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MIKE

Três dias depois da minha briga com minha irmã tinham se passado e eu evitei todos esses dias ficar naquela casa, só chegava pra dormir.

No dia seguinte, terça, eu saí e fiquei o dia todo fora com um primo da Luísa que me chamou pra um churras. Quarta eu fiquei com a Luísa na casa dela a tarde toda e hoje, quinta, Laís me colocou pra passar o dia na rua fazendo compras e ainda mandou Giovana junto.

— Cerveja, tequilas, vodcas, refrigerantes, aquela gin tônica da skol beats, carne, linguiça, pão de alho, asinha, coração, queijo coalho, carvão, buscar as mesas e cadeiras, o número 17 em bola, reservar o bolo, comprar descartáveis...

Laís repetiu toda a lista das coisas da festa pra gente do lado de fora do carro e mais uma vez tínhamos esquecido de anotar alguma coisa na lista, então ela repetiu novamente e eu já estava quase dando partida e deixando ela falando sozinha.

— Entendemos, Laís, pode deixar! — Giovana sorriu pra ela que assentiu ansiosa.

Nós saímos e fomos rumo ao centrinho que tinha. Domingo era aniversário de Theo, então além de sábado ser surtação total com o pessoal do rio, era comemoração do aniversário dele também.

— Sumiu, hein. — ela cortou o silêncio.

— Depois daquilo quis respirar fora daquela casa. — suspirei.

— Todos nós. — ela respirou fundo. — Mas não adianta fugir, sabe?

— Eu sei, eu não fugi Giovana, eu saí pra pensar e não fazer besteira. Eu sei que eu passei dos limites, fui escroto e não é porque eu tava na rua que eu tava bem. — disse sincero.

— É a impressão que dá. — disse amargamente.

— Não tô bem, cara. E isso não justifica o que eu fiz, mas eu não tô fazendo isso tudo de sacanagem, eu só não estou conseguindo lidar nem comigo mesmo. — disse sério e ela ficou em silêncio me olhando. — Muita coisa na minha cabeça, é você, é Luma, é meu pai...

— Que que aconteceu com seu pai? — ela perguntou preocupada.

— Com o Pedro nada, mas... — ela franziu a sobrancelha. — Eu descobri sobre meu pai biológico e ele não é um cara pra se admirar, tá ligado?

— Meu Deus Mike, eu não sabia. — ela levou a mão na boca.

— Só Laís sabe, relaxa. — ri de nervoso. — Enfim, isso não envolve só a mim, mas também meus pais e eu queria que essa história que perturbou tanto eles tivesse finalmente cessado lá atrás.

— Mas cessou, Mi. Letícia já está distante, não importa quem seja seu pai, eles não vão ligar.

— É um cara que fez muito mal a minha mãe, Gi. Se ela descobrir isso ou meu pai, eles vão ficar muito pra baixo. — disse engolindo a seco. — Me sinto culpado pra caralho.

Mesmo sabendo que eu não era um fardo pra eles, as vezes eu sentia que minhas origens só traziam dor de cabeça pra duas pessoas incríveis que não mereciam nada disso.

— Você não é culpado. — ela disse firme se sentando de lado pra ficar de frente pra mim. — Você sabe o amor que os seus pais tem por você e por suas irmãs, é lindo de se ver. Nenhum de vocês tem culpa da maldade que outros tem no coração.

— É, eu sei. — meu tom de voz se acalmou e até saiu mais baixo do que eu esperava.

— Esquece essa história, sabe? Vive suas férias com mais leveza, para de dar peso para as coisas ruins que acontecem e só resolve e se não quiser resolver agora, deixa pra depois.

Eu balancei a cabeça positivamente devagar. Eu sabia que ela tava certa e por enquanto eu precisava deixar esse lance de paternidade de lado.

Talvez se eu não pensasse mais no assunto, isso desaparecesse da minha vida. Não era necessário que eu contasse isso pra ninguém muito menos que eu o conheço, minha família é a minha família e pronto.

— E você sempre me ajudando em tudo. — sorri pra ela tirando a atenção da estrada.

— Só que você precisa se ajudar também, tenho certeza que nem você nem sua irmã estão bem com esse tanto de intriga entre vocês, além disso você precisa se desculpar, né?

— Preciso, mas vou dar um tempo pra ela, sei que agora ela tá com raiva e eu e ela passamos a vida inteira brigando, preciso colocar as ideias no lugar pra gente ter uma conversa séria. — disse decidido.

— Agora você tá falando como um adulto de 26 anos. — nós rimos. — Assim você para de ser um ranzinza e um encrenqueiro, e ainda de quebra resolve todos os seus problemas.

— Todos não. — olhei pra ela de rabo de olho que sorriu sem graça e se ajeitou no banco.

Não ia mais uma vez dizer o quanto eu queria ela na minha vida, sabia que ela tava relutante e não queria estragar o momento.

— Mas você acha que ele tá de boa intenção com a Luma? — perguntei pra mudar de assunto.

— Claro que sim, você conhece o Bernardo? Dizem que a Sophia é a pessoa mais doce, mas pra mim é ele, sem sombra de dúvidas. — ela disse com total certeza.

— Pra mim a pessoa mais doce é você. — provoquei ela com um sorriso safado de lado e ela riu empurrando meu ombro.

Foi o tempo de parar em frente ao mercado e pararmos de conversinha. Agora era hora de satisfazer as vontades da dona Laís.

Como consequência Where stories live. Discover now