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Eu não fazia ideia do que ele ia falar, não sabia se ia ser ruim ou se ia ser bom, só sei que eu estava extremamente nervosa.

Nós fomos pro mesmo lugar que da última vez, mais afastados da casa e sentados no deck observando a lagoa a nossa frente.

— Tá tudo bem? — ele me perguntou parecendo preocupado.

— Sim e com você? — respondi calmamente.

— Mais ou menos, talvez melhor depois dessa conversa. — ele suspirou. Continuei olhando pra ele esperando a tal conversa. — Sei que ontem te magoei e já quero pedir desculpas por isso, eu nunca quis fazer isso intencionalmente e dói saber que causei mal em você.

— Tá tudo bem! — estampei um sorriso amarelado nos lábios.

— Essa é a questão, não está tudo bem. E faz tempo que não está tudo bem. — ele disse sério.

— Como assim? — franzi a sobrancelha.

Eu sabia onde aquela conversa ia acabar, mas não queria acreditar, mas posso adiantar que eu já conseguia sentir o sangue quente correndo pelas minhas veias.

— Você pediu pra eu não ligar pra essa loucura na nossa última conversa, mas não vai dar, Sophi. Preciso ser sincero contigo, sincero comigo, entende? — ele pegou na minha mão.

Eu puxei de volta com raiva. — Você já foi sincero comigo, Mike.

— Queria ter sido. — ele riu de nervoso. — Eu fico pensando "como caralhos eu deixei essa porra chegar tão longe?" e foi por medo, então eu nunca deixava nada claro.

— Então fala, Mike! — aumentei o tom de voz grossa.

— Então... — ele estufou o peito como se tomasse fôlego. — Você sabe que eu gosto muito de você, desde que éramos pequenos não queríamos desgrudar e nossa amizade é uma das coisas mais importantes da minha vida, mas...

Eu o interrompi. — Mas você é apaixonado pela Giovana. — ri sarcástico.

— Não, isso não tem a ver com a Giovana, Sophia. — ele se ajeitou ficando mais de frente pra mim. — Eu te amo, só que não dá mesma forma que você me ama, e sei que insistindo nessa relação entre nós dois é uma forma de te machucar mais ainda. Eu não quero isso, eu quero que você siga em frente, você merece muito.

— Já acabou? — perguntei impaciente sem olhar pra ele.

— E eu espero que você entenda que eu estou sendo sincero com você pelo seu bem, nós dois sabemos que isso só tendia a piorar e se nenhum de nós colocássemos um ponto final nisso, sabe se lá qual seria o final disso e o que poderia acontecer com nossa amizade.

— Eu já entendi, Mike, posso ir? — olhei pra ele séria.

— Não faz assim... — ele balançou a cabeça negativamente e eu dei de ombros me levantando.

Eu saí dali pisando fundo e rápido. Eu só queria desaparecer, queria pegar o carro e voltar pra minha casa, só eu sei a sensação de querer surtar surgindo dentro de mim.

Meu corpo estava quente, minhas bochechas... nem se falam. Minhas mãos queriam agir por instinto pra agarrar meus cabelos e arranca-los fora.

Passei por Giovana e Laís que estavam conversando discretamente na bancada da cozinha, elas me chamaram, mas eu dei de ombros subindo pelas escadas com muita, muita, muita raiva. E essa raiva era de mim.

Esbarrei em Bernardo no corredor dos quartos, mas não dei a mínima. Abri a porta com força e a fechei com mais força ainda fazendo Analu e Amanda se assustarem.

— AAAAAAAAAAAAAAAAAA! — berrei arremessando um copo que estava em cima da cabeceira na parede.

Elas tamparam os ouvidos me olhando apavoradas e eu continuei pegando tudo que tinha na minha frente pra jogar longe.

Só conseguia pensar o quão merda, insignificante e digna de pena eu era. Ninguém queria me ter por perto, ninguém sentia o mínimo de sentimentos por mim, eu era um completo nada.

Bernardo entrou assustado no quarto e as meninas aproveitaram a deixa pra sairem correndo pra fora também. Só conseguia me sentir um lixo, um monstro.

— Sophia? — ele me chamou com a voz trêmula. Eu continuei respirando ofegantemente enquanto olhava em volta os vidros no chão. — Sophia?

— O que é, Bernardo? — me forcei a falar com raiva.

— O que tá acontecendo? — ele disse se
aproximando lentamente.

— O Mike terminou comigo, só isso, tá bom pra você? Ficou feliz? — sorri falso pra ele enquanto as lágrimas corriam pelo meu rosto.

— Não, eu...

Eu o interrompi. — Eu sei que você gosta de mim Bernardo, teu irmão deixa claro isso todas as vezes quando você se comporta como um cachorrinho, mas não precisa rir da minha cara.

— Que? Cachorrinho? Sophia, que que tá acontecendo com você? — ele me olhava confuso.

— É isso mesmo, mas pasme: eu não gosto de você! Você sempre soube disso, aliás, todo mundo sabe, nunca fiz questão de esconder. — disse andando pelo quarto. — E mesmo se gostasse, não adiantaria, eu sou um lixo e você é esse filho preferido da mamãe, o perfeito, o que não faz nada de errado.

— Você não é um lixo. — ele insistiu segurando meus braços pra me parar. — Não deixa sua mente te controlar, você sabe que não quer fazer nem falar nenhuma dessas coisas.

— E como você sabe, hein? — olhei pra ele. Eu sabia que eu transmitia dor no olhar visto sua feição de pena.

— Eu te conheço. — ele disse firme.

Eu gargalhei sarcasticamente.

— Você só conhece a Sophia imbecil, boazinha com todo mundo, aquela que só toma no cu, você gosta dela porque ela é exatamente como você: patética. — empurrei ele.

— Você tá pegando pesado. — ele balançou a cabeça negativamente decepcionado.

— Pois bem, se afaste! — apontei pra porta. — Assim é bom que você para de me encher a porra do saco.

Ele continuou me olhando desacreditado enquanto eu ainda estampava um sorriso doloroso e debochado nos lábios.

— SAI! — gritei desmanchando o sorriso.

Dessa vez, sem pestanejar, ele saiu porta a fora com raiva. E foi só ele fazer isso que eu caí em lágrimas no chão.

Como consequência Where stories live. Discover now