#37 - Estátuas de Pedra

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"Galdentur é um mundo protegido pelos deuses, segundo dizem. Há relatos de outros mundos além do nosso. Não entendo muito como funcionariam, mas falam de planos de existência paralelos. Em outros mundos há planos de espíritos e de outros tipos, sendo que magos podem transitar entre eles. Ao ler pela primeira vez relatos assim, isso me pareceu um tanto confuso e caótico. Há relatos de terras distantes, talvez em ilhas ou ilhas voadoras que os textos chamam de planetas. Aparentemente, existe vida similar à nossa em muitos desses cantos. Muita vida diferente também. Deuses, magia e conhecimento aparentemente também mudam. Os textos falavam sobre a transição entre mundos. Veículos especiais permitiriam isso e parece que a Floresta Desalma é a única região por aqui onde esse tipo de transição é permitida. Gostaria muito de estudar mais esse tema, mas relatos são assustadoramente raros."


Era uma sala bonita, digna mesmo de um castelo. Não tinha muitos móveis, apenas duas poltronas de um lugar. Nas paredes, havia alguns enfeites em temática marcial. O que chamava mais atenção na sala, porém, eram as quatro estátuas de guerreiro, afastadas. Cada uma em um canto da sala. Com aspecto de guerreiros armadurados apoiando uma espada longa no chão. Pareciam ser de pedra.

-- Qual é a dessas estátuas? -- Ild pergunta, falando sozinho. Pelo menos é o que seus colegas parecem pensar, já que ninguém lhe responde.

Ele se aproxima de uma delas e começa a estudá-la com curiosidade. Suas mãos deslizam a poucos centímetros de um braço. De repente seus olhos são atraídos por um sutil brilho vermelho na testa pétrea.

-- Ei, Ezelius! Vem ver isso!

O feiticeiro se aproxima e olha para onde o amigo aponta.

-- Parece um rubi. Mas talvez não seja.

-- Foi o que pensei.

-- Tem um jeito diferente. Parece magia cristalizada, será? Podíamos extrair pra verificar melhor.

-- Extrair? -- All Thorn se aproxima dos dois. -- Não é prudente mexer nesse tipo de coisa.

-- Não custa nada dar uma olhada. O Wolfgar ia concordar comigo. Pode ser útil. -- Ezelius fala, exaltado. -- Ou, no mínimo, valioso!

-- Isso não é bom! -- Neriom comenta com Sharon, enquanto os dois observam a cena. -- São estátuas! E pode ter magia! Magia pra quê? Pra elas matar nós!

-- É, você está certo. -- Sharon vai até os três. -- Antes de tentarem qualquer coisa, deixa eu ver se encontro alguma armadilha.

Todos concordam e ela começa o seu trabalho. O piso lhe chama a atenção logo de cara. Perto da estátua há arranhões. Fios, botões, cavidades discretas, pequenos furos... As estátuas não parecem ter nada disso. Esses arranhões lhe inquietam. Quem os teria feito?

De repente, um tremor leve. A estátua começa a se mexer.

-- Olha, a Sharon achou outra armadilha! -- Ezelius comenta, com sarcasmo, enquanto o grupo se prepara para um combate.

-- Não toquei em nada.

-- Tá, só não quero que aquela coisa toque em mim.

Uma pancada forte. Num giro, a espada de pedra bate no escudo do paladino.

Sharon salta pra trás, já puxando seu arco e disparando duas flechas na estátua. Uma delas passa perto do pescoço e atinge a parede, mas a outra acerta. Acerta, rebate e sobe girando antes de desaparecer.

-- Cuidado! -- Neriom grita e a elfa percebe um movimento atrás dela.

Por instinto, contorce seu corpo e consegue se esquivar de uma espada de pedra que vinha em sua direção. O esforço lhe desequilibra e ela cai deslizando, estabilizando seu equilíbrio apoiando a mão direita no chão. Durante todo esse movimento ela aproveita para observar a cena e confirmar que as quatro estátuas estavam se movendo agora.

-- Droga! -- Ezelius tinha acabado de lançar um raio naquela primeira estátua, mas parecia não ter tido efeito.

O monge corre em investida contra a estátua, concentrando seu chi, a mágica energia corpóreo-espiritual, em um conjunto de socos e chutes rápidos. Rápidos ao ponto de serem difíceis de distinguir com os olhos.

Percebendo algumas rachaduras naquela estátua, Neriom decide lutar também. Com toda a força, gira seu bastão contra ela, imaginando que um golpe certeiro dele bastaria para terminar de quebrá-la. Sua empolgação passa quando o bastão acerta o piso, do lado da estátua. Um pé de pedra arremessa o pobre gnomo para o outro lado da sala, aos pés de outra estátua. Esta não espera e desce a espada com força, como uma estaca sendo cravada no solo.

All Thorn vai em socorro do pequeno. Concentrando energia em sua espada, ele faz um ataque certeiro. Teraaz dá um coice no mesmo inimigo e o paladino o golpeia novamente, fazendo por fim a cabeça de pedra desprender do corpo. Cabeça e corpo se desmancham em várias pedras pequenas.

-- Você está bem, Neriom?

-- Tive sorte. Tou machucado, mas a espada não pegou em mim.

-- Fico feliz em ouvir isso. -- O paladino posiciona o gnomo sobre Teraaz. -- Segure bem. Você deve ficar mais seguro aqui.

Do outro lado da sala, Sharon se equilibrava após ser atingida por outra estátua. Usando sua habilidade mágica, ela energiza a flecha e a dispara. A flecha explode ao atingir a estátua de antes. O inimigo, já bastante golpeado, também não resiste e se desfaz em pedregulhos.

Ezelius dispara um raio de fogo em uma das estátuas restantes.

-- Não está funcionando bem. O anão seria melhor nisso de quebrar pedras...

De fato o raio não foi tão efetivo, mas fez a estátua mudar um pouco seus movimentos no instante em que atacava Sharon. Acertou a elfa, mas o golpe saiu um pouco mais fraco. Vários socos e chutes do monge alcançam esse mesmo guerreiro de pedra.

Contra a vontade de All Thorn, Neriom desce do cavalo e corre até a amiga, usando seu poder clerical para curar suas feridas de batalha. É do paladino o último golpe naquele adversário.

-- A cavalaria chegou. -- Ele fala, enquanto Teraaz ataca a última estátua que sobrou.

Ela não cai, mas agora que só tem uma, está mais fácil. 

As Sementes do Mundo InferiorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora