#47 - Os Três Opostos

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"Enquanto Ild repousava e meditava em recuperação após todo esse processo, nós nos reuníamos em um pequeno acampamento a céu aberto a menos de cinco minutos do lago mágico. Wolfgar e Haseid faziam apostas bestas e bebíamos um pouco de álcool de fruta. Eu estava ansiosa pela plena recuperação de Ild para que pudesse entender melhor as nuances e consequências do procedimento. Sua personalidade seria afetada pela extração que a fonte mágica lhe fizera? Ademais, ele ainda era muito jovem. Para um elfo, pelo menos. O seu treinamento de monge lhe trouxe um certo amadurecimento precoce, mas seria o bastante? Ele ainda teria, por exemplo, aquela compulsão por acumular tranqueiras? Com o tempo notei que não havia mudado quase nada por dentro. Parecia ser o Ild de sempre."

De dentro daquela passagem, o grupo vê, espantado, vultos saírem. Malleck franze a testa e olha para trás e para os lados, procurando focar os heróis.

– Mas que droga é isso?! – Ezelius se espanta, vendo as três pessoas que chegam. – Quem são esses palhaços?

– O quê? – Wolfgar também questiona. – Perdemos muitacoisa enquanto estávamos lá em cima, pelo jeito.

– Deve ter sido o espelho. – Ild fala para o anão. – Olhe: Ezelius, Neriom e All Thorn, os únicos afetados por aquele espelho mágico. Devem ter sido copiados?

– Que espelho? – Wolfgar pergunta surpreso.

– Copiados, vírgula! – Ezelius corrige o monge. – Eu sou bem mais bonito que isso aí!

Réplicas de Ezelius, All Thorn e Neriom, com um ar diferente, exalando maldade. As cores também eram outras. O Ezelius de lá era meio vermelho, enquanto Neriom parecia um pouco transparente e usava um chapéu verde. All Thorn tinha os cabelos ligeiramente roxeados e uma montaria cinzenta, como se fosse um cavalo morto. E dos olhos daquele Teraaz sombrio saiam pequenas faíscas de uma chama vermelha.

– Vamos nos organizar. – O verdadeiro All Thorn fala de repente. – Eu me enfrento com o Teraaz. Takeshi e Wolfgar, vão até Ezelius. Haseid e...

Ele para e balança lentamente a cabeça em negação ao notar que os combatentes já estavam se distribuindo pela cena a despeito do que ele falava.

Percebendo que o gigante recuava, provavelmente já cansado e ferido, Ild prepara uma rajada de golpes contra ele. Poucos passam pelos escudos enormes. No meio desse ataque, o monge sente uma pancada forte, que o joga no chão.

– Esquece O'glor. Você se vê é comigo, filho do rei. – É o cavaleiro que, após o ataque em investida, fala de cima de sua montaria cinzenta.

– Bem valente você! – Haseid se coloca entre os dois. Em seguida, dá um assovio e evoca o brilho de sua Lâmina de Prisma.

Reabrindo os olhos, ele vê que aquele outro All Thorn não consegue mais enxergar.

Sem perder tempo, Sharon dispara duas flechas naquele mesmo oponente montado. A flecha lhe acerta nas duas vezes.

Neriom ora perto do paladino real, já curado.

– O que está fazendo?

– Orientação.

– Certo. Obrigado.

Orientação é uma magia simples, que ajuda a pessoa pra quem se reza, fazendo que a próxima tentativa dela tenha mais chance de dar certo.

Malleck que, por sorte fechou os olhos na melhor hora e não teve a visão comprometida, percebe que o mesmo não aconteceu com Grugbar. Invocando o poder de seu deus Roko, ele salta com seu martelo contra a rainha. O golpe acerta seu braço e ela estremece, gritando de dor.

– Que merda cê fez, desgraça? – Takeshi reclama, posicionando suas lâminas na defensiva. A espada voadora cai no chão.

Haseid sorri e faz um gesto de quem pede desculpas. Na mesma hora, se dá conta de que o gesto foi inútil, que ele não pode ser visto pelo espadachim, então verbaliza:

– Foi mal!

Seu sorriso se desmancha, vendo a rainha Grugbar gritar e fazer um gesto corporal lento e estranho. Ao fim, ela gira a cabeça rapidamente na direção de Malleck.

Wolfgar arremessa seu martelo contra a cópia de All Thorn, que cai do cavalo. Sem o martelo, porém, é atingido por uma lança arremessada por outra cópia, de Ezelius.

Finalmente, All Thorn se vê diante da cópia. Os dois cavaleiros estão frente a frente, mas um deles ainda não enxerga e está pelo tato subindo novamente em seu cavalo.

– Quem são vocês? – All Thorn pergunta, enquanto convoca novamente o poder da fé fortalecendo sua espada.

– Não vai me atacar, paladino? Eu sou Rottla e este é meu fiel companheiro Zaaret. – O outro responde, dando tapas leves em seu cavalo. – É um erro, sabia? Um erro esperado mesmo de você. Eu não teria a mesma postura.

– Que tipo de nomes são esses? Mas não importa. Quero saber quem são e não seus nomes. Por que nos imitam?

– Somos iguais a vocês. Iguais e opostos. Certamente melhores também. Em quase tudo.

Ainda ofuscado pela espada de Haseid, no canto, Ic'tlun coloca o braço na frente dos olhos. O feiticeiro se encolhe devagar tentando não ser percebido. De repente, some. Perto dele, o outro feiticeiro sopra o dedo indicador e sorri. Segura forte seu cajado e desvia sua atenção para sua réplica avermelhada.

Graças a Haseid, uma das poucas magias poderosas que lhe sobrava pôde ser aplicada com sucesso contra aquele feiticeiro sacana. Ainda sorrindo pela vitória, de repente uma lembrança lhe vem em flash. Essas réplicas...

– Neriom! All Thorn! Temos que derrotar as cópias! Elas querem nosso lugar!

Rottla abaixa o braço devagar e sorri, com a visão começando a voltar ao normal.

– Perdeu sua chance, paladino. Agora é minha vez.

As Sementes do Mundo InferiorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora