#15 - A Mesa da Elfa

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"Pessoas estranhas tem muito em comum, é um ditado que ouvi certa vez. Sabe-se como anões costumam preferir ficar o mais perto possível do chão. De preferência dentro. Nosso companheiro Wolfgar nasceu em Minas Leste, mas foi criado no mar, trabalhando como segurança, protegendo caravanas de saques. Ele gostava dessa vida e às vezes fala, quando está bêbado, em se aposentar comprando um barco e vivendo no mar os seus últimos dias. Apesar de seu gosto por navegar, excêntrico para um anão, no mais ele é um anão bem comum. Daqueles que gostam de uma boa briga, de uma boa cerveja e que são absolutamente leais aos que considera amigos. Antes de se aposentar, ele ainda sonha dar uma passada pelas minas do norte em busca de seu pai desaparecido."

A "mesa da elfa" chamava atenção àquela noite, mais do que a Sharon gostaria. Separada da folia da outra mesa, Sharon bebia e olhava o movimento, fazendo um retrospecto mental e pensando em como faria para sair daquele lugar. Só que não ficava sozinha.

A efana esquentada veio falar com ela de novo, o clérigo e até algumas pessoas novas no bar. Neriom vinha de vez em quando, dividido entre a empolgação com as novas amizades e o remorso por deixá-la sozinha.

– Foi vingança? – Sharon levanta o olhar e vê o soldado falando com ela. Aquele que está por aí desde cedo. – O motivo de vocês terem entrado lá e matado o antigo chefe da guarda...

– Nós não o matamos.

– Já disse pra relaxar. Não estou te interrogando. Eu nem te vi por aqui! – Ele pisca um olho e empurra para perto da elfa uma das duas canecas que trazia.

– Estou falando a verdade.

– Tudo bem. E pra que entrou lá então?

– Eu acho que você não precisa saber.

– Estou tentando ser legal, elfa.

– Que bom! Esta sou eu sendo legal!

– Ha ha ha ha ha! Está bem, vou deixar você em paz então. Pensa aí na ideia dessa turma! A gente sonha com uma ilha diferente há muito tempo.

– Eu não vou impedir vocês de sonhar.

O soldado se levanta após a resposta e só então repara que a elfa não havia tocado na caneca.

– Não vai beber?

– Se você não se incomodar...

– Claro, eu entendo. Estou tentando ser seu amigo, vestindo a roupa do inimigo. É prudente mesmo não confiar. – Pegando de volta a segunda caneca, dá um gole e caminha para a mesa onde estava antes.

Sharon pega seu grimório e começa a anotar informações sobre a ilha.

– Boa noite?

Ela ergue o olhar mais uma vez e vê outro oganter. Esse vestido de capitão de navio.

– Você é a famosa elfa que invadiu a guarda da cidade, não é?

Sharon suspira e fecha o grimório, lançando um olhar de raiva na direção de Neriom. Então, responde.

– Sim, por quê?

– Eu soube que vocês querem deixar esta ilha. – Ele fala em voz baixa. – Eu posso ajudar vocês com isso, se vocês me ajudarem também.

Aquelas palavras fazem Sharon se interessar e até mudar sua postura.

– Podemos ter uma conversa particular? Assim acertamos os detalhes.

Sharon nem espera. Levanta-se e fala.

– Me acompanhe.

E segue em direção ao quarto.

– Eu tenho um navio que foi recolhido por capricho da rainha.

– Eu vi você.

– Como?

– Quando levaram seu navio. Eu estava por perto e presenciei tudo.

– Então você já deve imaginar o que eu quero: que você pegue meu navio de volta. Em pagamento eu levo vocês dois e deixo onde quiserem. Qualquer lugar onde o meu navio consiga ir.

– Eles prenderam o navio em uma garrafa.

– Isso mesmo. A garrafa deve estar lá no forte da guarda.

– E você quer que eu volte lá um dia depois de eu ter quase sido pega?

– Você entrou e saiu. Conhece como é o lugar. Quem melhor do que você pra conseguir isso? Além do mais, isso abrirá caminho pra vocês deixarem o Porto do Rei Pirata de uma vez.

– Precisamos mesmo sair daqui. – Sharon anda de um lado para o outro, pensativa. – Tudo bem. Quando você pode sair da ilha, tendo o navio?

– Só preciso descansar um pouco. No amanhecer já podemos partir.

– Vejamos... – Sharon caminha até a janela e observa a noite. – Eu consigo sair por aqui.

– Você parece ter um plano.

– Você pode ficar aqui no meu quarto?

– Acho que sim.

– Você fica aqui e eu saio pela janela. Vou lá procurar a garrafa e volto aqui com ela.

– E o seu parceiro? Não vai com você?

– Não. Se ele aparecer sozinho, puxe-o para dentro do quarto e explique o que combinamos. Se não estiver sozinho, não deixe que entre. Tudo bem pensarem que estamos nos divertindo a sós.

– Entendi.

– Amanhã de manhã, saberão que estive lá de novo, mas se tudo correr bem, nós já estaremos longe quando isso acontecer.

– É verdade. Bom, então só falta uma coisa para o plano ser posto em ação. – O capitão estende a mão para a elfa, quando ela terminava de se vestir e se equipar.

– Você não faz ideia do que eu já passei nesse inferno de lugar. – Ela aperta a mão do marinheiro. – Sou Sharon Siz-Thorien.

– Toró, da Estrela de Pedra.

– Nunca ouvi falar desse lugar. Fica aqui em Varmadum?

– Estrela de Pedra é o meu navio. – Ele sorri. Sharon acena, já da janela. – Boa sorte.

As Sementes do Mundo InferiorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora