pelo medo, eu não os sentia, era incapaz de sentir algo, qualquer coisa.

Eu não... Existia.

Mas os sentimentos estavam ali, eu podia senti-los. O medo, o pavor, a confusão, angústia e apreensão, todos estavam presentes, de alguma forma.
Era como se eu fosse um sentimento, uma sombra, uma força, uma brisa, talvez... Um espírito.

Se meu corpo existisse naquele instante, eu certamente poderia dizer que estava sendo engolida pela imensidão escura, e com isso, poderia gritar em desespero e à procura de ajuda. Onde diabos eu estava? Quem eu era? O que aconteceu?

MISSÃO IMPOSSÍVELOnde as histórias ganham vida. Descobre agora