"Haseid é um ogânter, mas não é dessas terras. Ele vem da temida terra do além-mar, onde magia nenhuma funciona. Uma terra muito distante onde vegetação é raridade. Um lugar coberto por areias, com risco de tempestades e de ataques dos dragões do deserto. Ou de saqueadores. Haseid era um desses, um saqueador. Seu bando se chamava Boca do Deserto. Um dia ele e seu pai encontraram um grupo perdido. Um grupo estrangeiro. Fizeram um acordo: lhes ajudariam a sobreviver e encontrar sua embarcação, mas em troca Haseid e seu pai seriam aceitos como parte desse bando. Um bando de piratas. E assim aconteceu, conforme as palavras do próprio Haseid. Desse jeito eles começaram suas aventuras em alto mar. Eles se enturmaram e tudo seguiu bem até o dia em que a embarcação foi atacada por um vorg."
Berros monstruosos vinham da floresta. Sharon e Neriom não faziam ideia de que feras poderia haver ali, mas ambos tinham certeza de que eram feras enormes e perigosas. Ainda assim eles seguiam, pois precisavam se afastar daquela mina.
– Você ouviu isso? – Neriom pergunta, espantado.
– Sim. Gritos. Alguma fera deve ter encontrado alguns fugitivos.
– Por Kreskajia, que ela não encontre nós!
O caminho seguiu até um ponto onde a floresta acabava. Sharon foi naquela direção. Havia um rio não muito largo. Na outra margem, podia-se ver quintais.
– Vamos acampar aqui.
– É seguro?
– Não tanto quanto eu gostaria, mas temos que esperar anoitecer.
– E o que faremos depois?
– Enquanto estamos aqui, vamos analisar esses quintais na outra margem. Pode haver alguma casa sem moradores.
– E se não tiver nenhuma?
– Vamos seguindo o rio analisando mais quintais. Foi o que eu quis dizer quando falei em acampar.
Neriom reclamava de fome e Sharon colheu frutas de um só tipo, dizendo "Vi várias dessas comidas pelo chão. Não devem ser venenosas." Felizmente, estava certa.
Quando a noite chegou, eles já tinham um alvo. Atravessaram o rio nadando com um cipó de segurança. Na outra margem, já sem movimentação nenhuma de pessoas, andaram um pouco e pularam a cerca.
– Que bom que achamos a casa. Como a gente entra?
– Fale baixo. Há casas vizinhas. – A elfa recomenda antes de responder. – E eu tenho meus métodos.
Ela passa um bom tempo na frente da porta, usando qualquer pequeno objeto que encontre ali pelo chão. Testa com um, com outro, até que finalmente a destranca. Com cuidado, após gesticular para o Neriom pedindo silêncio, ela abre a porta bem devagar.
– Vazia como pensei. Vamos.
Os dois entram e encontram aquele pequeno lar com poucos móveis. Um armário baixo na cozinha com alguns copos, vasilhas e tigelas. O único quarto tinha um colchão grande.
– Talvez os moradores estejam em viagem. Essa casa vai servir bem. Neriom! Nada de se deitar no colchão. Estamos molhados. Vamos deixar as roupas secando nas cadeiras da cozinha. Ah, e você vai dormir por lá.
– Vou dormir pelado?!
– Não, toma. Encontrei esses lençóis velhos, mas só tem dois. São grandes. Use uma parte para enxugar e outra para forrar a mesa e se cobrir.
– Tudo bem... – O gnomo responde, pensativo.
– Tá triste, pequeno? Não queria liberdade? Ou está com saudades da Grilda?
– Ha, ha! Não! Estou pensando quanto a liberdade vai durar.
– Confie em mim. Vai durar muito. O suficiente. Boa noite, vou pra sala.
– Boa noite... Gigante!
– Neriom...
O gnomo faz uma cara engraçada de criança travessa enquanto Sharon sai da cozinha levando uma cadeira. A elfa sorri e se deita, após se secar, já pensando nos próximos passos.
A noite passa. Neriom dorme bem como há muito tempo não dormia. O punhado de mato que ele arrumou pra colocar sob o lençol, como um travesseiro, ajudou um pouco. Desperta e vê Sharon ali na cozinha, em uma cadeira, comendo algumas frutas.
– Bom dia, Sharon.
– Bom dia, pequeno. Conseguiu dormir bem?
– Sim, dormi. Muito melhor que naquela prisão.
– Vou sair. Fique por aqui.
– Vai pra onde? – Neriom pergunta e só então nota que ela não está vestindo os farrapos da mina e sim um manto amarelado.
– Confie em mim. Volto em algumas horas, antes do almoço.
– Tá... – O gnomo olha para ela preocupado, pensando se sua nova amiga seria capaz de deixá-lo ali para escapar sozinha.
Sem falar mais nada, ela vai em direção à porta da frente, abre uma pequena fresta para olhar o movimento da rua. Satisfeita, simplesmente sai.
Andando por aquela terra estranha, a elfa busca uma feira. Sorri quando finalmente encontra uma perto da praia, e começa a andar por ali à procura de alguém com dinheiro descuidado, de preferência alguém que lhe pareça uma má pessoa.
Encontra sua presa e, sem muita dificuldade, alivia o sujeito de um saquinho de moedas. Imediatamente, muda a direção e se mistura entre as outras pessoas.
Cumprida essa parte, tinha que agir rápido. A elfa conta por alto as moedas e vai a uma banca de roupas.
Menos de duas horas depois de ter saído, conforme prometeu, lá está Sharon voltando para a casa ocupada.
– Sharon? Você voltou?
– Claro, pequeno. – Ela entra na cozinha usando um vestido curto verde escuro. – Trouxe umas coisas.
Neriom olha o cesto que ela acabou de colocar na mesa e encontra um pão grande, uma barra de sabão e uma roupa pequena, verde também.
– Isso é meu? – Ele pergunta, medindo a roupa, mas vê Sharon se dirigindo ao quintal. – Vai pra onde?
– Preciso devolver isso aqui. – Ela mostra a roupa amarelada na mão e sai.
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As Sementes do Mundo Inferior
FantasyNovela de aventura publicada em folhetim, semanalmente aqui mesmo no Wattpad. Já está concluída (mas talvez tenha continuação). A história vem de um arco de campanha de RPG mestrado por Iran Morais e ambientado na Terra Média. A adaptação envolveu...