#13 - A Casa de Yoglinor

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"Ild d'Ragon vem de uma pequena ilha desconhecida, que ele chama de Ioglazil. Ela fica a leste do reino de Yoshidan, sendo tratada, de certa forma, como parte do reino. Apesar disso, é um lugar bastante verde onde, diferente do reino, humanos não predominam. É uma ilha pequena, onde se encontra um monastério. Foi lá que Ild se tornou monge e aprendeu a lutar sem armas. Quando o conheci, ele não tinha a aparência que tem hoje. Sua pele era mais dura e avermelhada e seu aspecto era meio monstruoso. Até seu crânio tinha volumes estranhos nas laterais da testa, como se houvessem chifres escondidos sob a pele. Foi somente após um ritual purificador na fonte de Coração Verde que ele mudou sua aparência para a de um elfo decente, deixando para trás a herança de sangue de seu pai maligno, Golvoczur."

Em uma mesa de bar, uma caneca é colocada com força, quase como se estivesse caindo.

– Então isso aqui é o tal blugon? – Sharon pergunta, com um sorriso no rosto e sem soltar a caneca.

– É sim! – Neriom responde, bebendo lentamente da caneca que segura com as duas mãos.

O bar no térreo da Casa de Yoglinor não está muito movimentado. Um oganter vestido com túnica de religioso bebe no balcão. Um goblin conversa alegremente com uma efana em uma mesa do canto. Em outra mesa, uma oganter e uma cambiona vestidas com pouca roupa bebem melancolicamente, mal trocando palavras. No balcão, um cambion atende os poucos fregueses.

– Estou com saudade de cerveja anã, mas quer saber? Isso aqui é muito bom! É refrescante, parece até estar gelada e nem está tão gelada assim!

– Verdade. – Neriom responde distraído, olhando ao redor.

– Como é que eles fazem essa bebida tão boa?

– Leite de gosma de placa.

– É o quê? Você já está é bêbado!

– Oi? Eu não! – o gnomo recobra a atenção e encara sua amiga. – Por quê?

– Não está falando coisa com coisa.

– Você não perguntou como faziam o blugon?

– Foi.

– É leite de gosma de placa!

– Tá. – A elfa muda a expressão para uma mais preocupada. – E o que é isso?

– É como chamam blugon na língua dos gnomos. Em Jorneikanto é blugon mesmo.

– E isso quer dizer o quê, Neriom?

– Quer dizer que eles mantém uma gosma de placa por aqui, de onde tiram a bebida! Tá tão difícil assim de entender?

– E o que é gosma de placa?

– Ah, entendi. Vocês não ter gosma de placa lá em cima. Gosma de placa é um verme grandão. Fica maior do que eu. Se ele for alimentado direito, dá um leite bem gostoso. Isso é o blugon!

Sharon franze a testa e faz uma careta, olhando para a caneca e para o amigo gnomo alternadamente.

– Eu devia ficar com nojo disso, mas quer saber? Isso aqui está muito bom! – Ela bate a caneca na mesa novamente. Desta vez, vazia. E limpa a boca com as costas da outra mão. – Espera. Isso é sério mesmo? Não tá fazendo outra das suas brincadeiras, está?

– Não, amiga gigante! Dá uma olhada depois lá dentro, quando pedir outro blugon!

Os dois bebem e festejam, tentando evitar tratar do motivo da comemoração. Enfim, vão para um quarto pequeno, com duas camas baixas e um guarda-roupas. Neriom simplesmente despenca em uma delas e começa a dormir, com o chapéu cobrindo parte da cabeça. Sharon sorri e retira o chapéu, pendurando-o em um dos ganchos do lado de fora daquele guarda-roupas, e vai olhar a janela pelas frestas, sem abrí-la.

Logo que amanhece, a elfa sai do quarto, deixando o colega dormindo.

– Pois não, em que posso ajudar? – o cambion pergunta à elfa, com atenção. Há apenas uma mesa ocupada no momento, a do religioso de ontem.

– O que você tem para o desjejum?

– Temos pão com pasta.

– Pasta de quê?

– É uma pasta que nós fazemos. Leva ovos, carne e...

– Tá, tá, vou querer isso aí. E uma caneca de blugon.

– Tudo bem. – Ele sorri, escondendo alguma ironia, mas vai preparar o pedido.

Sharon percebe dessa vez que na cozinha há uma divisão, como um chiqueiro. É de onde o cambion traz a caneca cheia. Em cima do fogão, na bancada que separa a cozinha do restante do bar, tem uma panela enorme com a tal pasta. Uma pasta meio alaranjada. No fim das contas, é um café da manhã até aceitável para a elfa. Principalmente pela companhia do tal leite de gosma.

– Sabe o gnomo que está hospedado comigo?

– Sim, o de chapéu branco.

– Ainda está dormindo. Pode serví-lo quando aparecer e dizer que volto logo, certo? Preciso resolver umas coisas.

– Tudo bem. – O barman sorri de um jeito malicioso, coçando sua barba pontuda, como a de um bode.

Ela sai do lugar pisando forte, irritada, pensando no quanto as pessoas só pensam em sacanagem.

O céu azul ilumina o lugar, mas nada ainda do Sol. Algumas pessoas transitam para a feira e é o que ela resolve fazer. Seu objetivo é descobrir uma forma segura de sair de uma vez desse lugar. Ela volta para perto da praia a ponto de presenciar uma estranha abordagem. Um marinheiro discutia com alguns soldados. Já havia algumas pessoas perto assistindo. Um novo soldado se aproxima com um papel e uma garrafa. Entrega o papel ao homem e coloca a garrafa na água. Aquele enorme navio de pedra começa a encolher e ser puxado para dentro do objeto. Os soldados gritam mais alguma coisa com o marinheiro e marcham dali triunfantes.

As Sementes do Mundo InferiorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora