#28 - Aos Portões

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"A sexualidade dos elfos é bastante diferente das demais espécies. Quanto mais tempo passamos sem relação, maiores as chances de termos descendentes. Falam de pelo menos duzentos anos para que exista alguma chance mínima. Essa forma de funcionamento é muito importante para que os elfos não se sobreponham numericamente a todas as outras espécies. Por isso, muitos acreditam que os elfos sejam assexuados ou sem desejos. Parece que quanto mais breves as vidas, mais há necessidade de procriar. Biologicamente isso faz muito sentido para mim, mas independente de sentido, não deixa de ser estranho."


Por recomendação de All Thorn, relutantemente acatada pelos colegas, o grupo dá um tempo na bebida. Isso garantiu uma cara fechada do anão por várias horas. Haseid prometeu àquela cambiona que voltaria pra "continuar de onde paramos".

-- Lamento ter que deixá-la, minha bela, mas é pelo bem maior!

Devidamente alimentados, o grupo finalmente sai da Casa de Yoglinor em busca dos portões do castelo da rainha.

-- Não queria ir de novo pra essa guerra.

-- Você escolheu vir com a gente, Neriom.

-- Eu sei, mas deve ser perigoso.

-- Com certeza é.

-- Não vi aquele humano. você viu?

-- Que humano?

-- No bar! O das três espadas!

-- Não vi. Nem o guarda e algumas outras pessoas também, mas as tavernas são assim mesmo.

-- Esse lugar é mesmo estranho. -- Ild se aproxima dos dois.

-- Com certeza.

-- Uma ilha tropical dentro da terra? Nunca que eu ia imaginar que existiria algo assim! Como é possível?

-- Também não faço ideia.

A resposta estava na mente dos três: magia. Mas era uma resposta incompleta, que não explica muita coisa. O nível de poder necessário para aquele feito era insano, difícil até de ser calculado.

O grupo se aproximava do forte militar, que estava tomado, com combatentes civis à frente, liderados, ao que parecia, pela efana Atriviox. Ao seu lado, um oganter de uniforme incompleto, usando uma capa cinza brilhosa, era o único guarda no bando.

-- Resolvemos aqui. Podem levar algumas armas?

-- Não precisamos de armas.

-- Nossos amigos lagartos podem precisar.

-- Quem diria, hein? -- O guarda fala, com um sorriso no rosto. -- Que a elfa iria nos guiar mesmo numa guerra contra a rainha!

Era o mesmo guarda que falara com Sharon outra noite, ela bem reconhece. Antes que a elfa se recupere da confusão com aquelas palavras e fale qualquer coisa, a efana se apressa.

-- Gosto de briga, mas de briga pequena. Não me dou bem com brigas grandes demais. Se não for a elfa, que seja o paladino ou quem quiser. Alguém vai ter que liderar esse povo.

-- Não é o que gostaria. Se estivéssemos indo para a mesma batalha, eu poderia muito bem assumir este papel -- All Thorn fala, com pesar. -- Mas o nosso acordo não foi bem esse na taverna. Precisamos nos separar.

-- É verdade...

-- Eu tenho uma sugestão... -- O guarda fala.

-- Você lidera, Grumliz?

-- Pelo Velho, não! Quem sou eu para isso? A minha sugestão é Vizik.

-- Sim, o lagarto... Pode ser.

-- Ele tem respeito entre seu povo e transmite liderança. Acho que seria um bom nome.

-- Tudo bem, falaremos com ele. Vamos seguir.

Com as mãos cheias de armas e equipamentos, o grupo continua por um longo caminho, passando por ruas ainda não visitadas pela Sharon até então. O caminho leva até uma ponte, que parece demarcar também o limite da região habitada da ilha. Após a ponte há uma estrada, mas com vegetação baixa, sem nenhuma construção por perto.

É debaixo da ponte, do rio, que emergem dezenas de pessoas-lagarto. O guarda e a efana vão à frente conversar com eles. Entre os lagartos, Sharon reconhece dois. O que parece liderá-los estava no bar antes. E tem também a Grilda, enturmada no meio dos seus.

All Thorn vai para a segunda parte da rápida reunião. O equipamento é entregue aos lagartos. No fim, nem todo equipamento é usado e alguns são simplesmente jogados na beira do rio.

-- Assim que estiverem prontos, nós seguiremos -- O paladino comunica aos seus amigos -- Os portões ficam a cinco minutos daqui.

Sharon vai à frente estudar o terreno inimigo sem ser vista. O restante do grupo segue em ritmo mais moderado. Na metade do caminho, encontram a elfa voltando.

-- Eu vi os portões. Tem pelo menos 20 metros de altura. Na lateral dos portões, eu vi quatro besteiros. Na frente, tem dois agrupamentos de cerca de trinta soldados cada um. Cada um deles com um líder perceptivelmente mais forte no comando.

-- Vamos. A gente dá conta!

-- Espere. Perceba que a vegetação vai ficando mais alta a partir daqui. Lá está ainda maior. Eles podem ter mais força escondida.

-- Estaremos preparados para isso.

O grupo segue destemido. Para alguns, a sensação é de se passarem horas inteiras enquanto caminham, para outros é um estalar de dedos. Quando os portões imensos se mostram para os primeiros da comitiva, o som de uma corneta toma aquele lugar.

Neriom e Ild correm para as matas com motivações diferentes. Enquanto um quer apenas se esconder, o outro pretende achar um caminho mais seguro até perto dos portões.

Wolfgar grita em fúria, enquanto usa o poder de seu martelo para aumentar de tamanho. O líder dos lagartos muda para a forma de um urso, sendo seguido com gritos de entusiasmo enquanto avança em direção aos guardas da direita.

Atriviox entra nas matas para o outro lado, com cara de assustada, procurando combates menos caóticos. Do grupo que ficou, o clérigo oganter conjura uma armadura mágica e segue frente ao grupo da esquerda. O guarda aliado sorri, olhando as matas onde a efana entrou, e parte ao lado do clérigo, pronto pra batalha.

Grilda leva seu bando em apoio ao grupo da direita, logo atrás dos outros lagartos.

De repente, saem vários soldados da lateral esquerda. Do meio das árvores, eles vêm atacando os que estavam por ali. Sharon desvia de uma investida desengonçada e, prestes a disparar uma flecha, ouve o paladino.

-- Deixa a luta correr! O plano é distração! É nossa deixa! Me sigam! 

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