#14 - Reconhecidos

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"Magos dedicam um longo tempo ao estudo das energias arcanas. Eu própria venho estudando no tempo que posso a partir deste grimório que uso como diário e de material a que eventualmente eu tenha acesso. Existem energias diferentes, mas mesmo quando se fala apenas deste tipo de magia, de mago, o estudo não é o único caminho. Há os que buscam o atalho do pacto com algum deus menor, o que pode ser muito arriscado. Basta ver o que aconteceu com os bruxos de Vorgacnaram. Outro caminho, bem mais tranquilo, é o dos feiticeiros. Eles já nascem com o dom. Ao invés de estudo, precisam de prática e se tornam tão eficientes quanto magos. Feiticeiros, porém, são privilegiados por já nascerem assim. Ezelius é um feiticeiro. Veio de uma ilha distante que ele não sabe dizer bem onde fica. Assim como eu, ele não sabe nada sobre seus pais verdadeiros. Talvez isso lhe dê uma certa raiva interna e por isso ele goste tanto de destruir."


Um grupo de elfos das cavernas é abordado na praia. Eles param e saudam com desconfiança aquela elfa da superfície.

– Bom dia. Vi que vocês têm um navio. Estou precisando sair desta ilha. Poderíamos chegar a um acordo que seja bom para todos.

Duas elfas se olham inexpressivas e então seguem o casal do grupo, que já ia adiante, ignorando Sharon completamente.

Cansada de procurar uma solução, ela resolve voltar para a hospedaria. Talvez tenha melhor sorte na parte da tarde.

– Sharon! Aqui! – Seu amigo gnomo lhe chama assim que ela entra no bar. Ele está em uma mesa com um povo estranho. O religioso de ontem, o goblin e a efana, e uma mulher-lagarto. – Senta aqui com a gente, a conversa está boa!

Sharon se senta desconfiada e pede uma caneca de blugon para ela.

– Como eu tava dizendo – Neriom conversa animado – a Grilda não falava nada, acho que era muda, o que é estranho. Não deve ter perdido a língua senão nascia outra. Lagartos nasce de novo até uma perna!

O grupo ri e o goblin entra na conversa.

– A menos que tenha algo que impeça. Se ela foi muito queimada, pode ser que não nasça outra. Alguém pode ter arrancado e depois colocado uma tocha, ha ha ha!

– Neriom?

– Oi, ah sim! Essa é minha amiga gigante que falei. – Todos gargalham, só a Sharon fica desconfortável com a situação. – Eles são... Kezi – o goblin confirma com a cabeça --, Vizik – a mulher-lagarto acena também – e esses dois que tem nome difícil.

– Vocês podem nos dar licença? – Sharon arrasta o gnomo para outra mesa. – O que você pensa que está fazendo?

– Festejando.

– Você falou da gente pra eles!

– Foi, mas eles são legais.

– Neriom, podemos estar muito encrencados! Como é que você expõe a gente desse jeito?

– Não se preocupa! A gente aproveita a fama! – Ele aponta para um mural na parede e Sharon vai até lá apressada.

"Pagamos boa recompensa pela captura de dois perigosos ladrões. Um elfo e um gnomo de chapéu branco. Amox, chefe da guarda do Porto do Rei Pirata."

– Neriom, você sabe o que isso significa?

– Relaxa, você está muito nervosa.

Ela olha melhor o ambiente. Um casal de ogânteres bebe calmamente em um canto. Em outra mesa, um humano com espadas e armadura estranha, provavelmente de Yoshidan, oberva tudo.

Um guarda de repente entra no bar. A elfa congela, tensa, e vê o sujeito seguir por um caminho que passa perto da sua mesa.

– Relaxa. – O guarda fala para ela ao passar. – Sei quem vocês são, mas se meus superiores não virem vocês aqui, eu também não vi.

– Grunzinho! – Aquela oganter entediada da noite anterior se levanta e recebe o guarda com um beijo demorado. Eles se sentam e ele começa a beber com ela.

– O que está acontecendo, Neriom?

– Oi, eu sou Atriviox. --Sharon se vira e vê aquela efana que estava na mesa com Neriom e os outros se sentando agora perto dela. – As pessoas já estão sabendo do feito de vocês. Os guardas estão procurando.

– Não quero Neriom escravo de novo.

– Não, vocês certamente não seriam escravizados, seriam mortos. – Ela fala como se fosse a coisa mais sem importância do mundo. – Mas o que vocês fizeram foi incrível. O gnomo disse que vocês fugiram da mina e ainda foram lá na torre do guarda matar o chefe e pegar suas coisas de volta.

– Nós... – Ela ia falar que não haviam matado esse tal chefe, mas muda de ideia e decide esperar o fim da fala.

– Ninguém aqui gosta de Grugbar, fique tranquila.

– Era o nome do chefe da guarda?

– Não, é a rainha atual! Onde você esteve nos últimos anos? Escravizada numa mina, por acaso? Ha ha ha ha ha !

– Certo. Agora me lembro. Aquele bando que nos atacou falou alguma coisa sobre ela.

– Vocês foram atacados?

– Não nós dois. Meu grupo de aventureiros. Um feiticeiro chamado Ic'tlun foi quem me trouxe para essa ilha e me vendeu como escrava.

– Entendi. O maldito feiticeiro! Pois é, nós queremos derrubá-la do trono, se é que você me entende. E você vai ajudar a gente com isso, não vai?

Neriom olha ansioso para a amiga, esperando também uma resposta.

– Por mais que eu queira que eles paguem pelo que fizeram, tem uma coisa que eu quero ainda mais: sair desse lugar desgraçado, encontrar meu grupo e seguir com o cumprimento da missão que nós tínhamos.

– Pois eu acho que você está errada! – a efana sobe na cadeira, com uma expressão ainda mais severa nas linhas retas do seu rosto – Você não sabe o que está fazendo. Seu grupo... Seu grupo? Se eles se importassem mesmo com você, já tinham vindo te tirar daqui. Você precisa de outro grupo! Quando mudar de ideia, venha falar com a gente!

Ela pula da cadeira e volta para a mesa anterior, resmungando qualquer coisa que não dá pra entender.

– Nervosinha ela, né Sharon? Mas eles falaram que tem alguns guardas do lado deles, tem umas vilas de lagartos escondidas pela ilha. Precisam só de um líder pra juntar tudo junto.

– Não sou eu. – Sharon diz, com um sorriso sem graça, antes de beber mais um gole de blugon.

As Sementes do Mundo InferiorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora