#17 - De Saída

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"Existem diversos tipos de magia diferentes, para pessoas diferentes. Os magos estudam muita teoria e aprendem a lógica por trás da magia. É o caminho que tenho seguido mas, como disse, é muita teoria e estudo. Ainda não sou uma maga. Feiticeiros nascem com magia no sangue e não precisam de estudo. Bruxos fazem pacto com um deus menor. Clérigos e paladinos recebem sua magia de deuses maiores, os deuses reais e eternos. Os bardos fazem um estudo artístico e conseguem extrair magia da arte. Os druidas são sacerdotes ligados à natureza e dela fazem sua magia. Os monges tem uma força interior, construída com muito sacrifício e treino. No fim das contas, toda a magia tem ligação com os deuses. A maior parte da magia está ligada à deusa Makya. A deusa da natureza, Kreskajia, é quem abençoa os druidas. Quanto aos bardos, já ouvi falar que estariam ligados ao deus Zefyro, mas ainda não estou tão certa disso."

Antes mesmo de entrar pela janela do seu quarto, Sharon escuta o barulho por ali. Um ronco alto e a voz do Neriom chamando seu nome, com pancadas na porta. O cenário previsto se confirma fielmente. O marinheiro está espalhado na cama e o gnomo do lado de fora, não para de bater na porta.

– Espera, Neriom, abro já!

– Tudo bem. Está tudo certo aí?

– Está sim!

A elfa estava prestes a trocar de roupa, mas pensa melhor e muda de ideia.

– Toró? – Ela fala, mas o oganter não dá sinal de que vai despertar. – Toró! – Vendo-o sem reação, ela afasta o braço e aplica um tapa estrondoso. – Acorda!

– Hã? O que foi? – Ele arregala os olhos e se inclina um pouco.

– Temos que partir.

– Pra onde?

Sharon o encara por um tempo, mas conclui que ele está sonolento demais para se lembrar sem ajuda.

– Fizemos um trato. Eu recuperava o seu navio e você tirava a gente desse inferno. Lembra?

– Sim, sim! A elfa! Conseguiu achar o navio?

– Está comigo. Vamos?

– Já amanheceu?

– Ainda não.

– É que... Minha tripulação não está pronta.

– O quê?! E quando vai estar?

– Pela manhã a gente vai atrás deles. Estão aqui perto. Por que tanta preocupação? Eles viram você?

– Sharon? Está tudo bem? – Neriom grita do outro lado da porta. – Estou com sono.

– Olha, Toró, eu peguei seu navio. Acontece que alguém tocou fogo no quartel e eu já estou bem popular por aqui. Não vai demorar muito para eles ligarem as coisas e aparecerem atrás de mim. Temos que partir agora.

– Entendi. – O marinheiro, já de pé, se espreguiça. – Você está certa. Vou atrás da minha tripulação. Só preciso molhar o rosto pra tirar mais o sono.

Sharon pega seu cantil, abre e joga a água no rosto do capitão do navio. Ele a encara com raiva por um momento e então começa a rir.

– Você tem fibra, gosto disso! Vamos lá, acho que consigo arrastar a turma em menos de meia hora. Me encontre lá onde o navio foi tirado de mim, lembra onde foi?

– Claro. Eu te encontro lá.

A porta é aberta e Toró sai, quase atropelando o gnomo, que esperava sonolento e embriagado.

– Finalmente abriu! Estava divertiu a festinha de vocês, né? – Ele entra cambaleante e se joga na cama. – Agora só quero dormir e acordar dois dias.

– Não, Neriom. Estamos de partida.

– É o quê?

– Vamos sair daqui. Agora!

– Ah não, você arrumou confusão com o Bul? Ele é um cara legal!

– Quem é Bul?! Quer saber? Não importa! Arrume suas coisas que vamos sair dessa ilha maldita de uma vez.

– Ah! Que bom, eu acho... Não sei pensar direito agora.

– Eu penso por você então: pegue suas coisas e vamos embora.

– Tá bom. – O gnomo se levanta, cambaleando, e vai pegar sua mochila e suas coisas espalhadas.

Sharon espera pacientemente, já com sua própria bagagem arrumada. Queria descer logo, mas tinha medo de seu amigo tropeçar e cair num "sono de dois dias", como ele já havia ameaçado.

– Pronto. Acho que peguei tudo.

– Então vamos.

No salão ainda havia alguns clientes, aos quais a elfa não deu qualquer atenção. Ela vai até o balcão falar com o cambion.

– Estamos de saída. Pode preparar quatro pães com pasta? Traz uma caneca de blugon também. Aliás, duas.

O barman confirma com a cabeça e vai atender ao pedido da cliente.

– Ele não dorme? – Ela pergunta para Neriom.

– Eu bem que queria dormir, mas gigante não deixa.

– O sujeito do balcão.

– Ah, dorme, eu acho.

– Toda vez que venho aqui ele está acordado.

– Esse é irmão do outro irmão.

– Ah...

O falado sujeito chega com uma bandeja rústica, trazendo os pães e as duas canecas. Neriom olha aquilo espantado.

– Ah não, não querer beber mais hoje! Só dormir!

– São para mim.

Ela tira da algibeira três moedas de ouro e coloca sobre o balcão.

– Pelas minhas contas, isso paga tudo o que devo aqui.

– Acho que sim.

Sharon pega o cantil pequeno, esvaziado mais cedo, e coloca o conteúdo de uma das canecas dentro dele. Guarda os pães e vira a outra caneca saboreando aquela bebida local. Bate a caneca vazia no balcão, limpa a boca com as costas da mão e puxa o Neriom em direção à saída.

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