#21 - Reencontro

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"Ser aventureiro é uma vida difícil para os elfos. Enquanto outras espécies envelhecem até o ponto em que não suportam mais o fardo de viver, nós elfos permanecemos com um mesmo aspecto indefinidamente. Trata-se de uma escolha ousada trocar a imortalidade pela chance de morrer com uma espada enfiada na barriga ou esmagado por pedras de alguma armadilha. Pensando bem, talvez o risco seja similar para os mortais. Afinal, a morte geralmente é o fim, mas a morte anunciada pode dar a chance de viver além da vida, no lar dos deuses. A morte em aventuras não é anunciada e não atrai as coletoras. Como elas só levam aqueles que julga dignos, no fim os mortais que se aventuram aumentam suas chances, se sobreviverem, de serem visitados por uma coletora. Na morte, alcançam a imortalidade"


A felicidade da Sharon com o que avistou naquele navio ao longe era contagiante. O restante da tripulação ficou feliz também, mas por perceber que o navio à frente não seria, provavelmente, um problema.

– Você não para de olhar pra lá! Eu nem vejo nada direito. Só um barco.

– Eu consigo mirar mais longe, Neriom, graças ao Açor Real.

– Sei, esse arco aí...

– Já vi o Haseid e o Wolfgar. Além do Teraaz, é claro!

– Eu não vejo é nada...

– Eu sei o que você quer, Neriom, mas não vai rolar. O Açor Real é um artefato de sangue. Enquanto estiver ligado a mim, você não usa.

– E não pode desligar um pouco?

– Você não sabe como as coisas funcionam, Neriom. Não é bem assim.

– Tá bom... – Ele abaixa a cabeça um pouco, pensativo, então volta a conversar. – Esse Haseid é o oganter?

– É, é o nosso especialista em matas, rastros e sobrevivência. Eu também entendo um pouco disso, mas não sou patrulheira.

– E esse Wolfgar deve ser o tal anão.

– É, ele tem um martelo chamado Pancada de Roko.

– Eu me lembro disso. Deve ser bem poderoso, afinal leva o nome de um deus!

– É, ele também fica gigante.

– Sério? Do seu tamanho? Porque anões costumam ser bem menores do que você...

– Do meu tamanho?! Isso é porque eu disse que ele fica gigante?

O gnomo sorri de forma travessa e desconversa.

– Tá, deixa pra lá. E o Teraaz é o feiticeiro?

– Não, Neriom, é o cavalo!

– Ah, o cavalo. Certo. Mas acho nome de feiticeiro!

A elfa sorri e volta a olhar para a embarcação através do arco.

– Não estou vendo os outros.

– Podem estar dormindo.

– De certa forma.

– Ô Sharon, não era bom sinalizar pra eles?

– Alguma sugestão?

– Não sei. Podia disparar o canhão.

– Já estamos indo na direção deles como Toró falou. Eu estando aqui quando eles analisarem o navio que se aproxima vai ser o bastante.

O tempo passa e finalmente eles percebem o navio se aproximando. Após algum tempo notam a Sharon e respondem com acenos e animação. Depois somem de vista, então reaparecem. É uma espera angustiante, mas de uma angústia boa. Não para Nargol, que ainda temia uma traição por parte da elfa.

– Não podemos parar muito tempo, Sharon. A marinha está quase em nós. Você tem dez minutos para decidir o que fazer. – Toró lhe fala – De qualquer forma, ainda precisamos fugir do Porto do Rei Pirata.

– Tudo bem. Dez minutos é o bastante.

– Então se prepare. Vamos desacelerar.

Os dois navios vão aos poucos parando, conforme se aproximavam.

– Ei, Sharon! – Wolfgar é o primeiro a acenar empolgado, conforme a aproximação era feita. Todos na Estrela de Pedra olham com estranheza.

"Uma elfa amiga de um anão?!" era o que passava na cabeça de todos. A orquina se contorcia de raiva vendo isso.

Sharon sorri e acena feliz. All Thorn responde ao aceno, sem esconder sua felicidade. Afinal, ela havia sido levada para longe como uma forma de atingí-lo. O feiticeiro Ic'tlun havia feito isso como uma pequena vitória no meio de sua grande derrota.

Os outros fazem um breve aceno e todos esperam os navios pararem a uma distância apropriada para que possam se reunir.

Sharon salta para o navio deles, deixando, sem perceber, seu novo amigo angustiado, olhando ao redor sem saber o que fazer.

– Aqui estão vocês! Finalmente! – A elfa diz, devolvendo o abraço de Wolfgar.

– Sharon, fico muito feliz e aliviado que esteja bem. – All Thorn lhe fala com a voz emocionada. – Não era pra ter acontecido aquilo. Se eu pudesse ter evitado de alguma forma, não teria deixado ele te levar daquele jeito.

– Eu sei disso. Não se preocupe, acontece. A gente já se salvou um ao outro tantas vezes!

– Minha bela amiga elfa, o que aconteceu exatamente? – Haseid agora perguntava, gesticulando daquele jeito exagerado e teatral. – Onde você esteve durante tanto tempo?

– Trabalhando em uma mina. Já disse que sou quase uma anã? – Sharon pisca pra Wolfgar, que sorri em resposta.

– Bem-vinda, minha amiga! – Ezelius, o feiticeiro, se aproxima também. – Vocês tem muito o que falar, mas será que podemos conversar navegando?

– Bem-vinda de volta. – O monge Ild coloca a mão no ombro da elfa em cumprimento e se afasta.

Sharon responde ao Ezelius com um gesto de confirmação com a cabeça.

– Espera! Vocês precisam conhecer a turma da Estrela de Pedra, que me ajudou, e meu novo amigo Neriom. Depois vamos embora o mais longe possível dessa ilha maldita, continuar nossa missão de plantio.

– Do que você está falando? – Ezelius franze a testa. – Estamos indo exatamente praquela "ilha maldita"!

As Sementes do Mundo InferiorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora