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LAÍS

Eu não sei o que passou na minha cabeça na hora de alertar a Sophia sobre o "paradeiro" de Mike. No caminho da casa dela eu fiquei super arrependida, mas não era mais tempo pra isso.

No geral minha vida é um arraso e eu amo. Meus pais são os pais mais fodas, divertidos e doidos do mundo. Dois putas profissionais nos trabalhos e vivem uma vida muito fantástica mesmo mais velhos, muito meu intuito de vida.

Eu levo um tipo de trabalho corrido, mas incrível. Eu amo estar em contato com a internet e com as pessoas que vem acompanhado dela, amo ser modelo, influenciadora e acima de tudo, famosa.

Tá, pode parecer que com todas as coisas que eu falei significa apenas uma coisa: que eu sou uma chata mimada. Pode até ser de um certo ponto, mas eu não me limito a pensar assim.

Estacionei na frente da casa de Sophia e comecei a buzinar pra que ela saísse logo e fôssemos atrás do meu amigo que só faz merda.

— Ê ê, calma! — ela disse abrindo a porta de pressa e entrando. — E aí, no de Copa ou no daqui da Barra?

— No de Copa. — eu afirmei.

Era fato que ele tinha ido pra um dos hotéis do nossos pais, lá tínhamos um quarto super escondido onde íamos pra espairecer, ficar sozinhos e pensar.

Sabia que não era uma boa ideia invadir a privacidade dele, mas eu sabia que ele estava mal e eu não podia deixar ele sofrer sozinho, ainda mais Mike que só sabia se fechar.

Nem fomos conversando muito durante o caminho. Ela controlando a respiração ao meu lado me fez ficar mais ainda arrependida de ter trazido ela. Se o problema fosse sofrer por Gio, isso afetaria também a Sophia e aí que a merda começa.

Estacionei meu carro na vaga de funcionários e subimos de elevador até o hall do hotel. Eu segurei a mão de Sophia pra ela saber que eu estava ali pra ela assim como estávamos pra ele.

Ela olhou pra mim com o sorriso meigo que ela sempre teve e eu me senti grata por de alguma forma, mesmo passando muito estresse, ser amiga desses meus problemáticos.

— Oi pai, não sabia que estava aqui. — disse soltando a mão dela e indo na direção dele.

— Deu um problema na administração e eu tive que vir, mas o que vocês estão fazendo aqui? — ele perguntou confuso mexendo no ipad dele.

— Viemos ficar no bar, ué. Não podemos? — menti.

— Claro que podem! — ele sorriu animado sem tirar a atenção do ipad. — Mas numa quarta? — levantou o olhar pra gente.

— É tio, somos assim mesmo, vamos indo, ok? — Sophia disse apressada.

Ele assentiu nos olhando desconfiado, mas ela me puxou tão rápido em direção do elevador que não deu nem tempo dele questionar mais alguma coisa e também não seria problema.

A questão é que não queríamos que ele ficasse nos enchendo perguntando se podia ajudar com alguma coisa ou não, afinal, nossos pais sabiam que quando víamos pra cá não era por uma boa causa. Ou estávamos passando problemas ou querendo transar muito escondido.

Chegamos no andar que ficava nosso quarto com reserva vitalícia, destrancamos a porta e encontramos Mike deitado na cama olhando pro teto que sentou na hora pra nos olhar.

— O combinado do quarto não era ter privacidade? — ele perguntou com o olhar caído.

— Sim, mas você nunca some sem falar pelo menos alguma coisa. — fechei a porta atrás da gente. — Você sempre avisa, manda mensagem, além disso me ligou e não me atendeu nunca mais. Fiquei preocupada.

— Tô mal! — ele disse e se jogou de volta na cama.

Sophia deixou a bolsa em cima da poltrona no canto do quarto e correu pra sentar ao lado dele fazendo carinho em seu cabelo. Eu continuei em pé sem saber o que fazer ou falar. Era sempre difícil fazer ele desabafar.

— O que aconteceu? — ela perguntou. Eu a encarei fazendo careta que deu de ombros.

— Problemas. — ele disse. — Não seria mais fácil se fôssemos iguais nossos pais?

— Como assim? — puxei uma cadeira pra sentar.

— Eles nunca tem problemas, é sempre festas, família perfeita e unida, empregos maravilhosos, dinheiro no bolso. — ele sentou de volta.

— Mas somos felizes também. — Sophia disse encucada.

— Tá, mas é tanta coisa. Porra, eu já tenho 26 anos e parece que eu só lido com coisa infantil. — ele disse irritado.

— Mike, desabafa logo que eu sei que você quer. Não precisa ficar jogando no ar. — fui direto ao ponto.

— Ainda tenho que lidar com o caralho dos problemas que a Letícia trás pra mim, isso tinha que ter acabado nos meus pais. Fora isso, tem a Giovana também. — Sophia fez careta desviando o olhar. — Parece que eu lido com os mesmos problemas desde novo, vontade de largar tudo.

Balancei a cabeça positivamente mostrando entender, mas eu não tinha o que falar. Eram sempre os mesmos problemas, as mesmas questões e as mesmas pessoas, era chato demais dar os mesmos conselhos também.

Ficamos os três em silêncio. Sophia olhando pra parede ao lado dela sem expressar nenhuma feição, Mike continuava sentado alheio ao mundo e eu focada no rosto dele tentando encontrar uma solução.

— Cara, na moral? — levantei decidida da cadeira. Eles me olharam. — Por que a gente não larga mesmo tudo pra trás?

Os dois franziram as sobrancelhas.

— Pensa só: um mês fora de casa. Um mês longe de Letícia, um mês longe de psicólogo enchendo o saco, um mês longe de internet, um mês longe de pais pra reclamar. — comecei a andar pelo quarto idealizando esse tempo fora.

— É irônico a gente querendo ser mais adultos pedindo justamente o que adolescentes pedem. Paz, dias longes dos pais, longe de obrigações. — Sophia falou.

— É, mas somos menos adultos porque decidimos assim. Nós somos os mais velhos da família e ainda moramos com nossos pais, ainda usufruirmos do dinheiro deles e escolhemos viver os mesmos problemas. — falei.

— E esse um mês longe vai nos transformar em que? Vai nos dar o que? Apartamento, independência, maturidade? — Sophia perguntou irônica.

— Talvez sim. — Mike falou pela primeira vez depois de só prestar atenção. — Eu entendo o que a Laís quer dizer. Um mês pra vivermos longe de tudo, colocar a cabeça no lugar, quem sabe viver novas experiências, aliás, vamos ser os mais velhos da parada, é responsabilidade.

— Sim! — disse sorrindo. — Talvez seja a solução. Talvez seja a chance de vivermos outra perspectiva pra lidar com nossos problemas atuais de outro modo.

— É, pode ser! — Sophia deu de ombros ainda não convencida o suficiente.

— Ah, qual é? Que desânimo é esse? — Mike desceu da cama animado e foi até o barzinho que tínhamos no nosso quarto. — Sophia, vai ser foda! Pensa na casa, na privacidade sem adultos de verdade mesmo, nas merdas que podemos fazer.

— Agora estamos parecendo adolescentes mesmo. — ela riu de nervoso.

— Esse é o intuito. — andei até o Mike e peguei meu copo de dose com tequila. — Um mês sendo adolescentes e depois lidamos com a vida adulta.

— Aí gente...

— Sophia, qual é? Já íamos mesmo pra lá, é melhor irmos animados do que forçados, vem! — Mike chamou ela.

Ela balançou a cabeça negativamente rindo e saltou da cama na nossa direção. Ele entregou a dose dela, nós fizemos um "brinde" e viramos.

Não comentei nada, mas é claro que eu também tinha as minhas tretas da vida. Além da internet, mesmo a amando, me consume muito, a minha viagem de Porto também tinha me dado um problemasso. Problemasso esse que tem nome e sobrenome, mas era assunto pra outra hora.

Como consequência Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt