#23 - Garrafas e Canções

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"Conheço bastante sobre espécies e a Natureza como um todo. Eu pesquiso e já andei por muitas paisagens. Outros que também conhecem muito nesse campo são Ild e Haseid. Haseid é um patrulheiro e está na sua natureza lidar com animais e plantas. Quanto a Ild, ele também tem seu próprio livro em criação. Enquanto registro descobertas, ações e acontecimentos no meu grimório, Ild mantém um interessante bestiário de criaturas exóticas. Ele já recebeu o livro de outro pesquisador. Claro, ele transcreveu para um livro vazio. Vazio e maior, com páginas em branco que ele pudesse preencher com suas próprias descobertas. Wolfgar também tem suas próprias pesquisas, embora não leia ou escreva com tanta frequência. Seu objeto de estudo é a metalurgia, a forja, a cutelaria... Enfim, a criação de armas e armaduras de metal. Esperado de um anão."


Uma canção de pirata ecoa por aquela embarcação. Uma canção divertida que fala sobre o encontro de ilhas-minas ricas em metais diferentes:

Chegando na ilha do ouro
Fui mordido por um besouro
Tive que partir na carreira
Para eu não morrer por besteira
Hei! Ho! Vamos navegar
Buscando os tesouros do mar!

Wolfgar e Haseid cantam empolgados. E tem a ilha de prata, a de pérola, a de barro...

Na ilha de orichalcum
Vamos pro castelo chato
Cortar a cabeça de alguém
Da rainha, veja bem!
Vamos acabar com a Grugbar
Buscando os tesouros do mar!

-- Vocês inventaram essa parte, não foi? -- Sharon pergunta.

-- Foi, eu inventei. -- O anão bate no peito, orgulhoso. -- Ficou bom?

-- Não sei muito disso, mas não gostei. Pareceu desencontrado.

-- Deixa de coisa! O que faltou foi só um pouco de cerveja!

-- Isso foi.

-- E o seu amigo novo? Onde anda?

-- Está com All Thorn. Devem estar debatendo religião ou sei lá o quê.

-- Ah, o gnomo é clérigo!?

-- É sim.

-- Bem que estávamos precisando de um clérigo no grupo.

Sharon confirma com a cabeça e sai de perto dos dois. Vai até o monge, que tem ajudado a conduzir aquela embarcação.

-- As bagas ainda estão com você?

-- Estão sim. Estão na luva. -- Ild responde, olhando a amiga.

-- Tantos meses e não plantamos nenhuma das quatro.

-- Não podemos controlar tudo. As coisas acontecem a seu tempo.

-- Você está certo. -- A elfa gira a mochila e vasculha alguma coisa nela. Enfim, encontra e entrega ao monge. -- Toma, gostaria que guardasse isso também.

Ele recebe a garrafa e observa com cuidado.

-- É uma garrafa mágica. Pra que serve?

-- Tudo a seu tempo. -- Sharon dá uma piscada.

-- Sharon... Vai dizer mesmo não?

-- Seria mais dramático você descobrir quando ela fosse útil, mas não vou deixar você na curiosidade: ela serve para guardar navios.

-- Sério?

-- Claro! Vai ser bem útil pra guardar esse aqui.

-- Com certeza!

-- A propósito... Que navio é esse? Como conseguiram?

-- Foi em uma cidade abandonada a leste de Xenon. Nós cumprimos uma missão por lá e, por acaso, encontramos esse navio soterrado, sob muita pedra e areia.

-- Hmmm... Ele é mágico.

-- É sim. Eu desconfiei disso desde o princípio. Como ele poderia resistir a tanto peso e por tanto tempo, soterrado? Só não sei bem o que ele pode fazer de especial. Talvez você possa me ajudar nesse estudo depois.

-- Claro. Ajudo sim.

Com um movimento rápido de mãos, o monge faz a garrafa mágica desaparecer, como se ele fosse um mágico de circo. Não é à toa que "Mãos de Mágico" seja justamente o nome daquele par de luvas, que são o artefato de sangue de Ild.

De volta à companhia dos dois marinheiros, a elfa escuta uma outra canção deles, falando sobre um navio que deslizava em um mar de areia em busca das lágrimas de Vihva, artefatos lendários que dizem terem surgido quando Aero lhe traiu. Ou quando a rasgou em duas, criando Mavihva. Ou quando ele próprio foi morto para pagar pelos seus crimes.

-- Wolfgar! Tenho que te mostrar uma coisa.

-- O quê? -- O anão vai até a elfa, empolgado.

-- Já ouviu falar de Blugon?

-- Essa palavra não é estranha.

-- Prova! -- Ela estende o cantil e o anão o pega animado.

Toma um gole grande e olha para a elfa. Sua expressão começa a mudar para irritação. Finalmente ele cospe tudo o que consegue fora do navio.

-- Quer me matar, elfa?! Isso aqui é horrível!

-- Seu paladar pra bebida forte deve ter estragado sua língua.

-- Bebe então!

Sharon toma o cantil de volta e dá um bom gole naquela bebida. Não demora muito, está cuspindo também para fora do navio, sentindo seu estômago revirar e saltitar em protesto àquele gosto apodrecido.

-- Não falei? -- O anão a encara, ainda com a testa franzida. Passa algum tempo, ele relaxa e começa a gargalhar. -- Se você tivesse a saúde de um elfo, não ia mais se levantar hoje! Negócio ruim da desgraça!

-- Não entendo. Não era pra estragar tão rápido. Essa coisa tinha muito álcool!

-- Se preocupa não, amiga, a gente desconta na próxima oportunidade. Precisamos de uma taverna mais do que nunca!

-- Precisamos. Vamos juntar o grupo. Os navios já estão próximos demais. O embate se dará a qualquer minuto.

-- Falou e disse! 

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