espertei do nada com a cabeça latejando, as memórias da noite passada começaram a surgir e o arrependimento a bater. Tinha ficado por conta do caralho e feito coisas que jamais faria, tipo conversar com o babaca.
Ninguém havia acordado, pelo contrário, o que mais se escutava eram roncos vindo pela casa inteira. Eu por ter chegado mais cedo já estava desperto, fui pro banheiro, joguei uma água no rosto e dei aquela mijada matinal.
Decidi comer uma banana e tomar um café pra dar um levante, até talvez treinar um pouco do lado de fora, fazer qualquer coisa que me livrasse das lembranças e dos pensamentos. Se não faltassem apenas três dias pra ir embora eu iria assim mesmo.
Coloquei um treino no youtube pelo celular e fui pro deck descarregar a raiva na força física. Era só assim. Mas a minha cabeça não me deixava não pensar, não pensar no ódio que me causou quando vi Sophia ficando com outro, não pensar nas coisas que Bernardo me falou e até nas coisas que Mike decidiu dizer. Não queria pensar em nada daquilo, mas era inevitável.
Uma culpa muito grande tomou conta do meu corpo e eu queria muito me livrar disso. Só de pensar no momento em que ri de Henrique e na feição de decepção que Sophia me olhou, me doía.
Não conseguia nem treinar direito, já que perdia toda minha concentração. Bufei desligando o celular, joguei a toalha no meu ombro e entrei em casa dando de cara com Henrique entrando na cozinha.
Fiquei paralisado na porta dos fundos pensando. Um lado meu não pensava em nada e só dizia "vai tomar seu banho e fodase" e outro lado dizia pra eu pedir desculpas. O conflito interno era do caralho.
— Quer falar alguma coisa, fala. — ele disse se inclinando por cima da bancada da cozinha.
— E. eu...
— Só não fica parado igual idiota aí no meu do corredor, você não é vítima pra se fazer de coitado. — disse grosso.
Respirei fundo, o verdadeiro Ian mandaria ele tomar no cu, mas eu não tava nessas condições. Balancei a cabeça negativamente e fui em direção da cozinha.
— Só queria te pedir desculpas pelo que aconteceu no dia do churrasco, fiz aquilo com outra intenção e agora tô me fodendo com as consequências. — falei parado na entrada da cozinha enquanto ele catava coisas pra comer.
— Você foi homofóbico, você sabe, né? — me olhou debochado.
— Sei, mas... Sei que não tem como justificar, não tenho problema nenhum com isso, na verdade já desconfiava de vocês e isso não me diz respeito, mas quis atingir tua irmã e...
Ele me interrompeu. — Quis atingir minha irmã? O que ela te fez, garoto? — disse quebrando ovo na frigideira.
— Nada, não fez nada, só quis afastar ela, parece mentira, mas não é. Enfim, foi mal! — disse e me virei pra sair.
— Ian? — olhei pra ele. — Não magoa mais a minha irmã. Se você não sente absolutamente nada por ela, continua com essa farsa e deixa ela te odiar, assim é mais fácil.
Balancei a cabeça positivamente engolindo a seco. Virei de volta pra subir, mas minha cabeça também dizia outra coisa.
— E se eu sinto? — perguntei virado de costas.
— Aí é de cair o cu da bunda. — ele bufou e eu ri comigo mesmo.
De vez subi pra tomar meu banho, mas com a mente mais a milhão do que antes. Já não sabia mais o que fazer, mas pelo menos um peso eu tinha tirado de mim.
SOPHIA
— Bora fazer um luau? — Laís sugeriu.
— Lá vem Laís e as invenções dela. — Giovana riu.
— É sério, nosso último final de semana aqui, nada mais justo. — ela disse animada.
— Tem nem praia aqui. — Mike disse desanimado.
— Mas tem o nosso lago! — Luma disse apontando pra porta dos fundos.
Estávamos almoçando todos na mesa dentro de casa, Bernardo tinha feito uma lasanha maravilhosa e o papo tava rolando solto a respeito de qual seria a boa pra despedida da nossa humilde cabana.
Eu não estava participando muito da conversa, minha cabeça estava em outro lugar, sabe... em Ian. A noite passada foi incomum, fui feliz pra curtir sozinha e aproveitar comigo mesma, mas era pesado ver Ian e não falar com ele, mais pesado ainda vê-lo sentir raiva.
As horas foram passando, fomos dispersando, ficando bêbados, até que ele sumiu e um amigo da Luísa apareceu querendo ficar comigo, claro que eu fui, não com tanta vontade, mas ele era gato e me surgiu um pequeno interesse.
Até o momento que escutei vidro se estilhaçando no chão, Ian bufando de raiva e saindo com os pés batendo no chão ao me ver. Aquilo me machucou pra caralho, me deixou confusa e desesperada. Se não fossem meus amigos me trazendo a diversão novamente, minha noite tinha acabado ali.
— Isso, e a gente pode comprar aquelas luzes amarelas que penduram e deixam um efeito super vibes, ia ser legal. — Amanda opinou.
— E a gente chamaria gente de fora? — Bernardo perguntou.
— Do Rio de Janeiro? — Laís fez careta.
— Não, o pessoal que a gente conheceu aqui. — ele disse.
— Ah, acho que sim, né? Luísa, os primos dela, Lorena, aquelas meninas... — Analu disse.
— Lorena pra quê? — Amanda olhou pra ela ciumenta. Rimos.
— Para de bobeira! — Analu deu um selinho nela.
— Eu acho que vai dar bom. — Theo falou.
— Com muita Luisa Sonza, Iza, Anitta, Pablo Vittar... — Henrique falou sorrindo.
— Luau é natiruts, charlie brown, maneva, nada de Anitta. — Mike provocou.
— Por isso que o luau é nosso, não dos outros. — Laís piscou pra ele provocativa.
— Não gostou da ideia, amiga? — Giovana chamou minha atenção fazendo todos me olharem.
Tomei um susto enquanto brincava com a comida e a olhei sem resposta. Eu estava escutando, mas nem opinião eu formei, já que eu só pensava em outras coisas.
— Gostei ué, por mim pode ser. — disse qualquer coisa.
— E você? — Bernardo olhou pro irmão que também estava distraído.
— Eu o que? — Ian perguntou.
— Topa o luau?
— É com vocês, por mim... — deu de ombros.
Nosso olhar se encontrou por alguns segundos, mas logo desviamos. Eu não sabia o que sentir por ele, tava decepcionada com o tipo de comentário que ele tinha feito ao meu irmão, mas com saudade de aliviar minhas dores psíquicas com ele.
Deixei eles planejando o tal do luau pra noite, coloquei meu prato na pia e subi pro meu quarto, queria aquele cochilo pós almoço.
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Como consequência
RandomTrancados em uma cabana no meio do nada durante um mês, um grupo constituído por dez jovens adultos que são da mesma família precisam achar meios para se comunicarem e se darem bem, já que eram o total oposto. Dramas românticos, brigas entre amigos...