#39 - Parados

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"O mais perto que eu tive de um lar foi mesmo em Migluik, com meu pai anão Thorul. Quando as pessoas perguntam De onde você é?, geralmente querem saber onde você nasceu. Por isso Mitronus ou Migluik não são respostas que satisfariam tal pergunta. De onde se vem também é uma pergunta curiosa. A resposta mais imediata seria o último lugar onde se esteve. Qual deveria ser o tratamento socialmente aceito para perguntas assim? No caso de elfos, poro exemplo: se uma elfa nasce em Verdeluz e passa ali menos de uma década, depois se muda para Mitronus e vive lá por duzentos anos? De onde ela é? Eu poderia dizer simplesmente, no meu caso, que sou viajante ou que sou de Galdenturex. Seria uma resposta vaga e correta. Infelizmente, por isso mesmo dificilmente bastaria."


O grupo seguia por aquele grande corredor. Ezelius ainda estava entediado, já que a Sharon buscava armadilhas por todo o trajeto.

Enfim, eles chegam ao final e encontram uma parede.

-- Parece que vamos ter que voltar e olhar as portas. -- Ild comenta.

-- Que saco isso! -- Ezelius continua com sua longa reclamação. -- Olha quanto tempo a gente já perdeu. Tinha quantas armadilhas no corredor? Zero! Quer saber? Façam o que quiserem. Eu vou entrar na primeira porta que eu ver e ficar por lá esperando.

Surpresos, os demais apenas olham o feiticeiro andar até a última porta, já perto do fim do corredor, e abrí-la, empurrando-a até que bata na outra parede. Ele então se vira para trás e fala:

-- Viram? Sem armadilha!

Dito isto, ele entra sozinho enquanto os outros decidem o que fazer agora.

-- Devíamos ter olhado as portas. Não tomaria tanto tempo assim.

-- Tomaria, Sharon. Procurando armadilha em cada porta, com certeza tomaria.

-- Está fazendo o quê? -- Neriom pergunta a Ild ao perceber que o monge tateia aquela parede no final do corredor.

-- Não faz sentido o corredor acabar assim, sem saída. Deve haver uma passagem secreta, uma porta escondida.

-- Que bom! Também queria uma. Voltar as salas tudo não deixa feliz.

-- Não há garantia de que a passagem esteja em uma delas, também.

De repente, Ild percebe algo no canto.

-- Ei, Sharon! -- A elfa vai até ele e ele aponta para uma parte da parede. -- Parece haver alguma coisa aqui. Acredito que seja uma passagem secreta.

Ela se abaixa e começa a investigar também.

-- Vai ser bom ter caminho aqui! -- Neriom comenta, olhando para o paladino.

-- É, Neriom. Vai sim.

-- Será que demora?

-- Não sei. Por quê?

-- A gente devia avisar o Ezelius!

-- Pode ir lá avisar se quiser. Vou ficar por aqui vigiando.

Neriom vai até a porta e fala:

-- Ei, Ezelius! Talvez a gente não precise voltar pra ver as portas. -- Ele entra. -- Está fazendo o quê?

-- E aí? -- All Thorn se aproxima dos dois elfos. -- Estão progredindo?

A resposta vem na forma de um estalo que parece partir dos dois encontros da parede à frente com as paredes do corredor.

-- Muito bom! -- O paladino conclui. -- Acho que estão certos. A passagem deve ser por aí mesmo e logo mais vocês conseguem abrí-la. Vou ver o que os dois estão aprontando. Ficaram calados de repente.

E ele vai até a porta, observa e entra também na sala.

-- O movimento não é esse! -- Sharon estala o dedo, falando com Ild. -- Parece muito diferente, mas deve ter o mesmo mecanismo da sala móvel. Espera.

Reproduzindo com fidelidade os movimentos que haviam acionado a sala de entrada do castelo, ela consegue acionar a abertura. A parede avança um passo e começa a descer, escondendo-se no chão. À frente, dá pra ver uma escada levando para cima em dois lances.

-- Ótimo. Agora é só chamar os três antes de entrar na sala.

-- Sharon! -- Teraaz fala da porta, antes de entrar na sala. -- Os três não estão se mexendo.

Quando Ild e Sharon chegam na entrada, veem os três paralisados. Teraaz, perto deles, começa a parar também. Todos olhando para o que parece ser um espelho. Os elfos se olham espantados. Ild dá um passo para dentro, mas Sharon lhe interrompe.

-- Precisamos de um plano para tirá-los de lá ou ficaremos todos presos.

-- Você está certa.

Ela saca uma flecha e dispara contra o espelho. A flecha ricocheteia rodopiando e some, reaparecendo na aljava. O espelho parece não ter ficado com um arranhão sequer.

-- Olha lá em cima do espelho!

-- Ganchos? -- Sharon pega o arco e observa melhor. -- São pequenos ganchos. Podemos prender um pano ou uma cortina.

-- De um jeito ou de outro, vamos ter que abrir as outras portas.

Sharon sorri como um cumprimento e sai nessa nova missão. O monge lhe acompanha.

Pouco tempo depois, eles estão ali tentando colocar a cortina nos ganchos. O pano era pesado demais para a mão fantasma de Ild e tiveram que improvisar. Três cordas amarradas na cortina. Ela foi jogada para dentro do quarto, perto do espelho. Duas cordas seriam para erguê-la e a terceira para ser puxada de volta caso algo desse errado.

Ild consegue passar as cordas em dois ganchos e trazer a outra ponta até a entrada. Os dois puxam e erguem finalmente a cortina, amarrando as cordas na porta.

-- Vai lá agora e tenta trazê-los. -- Sharon pede ao monge. -- Se não der certo, eu penso em outra coisa.

Felizmente, Ild consegue transitar sem ser afetado pelo espelho mágico, agora coberto. Com um pouco de água e de tempo, os paralisados vão se desparalisando e se preparando para seguir. 

As Sementes do Mundo InferiorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora