#42 - O Bem Maior

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"A primeira vez foi, na verdade, em Migluik. Seu nome era Atlas e a gente se conheceu muito antes de Thorul me encontrar. Atlas não era elfo, nem anão. Parecia humano, mas tinha uma coloração um tanto incomum, meio verde lustroso. Não vi peles assim em ninguém, a não ser em alguns ogânteres expostos ao Sol. A pele de Atlas era assim o tempo todo. Seus pés eram estranhos também. Pareciam patas, mas suas pernas não eram peludas ou animalescas. Seu beijo era quente, mas tinha um gosto ligeiramente metálico. Passamos várias noites juntos. Acho que eu me sentia especial por estar com alguém tão diferente de tudo. Ele era bardo e trapaceiro. Um dia as discussões não tiveram volta e a gente se afastou. Até hoje ainda não sei o quê exatamente ele era."

-- Essa é mesmo uma senhora águia! -- Wolfgar comenta, agarrado às penas nas costas do animal. -- Mas já estou me cansando. A gente não está voando há tempo demais não?

-- O anão está certo. Eu achei que vir na águia tomaria menos tempo. -- Takeshi opina, expressando ansiedade.

-- Calma aí vocês dois! Estamos tentando! Vocês viram alguma janela aberta? Alguma varanda? Qualquer canto por onde pudéssemos entrar? Não viram! Então vamos continuar procurando.

-- A águia deve estar cansada também. A qualquer momento, ela despenca com a gente.

-- Calma, Wolfgar! Se eu soubesse que ia ter tanta reclamação, eu tinha vindo sozinho.

-- Essa rainha é muito paranoica. -- Takeshi reclama. -- Como uma pessoa constrói um castelo desse tamanho e não deixa uma janela aberta, uma varanda, uma passagem de ar, nada!? Lá dentro deve ser horrível. Deve ter cheiro de catacumba.

-- Cada um com seus problemas, né não? O nosso é entrar.

-- Mas é estranho isso. Vocês não acham?

-- Meu amigo, eu venho de um lugar onde nem mansão tem. Castelo é uma coisa estranha pra quem vem do Sul, só por ser castelo mesmo. Tem muito castelo lá em Yoshidan?

-- Não muito, mas as pessoas gostam de ventilação. Fazer um castelo no meio dessa floresta toda e deixar lacrado é um desperdício.

-- Ha! Agora entendo o que quer dizer. Entendo e concordo.

-- Ela deve estar acostumada com caverna. -- Wolfgar fala. -- Tem canto que não passa vento nunca e tudo bem.

-- Continuo achando um desperdício.

-- Onde será que os outros estão?

-- Não faço a mínima.

-- Pô, Haseid, você podia ter usado seu poder mágico de caçador pra declarar alguém do grupo como alvo, aí a gente saberia pelo menos em que direção eles estavam.

-- É, talvez funcionasse.

-- E a Sharon pode fazer isso também graças ao arco. Vocês deviam ter feito isso! Os dois grupos saberiam um onde o outro está. Por que vocês não pensam no que dá pra fazer com suas habilidades? Sobra tudo pra mim!

-- É, mas você só teve essa ideia agora.

-- Isso é verdade. Mas esse seu plano, hein! Eu devia pular daqui e ir atrás do grupo.

Takeshi sorri daquelas palavras, mas se espanta ao perceber que os outros dois estão sérios.

-- É mesmo?! Dessa altura toda?!

-- É, ele tem o martelinho dele e não ia se machucar se fizesse isso. Quer ir, vá! Vamos ver quem chega primeiro!

-- Vamos por aqui mesmo então, mas adianta o plano! Vai fazer o quê agora?

-- Não temos muita opção. -- Takeshi responde por Haseid. -- Concordo que o plano tem que andar ou então a gente volta pelo caminho dos seus amigos.

-- Isso não.

-- Então teremos que quebrar um canto e forçar a entrada.

-- Claro! Vamos pra uma abóbada de vidro! -- Haseid fala, animado, enquanto a águia curva para a direita com as asas travadas. -- Aquela ali é ótima.

-- Por que aquela?

-- É um espaço enorme! O vidro não deve aguentar uma pancada.

-- Tem armação metálica.

-- E daí? Além do mais, ali devia ser um pátio aberto. Vamos aproveitar pra corrigir a arquitetura.

-- Tudo bem, vamos tentar quebrar ali. -- Wolfgar fala, pegando seu martelo. -- Acho que com alguns golpes...

É quando ele se dá conta de que a águia está indo para a cúpula muito rápido. Começou um mergulho. Ele rapidamente ajeita o martelo e se segura nas penas.

-- Ei, o que está fazendo?!

-- Mandei a águia se jogar contra o vidro.

-- Você está louco?! -- Takeshi pergunta, aos gritos.

-- Eu não devia mesmo ter vindo...

-- Ela vai se arrebentar toda!

-- É pelo bem maior!

-- E a gente também!

-- É...

Após analisar a porta, Sharon conclui que não oferece perigo e a abre. Eles veem um corredor com duas portas mais: uma no final e outra na metade.

-- Vamos em qual?

-- A do final! -- Ezelius responde. -- Sempre a do final pra gente chegar logo.

O grupo concorda e segue até lá. A porta também não parecia ter armadilhas. Sharon a abre e eles encontram uma sala exatamente igual à sala por onde subiram.

-- Voltamos? -- Neriom pergunta.

Enquanto pensam no assunto, eles ouvem o barulho de uma forte pancada.

-- Vocês ouviram? -- Neriom pergunta.

-- Parece que caiu um pedaço do castelo. -- Ild responde, falando baixo.

-- Acho que foi perto. 

As Sementes do Mundo InferiorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora