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IAN

Cheguei na academia no pique pra treinar. Tinha desafiado o Patrick - pai da Sophia - e mesmo sendo um coroa, era um coroa bem do inteiro. Qualquer um da academia se rendia pra ele, mas eu não sou qualquer um.

— Cadê Sophia? — ele perguntou assim que pisei no tatame.

— Não vai vir hoje, foi resolver problema dos outros. — dei de ombros.

— Esse outro eu conheço bem? — eu assenti. — Quando que isso vai acabar? Tá foda.

— Quando ele dar um fora nela bem dado. — disse sincero. Ele me olhou com aquele bico marrento dele. — Foi mal, mestre.

— Chega de papo! — ele mudou de assunto. — José, Luís, venham pro fight.

— Agora o negócio vai ficar bom. — esfreguei uma mão na outra e encarei ele o desafiando.

Não demorou muito pro negócio ficar feio, José começou perdendo bonito pra mim, Luís não aguento nem poucos minutos e eu estava pronto pra enfrentar o mestre dos mestres.

O fôlego? Não sei, só sei que eu estava puxando de onde eu nem sabia que saia. Meu corpo ainda tinha a força de um touro e as técnicas aprendidas durante todos esses anos estavam frescas na minha cabeça.

Ele já começou me derrubando bonito no chão. — só por ter desejado que minha filha levasse um fora.

Eu soltei um riso de lado sarcástico e levantei me recompondo novamente. Foi uma luta acirrada, era grito de Luís e José de um lado torcendo pro chefe e Scar, Tina e Sarah que surgiram do nada torcendo pra mim.

— É Patrick, parece que sua família tá do meu lado. — disse rindo provocativo e soltei uma piscada.

Ele balançou a cabeça negativamente e deu um jab cruzado bonito no meu rosto em seguida um corte fazendo mais uma vez meu corpo ir de encontro ao chão.

Claro que eu não deixei barato e no final das contas fiz meu mestre pedir arrego pra mim. Tá, não foi pra tanto, mas foi quase isso.

— Boa, garoto! — ele jogou as luvas no chão e pegou minha cabeça esfregando meu cabelo.

Eu ri o empurrando e corri pro banheiro.

Ainda tinha aula pra dar pra turma dos pequenos e aquilo foi só um aquecimento, já que o mestre não se contentou com a perda e me desafiou pra mais uma no final da noite.

Sentei no banco que tinha na frente dos armários e deixei as luvas de lado. A única coisa que ficava passando na minha cabeça era o diagnóstico que o meu psicólogo me deu de manhã

Eu já sabia desde pequeno que eu carregava esse transtorno, o difícil era saber que metade das suas ações acontecem por causa disso. Transtorno Desafiador Opositivo era o nome, pra facilitar TOD.

A luta me ajudava a controlar meus comportamentos, Patrick era meu grande mestre e ainda por cima era quem eu queria me espelhar.

Entrei pra luta quando eu tinha 7 anos e por conta do meu jeito de encarar todo mundo, me irritar fácil, quebrar regras, discutir com adultos, minha mãe e meu pai decidiram me "disciplinar".

— Orgulhoso? — José perguntou entrando no vestiário.

— De ter ganhado do mestre? — ele assentiu. — Muita coisa.

— Como tá teu irmão? — ele perguntou abrindo seu armário.

— Babaca como sempre. — ri.

— Teu gêmeo. — brincou e eu mandei o dedo médio.

Ele saiu do vestiário rindo, eu aproveitei pra procurar uma toalha no meu pra secar meu rosto e minha mente não conseguia parar de trabalhar.

Bernardo me irritava muito com essa parada de dar ideia para os problemas da Sophia. O problema não era ela em si, e sim as doideiras que Mike fazia ela se submeter, praticamente se humilhar.

Óbvio que eu sabia que meu irmão era doidinho na mina, a única pessoa que não queria enxergar isso era ela mesma, mas mesmo assim ele ficar que nem cachorrinho tentando fazer ela enxergar as coisas me fazia ter raiva.

E só de saber que eu iria conviver todos os dias, 24h, durante um mês com essa galera toda da minha família me dava calafrios. Eu que lute pra me controlar bem.

Sai do banheiro novo em folha, dei uma treinada rápida na academia enquanto não dava o horário dos alunos e depois fiz o meu trabalho.

No fim da noite meu mestre deu sorte de ganhar de mim, mas apenas sorte mesmo. Peguei um uber pra casa do meu brother Felipe que eu precisava pegar umas paradas com ele antes de partir pra minha casa.

— E aí mano, sumiu mermo. — ele bateu nas minhas costas enquanto entrávamos na kitnet dele.

— Dei um tempo dessa vida, mas vou viajar e preciso pra não enlouquecer. — suspirei.

— Só erva boa que eu peguei da última vez, tá com sorte meu mano. — ele disse abrindo uma gaveta de uma mesa cheia de bagulho espalhado. — Mas aí, viagem de playba?

— Que que cê acha? — olhei sério pra ele.

— Com o dinheiro da tua família não tinha como não ser. — ele riu. — E ai, qual vai ser?

— Quero da melhor. — disse mostrando 200 conto pra ele.

— É por isso que os playba são os melhores clientes. — ele arrancou o dinheiro da minha mão.

Continuei sério esperando ele me entregar minha parada, aproveitei pra virar um gole de tequila que ele tinha em cima da bagunça e assim que ele me deu meti meu pé.

Coloquei meu fone ouvido, guardei a maconha no bolso e fiquei esperando o uber chegar. Felipe tinha me enchido o saco pra ficar e apertar um com ele, mas queria fumar sozinho quieto no meu canto e no silêncio, ao contrário disso Felipe falava pra caralho e não me daria descanso.

Como consequência Where stories live. Discover now