#12 - As Ruas do Porto

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"Ele diz ter nascido em uma pequena cidade do reino humano de Uzokir. Como um bom paladino, All Thorn tem aquela postura de líder e protetor dos demais. Tanto é assim que seu artefato de sangue não é uma arma e sim um escudo. Sua montaria é um incrível e imponente cavalo falante chamado Teraaz. Como se sabe, paladinos bem calejados desenvolvem seu próprio repertório de magias. Não chegam a ser magos, mas muitas vezes aprendem magias divinas importantes. O que considero mais interessante sobre seu artefato, o Escudo da União, é sua capacidade de compartilhar as magias com sua montaria. Quando All Thorn lança uma magia sobre si próprio, ela também age sobre o Teraaz. Quanto ao Teraaz, é um cavalo branco com cascos de fogo, enviado como um presente do próprio deus Suno para o nosso colega humano."

Algumas horas passaram e nada acontecia. Sharon apresentou o Açor Real e falou do seu equipamento para um Neriom admirado. O gnomo não tirava seu chapéu branco da cabeça. Ele o chamava de "tesouro". Não havia nada de mágico nele mas, como se sabe, gnomos costumam ter um chapéu, gorro ou qualquer coisa na cabeça alinhado com sua personalidade. Algo que não trocam, quase como um complemento de seu corpo.

– E agora a gente faz o quê?

– Calma, Neriom. Se quiser pode dormir um pouco.

– Eu estou feliz que deu certo, consigo dormir não.

– Eu entendo você. Espera aqui. – A elfa pede e se levanta. Vai até o quintal com o arco na mão e olha ao redor por um tempo.

– O que foi? Tem algo errado?

Sharon responde com a mão, fazendo um sinal para ele esperar. Então fecha a porta e passa rapidamente pela cozinha em direção à porta de entrada. Neriom cruza os braços e olha ao redor pensativo. Então decide saltar da cadeira e ir pra perto da amiga tentar entender o que está acontecendo. Ela entra, fechando a porta e quase esbarra no pequeno.

– O que está havendo?

– Nada, meu amiguinho. Vamos apenas sair daqui.

– É? Pra onde? – Ele lhe pergunta, mas a elfa já passou por ele em direção ao quarto. – O que você tem? Por que não para quieta?

Logo ela reaparece na sala, sem a armadura, vestida naquele traje verde que comprou na ilha e trazendo a mochila de viagem nas costas.

– Vai pra onde?

– Mude de roupa também. Vamos nos mudar daqui.

– Pra onde, Sharon!?

– Qualquer lugar onde sirvam uma boa bebida. Te espero lá fora.

O gnomo coça a nuca pensativo, então dá de ombros e vai fazer o que a amiga pediu. Pouco depois, eles caminham pelas ruas.

– Tem um canto mesmo por aqui?

– É claro. É uma cidade portuária. Estranha, mas portuária.

– Mas a gente nem andou nessas ruas!

– Lembra que eu saí mais cedo?

– Sharon, eu não gosto de Neriom escravo!

– Confia em mim, tá?

– Olha! Tem gente ali. – De fato havia uns dois encapuzados conversando na calçada, onde Neriom apontou.

– São bêbados. Não tem nada demais. Vamos indo.

– Ô Sharon! Os bêbados estão vindo pra cá.

Aqueles dois saíam da calçada e caminhavam mesmo em direção a eles. Quando Sharon e Neriom param, eles param também.

– Vamos lá! Passem pra cá o que tiverem.

– Vocês não querem fazer isso.

Sem se intimidar diante daqueles encapuzados com facas e adagas, Sharon puxa a espada curta que trouxera das minas. Neriom fecha os olhos e murmura alguma coisa. Aqueles dois bandidos trocam um olhar cúmplice e sorriem.

– Vamos, moça. Passe o dinheiro e essa arma aí. Vai ser o melhor pra todo mundo.

Sharon responde com uma balançada suave da espada, antes de falar.

– Venha tirar.

Neriom abre os olhos e pode ver um objeto voando perto da Sharon. Uma adaga arremessada que errou o alvo e foi parar longe. O outro bandido vinha com sua faca, mas ao errar o golpe teve seu braço cortado. Levou outro corte nas costas e caiu perto do gnomo. Não se mexia mais.

O assaltante que sobrou segurava outra adaga, prestes a arremessá-la. Seus olhos passearam da Sharon para o companheiro caído, para a rua que havia de lado. Desistindo, simplesmente sai correndo por aquele beco sem nem olhar pra trás.

– Isso aí, gigante! Botamos eles pra correr!

Sharon sorri em resposta à empolgação do amigo.

– Vamos. A taverna nos espera.

– Vamos mesmo! Temos que festejar! Ninguém pode com nós. Podem vir mais bandidos que a gente luta.

– A gente, Neriom? Você nem fez nada!

– Claro que fez! Eu usei uma magia para atrapalhar os bandidos.

– Sério? Nem notei.

– Ah, eles devem ter notado. E nunca mais se metem com nós de novo.

Eles caminham por algumas ruas mais.

– A gente devia ter levado o dinheiro deles, isso sim!

– É, talvez.

– Pra eles... Olha! Aquilo não é uma taverna?

– Taverna Orichalcum. Quer mesmo ir nessa?

– É, melhor não. Mas será que tem outra?

– Deve ter. Se não tiver, a gente volta pra essa mesmo.

– Combinado.

Finalmente eles param diante de um casarão de esquina, onde se vê varandas no segundo piso e portas abertas no primeiro.

– "A Casa de Yoglinor: hospedaria e bebidas". Acho que encontramos.

As Sementes do Mundo InferiorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora