#31 - O Desacordado

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"Há vários lugares em Galdentur onde nunca estive. Toda Galdentur Sul, a terra de Haseid, por exemplo. Ainda pretendo visitar o Mangue Verde para conhecer. É o único reino dos lagartos de que se tem notícia. Povos lagartos costumam viver em qualquer floresta mundo afora, mas lá eles tem um rei lagarto. Falam que há um palácio de cerâmica onde a família real vive, o que deve ser bem interessante de se ver. As pessoas preferem evitar o Mangue Verde quando viajam, preferindo passar pelo Bosque da Lua, o que, convenhamos, realmente é bem mais tranquilo. Foi o caminho que tomamos quando viajamos para Campos Verdes. Do Bosque da Lua até nosso destino tinha apenas o enorme Corredor Comercial. Não passamos por Jorneik. Outro reino interessante pra conhecer deve ser o reino humano de Yoshidan. Flamdarir certamente deve conhecer todos esses lugares e muitos outros mais."


-- O que aconteceu? -- All Thorn pergunta, mas ao se aproximar já consegue ver: há um grande rio lá na frente. Prudentemente, os batedores estão afastados da margem o suficiente para não serem eventualmente vistos.

-- Olha! Um rio! -- Neriom grita quando se aproxima, sobre Teraaz. -- Como a gente faz pra atravessar? Água é perigoso!

-- Por isso esperamos vocês. Precisamos decidir como faremos.

-- Você não poderia nos fazer voar? -- Ild pergunta a Ezelius.

-- Não posso esgotar meu poder mágico por qualquer besteira. Podemos precisar dele depois! -- ele responde, com firmeza, depois fala baixinho, quase que apenas pra si mesmo. -- E é mais divertido usá-lo pra queimar e destruir coisas.

-- Ele está certo. Eu tenho umas magias que posso usar. Respirar na água ou atrair algum animal aquático que nos ajude. O que acham, meus caros?

-- Podemos usar o nosso navio, ué! -- Wolfgar conclui.

-- Será? -- Sharon questiona, insegura. -- E se ele encalhar aqui? Não sabemos qual a profundidade do rio.

-- Mas você e Haseid têm como verificar isso. -- O anão dá um sorriso e uma piscada.

-- É verdade. Vamos checar.

Wolfgar falava do conhecimento que os dois possuem sobre a Natureza. Se o rio for natural, eles conseguem perceber mais detalhes a seu respeito apenas estudando suas margens, seu fluxo e outras informações coletáveis. Sem contar o fato de a Sharon ter a seu favor o Açor Real, um arco mágico capaz de fazer maravilhas à visão de quem o manuseia.

Os batedores vão até o rio, enquanto os outros esperam o resultado onde estavam.

-- Bom, não estou gostando desse rio. -- Haseid comenta após olhar um pouco. Parece muito raso aqui, mas fica muito fundo de repente. Estou achando que essa terra acaba cedo e o rio tem paredes de pedra lá pra baixo... Sharon?

-- Oi. -- A elfa desvia de onde estava olhando para encarar o companheiro.

-- Está tudo bem?

-- Sim, está. Com a gente, pelo menos. -- Ela se vira e começa a andar pela margem.

-- O que houve? Está indo pra onde? -- Sem resposta, Haseid simplesmente a segue e para ao lado dela, quando ela para também.

Diante deles está um corpo caído, escondido por uma grama que o cobre, mas não conseguiu escondê-lo do Açor Real em um golpe de sorte. O corpo tem uma estranha armadura de Yoshidan.

-- Olha! Quem é esse? Está morto?

-- Espero que não. -- Sharon se abaixa perto dele. -- Ele se chama Takeshi.

-- Peraí, você conhece mesmo ele?

-- Está respirando...

De repente o braço da elfa é agarrado com força, pegando-a de surpresa.

-- Você!? -- O humano grita, com os olhos arregalados.

-- Acho que sou eu sim. Pode me soltar agora?

Ele obedece e se levanta.

-- O que faz aqui? -- Takeshi pergunta. -- você não estava indo embora?

-- Ele também quer enfrentar a rainha. -- A elfa diz para o colega.

-- Ah, entendi. então você se chama Takeshi. Não tira essa armadura nem para dormir, deve ser bem confortável!

-- Ei! Eu falei com você, elfa!

Sharon suspira fundo e responde.

-- Estou de volta com meu grupo. Estamos indo derrotar a rainha. Você vem ou não?

-- Eu... Claro!

Ô, meu amigo! Pra que que você anda com três espadas? É um arremessador de espadas ou colecionador?

-- Você não é daqui, oganter.

-- Não mesmo! Me diz uma coisa: como foi que tu entrou? Deu o maior trabalho pra gente chegar aqui.

-- Eu tenho meus truques.

-- Sei... -- Haseid fala, arrastando a sílaba e balançando a cabeça lentamente, com os braços cruzados.

-- O que vocês estão fazendo?

-- Analisando o rio.

-- E o que tem pra analisar? É um rio, cheio de água!

-- Olha, meu caro humano, como pretendia ir até o castelo de Grugbar?

-- Usando a ponte, ué!

-- Que ponte? Onde fica?

-- Não sei, mas tem que ter uma ponte! Muitos guardas vão e vem do castelo.

-- Isso é verdade, mas usar uma ponte não facilitaria de eles descobrirem você?

-- Talvez. O que você sugere então?

-- Por mim,eu invocava um animal aquático pra nos ajudar.

-- Parece uma boa ideia. Sabe o que não parece uma boa ideia? Vocês dois enfrentarem a rainha sozinhos.

Antes que Haseid responda, Sharon diz:

-- Olha quem fala... Você ia só, em uma pessoa!

-- Tá certo. Pelo menos agora somos três.

-- Três não. -- Haseid diz, apontando teatralmente paras as árvores, onde se pode ver All Thorn e Ild à frente e mais outros atrás.

-- Agora sim, senti firmeza.

-- Não. -- Sharon passa pelos dois em direção ao paladino. -- Definitivamente não é boa ideia botar o navio aqui. Precisamos de outro plano. 

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