#38 - Quantas Portas?

4 0 0
                                    

"Ele se recuperou mais rápido do que eu esperava. Deve ser efeito das águas mágicas do lago sagrado. Ild estava mesmo diferente, parecia outra pessoa. Uma das primeiras coisas que ele falou foi perguntando por Brann, seu irmão bruxo. eles não tinham tanta proximidade. São irmãos por parte de pai. Talvez a pergunta fosse no desejo de que o irmão pudesse receber a mesma bênção que ele próprio, livrando-se dos traços magmor e se tornando um elfo completo. Pelo que conheço do Brann, tenho muitas dúvidas se ele desejaria deixar esses traços de lado. É um sujeito que gosta de coisas sombrias. Se bem que esse gosto pode ter a ver justamente com o vínculo que ele tem com seu pai. Ild talvez tenha pensado além e esteja vendo esse processo purificatório como uma possível salvação para esse irmão seu."


-- Quase me acabo naquelas estátuas... -- Sharon fala baixo.

-- Quem manda ser gigante? -- Neriom lhe responde, rindo.

-- Gigante, é? -- Ezelius pergunta, com um sorriso estranho. -- Ei, Gigante, você procurou direito lá?

-- Claro. Só tinha uma pedra mesmo.

-- Isso não faz sentido. Você achou uma, Ild outra, mas eram quatro estátuas animadas! Era pra ter quatro pedrinhas daquelas.

-- Elas têm magia petrificada mesmo?

-- Provavelmente. Sinto uma energia como uma bola de fogo. Mas devia ter quatro. Acho que temos uma ladina entre nós....

Sharon sorri e balança a cabeça em negação. Não leva a sério, pois já está acostumada com as brincadeiras do feiticeiro. Ainda assim, concorda com ele em seu íntimo: era pra ter quatro.

Ela faz um sinal para esperarem e entra no novo corredor em busca de armadilhas. Isso toma um tempo e ao final ela conclui que é um corredor seguro. Ela então chama os colegas.

-- Que lugar grande! -- Neriom fala como quem quer puxar assunto. Ninguém lhe responde.

O corredor termina virando para a direita, entregando mais um enorme corredor, esse cheio de portas.

-- Certo... Vamos ter que vasculhar tudo? -- O gnomo pergunta, preocupado.

-- Sim, minimamente. -- A elfa lhe responde.

-- E isso quer dizer o quê?

Ao invés de responder, ela vai até a primeira porta e começa a investigar. Escuta, mede distâncias, busca frestas e botões na porta e ao redor dela. Toca a maçaneta com pequenos objetos antes de pegar e tentar abrir.

Diferente do corredor, a porta revela um quarto sujo e empoeirado, com móveis velhos jogados de qualquer jeito.

-- Parece um pequeno depósito de inutilidades. -- All Thorn comenta, observando por um momento.

-- Eu digo o que é inutilidade. -- Ezelius fala. -- Essa encenação toda pra abrir uma porta! Vai fazer isso com todas as portas, Sharon? Eles vão morrer de velhice e a gente de tédio!

Enquanto Ild dá uma volta pelo quarto buscando qualquer coisa útil, a elfa sai e vai investigar outra porta. All Thorn sai também, com Neriom e Teraaz, e adota uma postura de vigia enquanto a colega faz o seu trabalho.

Após um tempo, Ild aparece com Ezelius.

-- Tinha nada importante lá.

-- Sério?! -- Ezelius pergunta, com deboche.

-- Claro, você estava comigo, não?

O feiticeiro, impaciente, dá de ombros e se afasta um pouco do grupo.

-- Pronto. Aberta. -- Sharon anuncia e eles vão até o cômodo.

Dessa vez era um quarto totalmente vazio. Tinha uma fina camada de poeira e nada mais. Nem móveis. Após um suspiro, All Thorn diz:

-- Ele tem razão. Não podemos perder esse tempo para todas essas portas. O que estamos procurando afinal de contas?

-- Algo que ajude na nossa missão.

-- ...Ou a escadaria pra cima -- Ild complementa.

-- ... Ou uma sala estranha daquela, que sobe sozinha. -- Neriom ajuda também.

-- Faz sentido, mas são muitas portas pra gente checar desse jeito, de uma em uma.

-- E o que você sugere?

-- Podemos arrombá-las! Deve destruir as armadilhas.

-- Sim, destrói. Só que algumas explodem quando isso acontece.

-- E o que a madame sugere então?

-- A gente podia ir direto. -- Neriom responde por ela -- E deixar essas portas todas pra lá.

-- Gostei dessa ideia! -- Ezelius fala, empolgado.

-- Mas, se a escada estiver numa sala?

-- Se no fim do corredor não tiver nada, a gente tenta as portas, ué! -- Ezelius conclui.

-- Enquanto vocês resolvem, vou abrir outra porta. -- Sharon anuncia e se afasta para cumprir com o que disse.

-- Quantas portas ainda deve ter? -- All Thorn pergunta.

-- Olha... Por alto... -- Ezelius franze a testa enquanto observa -- Eu diria que deve ter... Pelo menos... Um bocado! Vamos embora! Qualquer coisa a gente volta e tenta as portas de novo, se for o jeito mesmo.

-- E se houver aposentos de inimigos por aqui? Podemos ser emboscados!

-- Não acredito que o paladino tá com medo. A gente dá conta!

-- Lembre-se que estamos em grupo menor agora.

-- Justamente! Os três estão lá em cima e a gente perdendo tempo aqui ao invés de ir se juntar com eles!

-- Tudo bem, você me convenceu.

Sharon abre a porta e eles encontra mais um quarto vazio.

-- Chega de porta por enquanto, Sharon. Vamos?

-- Tudo bem, mas vocês sabem que também pode ter armadilhas nesse corredor...

-- Ai que saco... -- Ezelius lamenta. -- Quem inventou essa porcaria de armadilha? Coisa mais chata! Quer matar, mata logo!

Alheio às palavras do feiticeiro, All Thorn faz um gesto rápido com a cabeça e a elfa reinicia sua investigação em busca de novas armadilhas, para encontrá-las antes que elas encontrem alguém do grupo. 

As Sementes do Mundo InferiorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora