#16 - Forte de Novo

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"Vorgacnaran era um rei orco que se tornou deus um dia. Deuses desse tipo, não verdadeiros, não conseguem transmitir seus poderes para sacerdotes ou paladinos. A forma que eles têm de dar poder é firmando pacto com pessoas, assim nascem os bruxos. Como se sabe, o pacto entre um bruxo e seu deus tem uma forma material. A deusa Kesh, por exemplo, firma seu pacto através de um objeto construído, que vai ganhando vida conforme o bruxo se torna mais poderoso. É o caso de Brann, irmão de Ild. Vorgacnaran usava máscaras azuis com cara de peixe em seus pactos. Um dia, esse deus traiu todos os seus bruxos, concluindo uma complexa manobra mágica que ampliou o poder desses bruxos, mas os escravizou, todos de uma vez. Tudo isso fazia parte do seu plano de dominação de Galdentur com seus povos orcos, resultando na grande guerra que todos conhecemos."

Sharon observa o prédio do forte militar. A noite está calma e mais uma vez ela está ali, pronta para invadí-lo novamente. Dessa vez, sem Neriom. Dessa vez, com todo o seu equipamento.

Ela respira fundo e começa. Impulsiona seu corpo para cima o máximo que consegue e alcança o parapeito da janela do segundo piso. Fazendo um pêndulo e contorcendo seu corpo, alcança um apoio para o pé. Isso lhe ajuda a saltar para, apoiando o pé sobre aquele mesmo parapeito, se impulsionar na direção à janela acima. Fazendo novamente um pêndulo, ela alcança mais um apoio, apenas uma irregularidade sutil na construção. O suficiente para que ela se impulsione de volta à mesma janela, com força suficiente para colocar todo o seu corpo em seu parapeito.

A elfa está mais uma vez dentro daquele escritório. Olha rapidamente ao redor em busca da tal garrafa, sem sucesso. Ela sabe qual o local mais provável de encontrá-la: o depósito logo depois de subir as escadas. Aproxima-se da porta e para. Há alguém lá fora conversando. Barulho de chave na fechadura a pega de surpresa.

– ...até agora como você deixou isso acontecer.

– Mas senhor, não tinha muito que pudesse ser feito!

– Se não estivesse dormindo quando não deveria...

– Chefe? – A voz vem do corredor, dirigindo-se aos dois que mal haviam entrado no escritório, nem tinham fechado a porta.

– O que foi agora?

– Os sentinelas alertaram sobre outro ataque.

– E por que não resolvem isso? Quem está atacando agora?

– Eu não sei. Eles só falaram de outro ataque e que o senhor pediu para ser informado de tudo.

– É, eu pedi. Está bem, vamos ver que porcaria está acontecendo. Quando foi que esse quartel virou uma feira de farinha?

A porta se fecha novamente com os dois do lado de fora, se afastando. Atrás da porta, Sharon suspira aliviada.

Ela reabre a porta, que não havia sido trancada, e segue pelo corredor em direção à escada. Há um barulho de tumulto lá embaixo, mas lá em cima parece estar tranquilo.

– Aqui estamos nós de novo. – Sharon sussurra para si mesma, diante da porta com a inscrição "Depósito".

Antes de ir às caixas, ela resolve dar uma volta em todo o lugar, esperando que a garrafa esteja em outro tipo de organização.

– O quê!? – Uma explosão e o prédio treme um pouco.

Percebendo que não tem muito tempo, Sharon vai mais rápido. Em uma quina de parede, na prateleira de baixo, ela encontra um gradeado com alça e lugar para quatro garrafas deitadas. Só havia uma garrafa ali. Ela a retira e examina: sim, tem um navio lá dentro.

Quando abre a porta para sair, ela é surpreendida por um cheiro de fumaça.

– Não, não, não... – Dane-se o forte! Ela se preocupa com sua fuga. O lado de fora deve estar cheio de soldados. Ela volta para o depósito.

Lá dentro há duas pequenas janelas, cada uma em uma parede. Sharon vai até a que dá para os fundos do prédio. Usando suas ferramentas, abre e observa o ambiente lá fora. Há algumas pessoas nas casas vizinhas, olhando curiosas e assustadas para o forte. Não dá pra ter certeza, mas parece haver um início de incêndio no primeiro piso. Com medo de ser descoberta, ela amarra bem a corda em uma daquelas estantes. Sem perder tempo, desce do prédio com pressa, tentando não ser vista, algo sobre o qual ela percebe não ter tanto controle quanto gostaria.

Já bem perto do chão, ela ouve som de espadas se encontrando. Salta e observa, analisando a situação e traçando mentalmente sua rota de fuga.

Três ogânteres soldados lutam contra homens-lagarto. Um dos lagartos, sobrando no combate, percebe a ladina e corre em sua direção. Sharon saca seu arco, mas antes que dispare escuta um grito de comando em uma língua que não entende. O agressor para e olha pra trás.

Resta apenas um daqueles soldados, tentando fugir dos três que o cercam. Um deles fere com a lança sua perna, enquanto outro aproveita o momento para golpear seu pescoço.

Outro grito de comando e o grupo começa a correr para longe do forte. Antes de seguir com seus comandados, a figura encapuzada mostra seu rosto reptiliano e sorri para Sharon.

– Grilda?

Ela não tem tempo, precisa dar o fora também. Após passar alguns quintais tendo a certeza de que alguém a viu, Sharon corre pelas ruas. Corre desesperadamente para ganhar distância e, com isso, vantagem. Vai pelo caminho que leva à casa antiga e continua em direção à hospedaria onde se instalou. Faltando dois quarteirões, diminui o passo. Segue calmamente, observando ao redor e não percebendo mais ninguém por ali.

Finalmente encontra a Casa de Yoglinor e escala em busca da sua janela. Em sua mente, a incerteza se aquele incêndio será mais um crime atribuído a ela. De um jeito ou de outro, Sharon sabe que precisam deixar essa ilha o quanto antes, para nunca mais voltar.

As Sementes do Mundo InferiorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora