#06 - Várias Aventuras

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"Haseid mais uma vez procurou um bom lugar para acamparmos. Encontrou um pequeno vale cercado de árvores, um lugar perfeito e inacessível. Utilizei a habilidade do Açor Real para instalar um alarme mágico no local e me prontifiquei como guarda. Ezelius precisava dormir bem para recuperar sua magia. Ild ficaria com o segundo turno. A noite nos trouxe barulhos quase imperceptíveis de um predador se aproximando. Com o Açor Real, armei uma flecha e fiquei à espera. Se a criatura aparecesse, eu a alvejaria na esperança de que desistisse da caçada, para que meus amigos conseguissem dormir. Se ela não aceitasse esse convite, haveria um combate e todos seriam envolvidos. De repente, aquela pantera enorme apareceu na entrada e me encarou por um tempo. Simplesmente se foi, sem necessidade de disparo. No mais, a noite transcorreu normalmente."


O dia segue igual a todos os outros. Um dia de muito trabalho, repetitivo e inevitável. Cansativo. Mas o dia termina, como todos os outros, e logo estão Sharon e Neriom conversando enquanto comem sua única refeição do dia.

– E aí? Apareceram aranhas gigantes? Como foi isso?

– É, elas estavam escondidas e tinha teias delas armadas por todo o lugar.

– Que perigoso! Elas eram de que tamanho?

– Quase do meu tamanho.

– Ha ha! Você é engraçada.

– Por quê?

– Você é muito alta, mas não é gigante.

– Você quer ouvir essa história ou não?

– Tá bem, continue!

– Não tem muito o que continuar. Eu vi as teias e evitei, mas quando as aranhas apareceram e eu tive que lutar contra elas, terminei presa nessas teias. Depois elas fizeram um casulo comigo. Acho que não estavam com fome ainda.

– Se você disser que morreu, eu não vou acreditar em você.

– Um grupo enviado por Flamdarir apareceu e me salvou.

– Por quem? Flamdarir, o grande mago?

– Sim, o próprio.

– Nossa, que sorte!

– E você? Tem alguma aventura interessante para contar, pequeno?

– Ah, já tive várias aventuras, mas todas pequenas e bestas. Nenhuma teve Flamdarir no meio, amiga gigante. A maioria teve a ver com proteger a plantação de cogumelos. Você nem imagina quanto bicho quer atacar uma plantação bonita! Já teve ouriços de fumaça, ratazanas das cavernas, cervos derretidos... Eu é que protegia a plantação. Sempre fui o mais corajoso da minha família.

– Não duvido. – Sharon responde, pensando na coragem que é necessária para uma criatura tão pequena deixar a segurança do seu lar só para conhecer uma floresta. Coragem ou estupidez, ela ainda não tinha certeza.

– Quando veio o cervo derretido, foi uma boa aventura! Conhece esse animal?

– Não faço ideia do que seja.

– Parece muito com um cervo, mas anda que nem cobra no chão. Tinha um desses atacando nossos cogumelos direto. Eu tentava pegá-lo, mas ele se escondia. Então um dia eu preparei um pote de cozido de cogumelos bem cheiroso e apetitoso. Deixei ali na beirada e fiquei de tocaia. Quando o bicho finalmente apareceu, eu lutei com ele usando meu cajado! Ah, você tinha que ver! Eu botei ele pra correr e nunca mais ele apareceu de novo. Foi uma aventura e tanto!

– Com certeza. – Sharon responde, sorrindo com a empolgação do gnomo.

– Mas as suas histórias são mais emocionantes. Conta outra!

– Tudo bem então. Teve um dia que estávamos descendo uma colina, fugindo de harpias.

– Uma o quê?

– Parede de pedras.

– Fugindo de quê que eu não entendi.

– Harpias! São monstros que parecem corujas gigantes, mas têm uma cara de mulher.

– Ha ha! Qual o tamanho?

– É quase do meu tamanho.

– Ha ha ha ha ha! Continue, gigante! Ha ha ha ha!

Sharon olha com estranheza o divertimento do gnomo, mas segue a narração.

– De repente, Wolfgar caiu de lá de cima. Pensei logo: "Ele vai morrer". Eu tinha esquecido que ele estava com a Pancada de Roko.

– E o que é isso?

– Um artefato mágico de sangue, como o meu Açor Real. Um dos poderes da Pancada de Roko é o de resistir a qualquer queda, desde que caia em chão, rocha, areia ou pedra.

– Nossa, então ele escapou e não sofreu nada!

– Foi! E eu já tinha usado todos os meus disparos mágicos.

– O que é isso?

– Eu consigo colocar magia numa flecha. Pra ela explodir ou para cegar quem for atingido.

– Legal.

– Por falar nisso... Neriom, você disse que foi chamado por Kreskajia, certo?

– Sim, eu fui.

– E você aprendeu alguma oração que funcione? Alguma coisa que possa ser útil aqui?

– Muito pouco. Eu sei uma de cura, uma de dar ordens...

– Você sabe o quê?! Dar ordens!? E por que não usou ainda?

– Eu não sei a língua deles!

– Você não precisa falar a língua deles! Só precisa saber como eles falam pra gente se aproximar e pra gente comer!

– Comer?

– Claro! Você ainda está com aquele cogumelo?

– Estou. O que você está pensando?

– Neriom, meu amigo, amanhã nós vamos sair daqui.

As Sementes do Mundo InferiorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora