#49 - Só pode ter Um

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"Falam que quando se morre, deixa-se o corpo e se fica por perto, suspenso e dissolvendo. Como se a alma que se deteriorasse sem o corpo do mesmo modo que o corpo sem ela. Antes de sumir de vez, várias coisas podem acontecer. Processos mágicos podem prender a alma a um corpo artificial, com ou sem a memória anterior. Pode-se renascer em qualquer criatura que esteja surgindo por perto. Ou pode-se atrair a visita de uma coletora, que levará a alma ao reino de Mavihva, onde se vive para sempre nessa forma espiritual. Falam que as coletoras são esqueletos com crânio alongado, como se fossem esqueletos de espécies pensantes que não existem, mas talvez tenham existido algum dia e tenham sido recrutadas por Mavihva para esse importante trabalho."

Ild desfere dois novos ataques contra o gnomo. Um deles erra. Com o outro, o chicote não o fere, mas lhe tira o chapéu. Neriom observa sua cópia com estranheza.

– Minha cabeça não é desse jeito!

– Isso importa agora? – O monge responde. – Acho que entendi o que você quis dizer com "Perdição".

– É! É jogar azar na gente!

– Isso com certeza não combina comigo.

– All Thorn!? – O grito é de Haseid e todos olham rapidamente para o oganter.

A cabeça do paladino cai para um lado, enquanto o corpo cai para o outro, para o espanto de todos. Rottla sorri, limpando a espada na sua armadura. Depois olha para a arma pensativo e a joga de lado, descendo de Zaaret e indo em direção ao corpo do herói.

Haseid salta com a espada de cristal contra aquele All Thorn sombrio, mas ouve um grito do anão Malleck.

– Não o mate!

– Por que não, seu anão esquisito?

– Só o deixe longe do paladino.

Ele segue a sugestão e se coloca entre os dois corpos humanos. O original, sem vida, e o que não deveria existir e agora sorri vitorioso.

– O que pensa que está fazendo? – Rottla pergunta a Haseid. – Eu venci. Minha existência está assegurada.

– Como assim, traste?

– Somos cópias. Não existimos por mais do que três dias. Antes. Agora eu terei toda uma vida pela frente. – Ele coça o queixo e olha ao redor. – Quer saber? Danem-se vocês. Zaaret?

– Peraí, você não vai! – O patrulheiro se apressa para seguí-lo.

Antes que Rottla alcance sua antiga espada, uma flecha crava perto do seu pé e ele para. Abaixa-se para pegar a flecha, mas ela some. Levanta os olhos para aquela névoa branca de onde a flecha certamente veio, enquanto é imobilizado por Haseid.

– Ainda bem que parou. Ela ia atirar de novo.

– Vocês? – A voz estrondosa de Grugbar ecoa pelo salão. – Por que pararam de atirar? Matem todos agora!

Flechas voltam a chover sobre o campo de batalha. As duas montarias, já bastante feridas, despencam.

– Cuida dele? – Neriom pergunta a Ild, referindo-se ao outro gnomo, mas não espera a resposta e sai.

– Sharon, me empresta sua nuvem? – Ezelius vai em direção à colega, escondida em sua nuvem de fumaça.

– Entre. Só não me atrapalhe. – Ela responde antes de atirar mais uma flecha em um dos soldados da rainha. – Não tem uma bola de fogo pra meter lá naquela sala?

– Era, é mesmo! Um monte de soldado coladinho dentro de uma sala. Muito tentador! Estou sem magia.

– Que pena. – Ela responde e dispara mais uma flecha. – Nem as de cura?

– Nem as de cura.

Rottla e Haseid olham para a sala de onde vem as flechas, cada um com uma flecha cravada no corpo.

Sem tirar o pé das costas do sujeito, Haseid começa a falar e gesticular uma magia.

– Está fazendo o quê?

– Não é da sua conta. – Ele coça a nuca ao não ver efeito em seu intento e se concentra em quebrar a ponta da flecha em seu braço. Volta a olhar para a sala dos soldados, certo de que não aguenta mais flechas a essa altura.

Uma explosão de fogo na sala dos guardas surpreende todos. Seus corpos caem sem vida.

– O que foi isso? – Ezelius pergunta.

– Parece que foi o Neriom. – Sharon responde e o feiticeiro contorce o rosto em estranheza.

Mesmo com flechas cravadas, Wolfgar faz um ataque certeiro no gnomo translúcido, que é arremessado longe, deixando para trás a espada e o chapéu. Ainda em fúria, o anão olha para os lados procurando quem atacar.

Um brilho de prata banha o martelo de Malleck após uma oração dele para Roko. E ele salta novamente contra a rainha Grugbar. Duas marteladas estrondosas em suas pernas.

A rainha ergue o braço e grita irada, mas é atingida por outro martelo, que vem voando da mão de Wolfgar e acerta seu rosto.

Uma flecha lhe alcança o ombro, um relâmpago crava em seu peito e reverte para a forma de um cajado pontudo.

Enquanto a flecha mágica desaparece, o cajado volta para a mão de Ezelius e o martelo para a mão de Wolfgar, o corpo de pedra da rainha cai no chão, quebrando-se em vários pedaços. De dentro, algumas pedras um pouco diferente se soltam. Parecidas com as de fora, mas de colorações variadas. As pedras caem e deslizam um pouco no chão, até pararem.

– Acabou, não foi? – Neriom pergunta, enquanto Wolfgar volta ao seu tamanho natural e despenca.

– Ainda não, amiguinho gnomo. – Malleck gira lentamente o braço, mostrando a cena que restou do combate findo. – Nós dois temos muito trabalho a fazer.

As Sementes do Mundo InferiorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora