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ANA LUA

Tinha pela primeira vez tomado a pior decisão da minha vida com risco inclusive de ter perdido a minha melhor amiga.

Foi involuntário, já faziam muitos anos que eu sentia essa vontade louca de experimentar alguma coisa com a Amanda. Nunca ousei até porque conhecendo Amanda do jeito que conheço, sei que ela gosta bem de macho, já eu sou o contrário e fui sentir alguma coisa logo por ela.

Quando era criança prometi a meu pai que nunca namoraria e que garotos eram idiotas, acho que levei a sério essa parada, de verdade. Nunca tive quaisquer interesse em homens, já tentei claro, segui a tradicionalidade, beijei primeiro um homem, mas achei tão bleh.

Ninguém sabia que eu não curtia e no que eu curtia. Nunca tinha conversado com ninguém e não por falta de oportunidade porque minha família é bem liberta, mas nunca me senti a vontade justamente pelo fato de ter isso da Amanda guardado também.

Acordei me debatendo toda com um milhão de mosquitos em cima da mim. A dor de cabeça se aflorava cada vez que eu escutava uma voz vindo de dentro da casa, além disso o sol quente praticamente queimava minha pele.

Amanda não estava mais do meu lado e o pessoal da frente parecia dormir que nem anjos. Esfreguei os olhos pra acordar e bufei pensando na merda que eu tinha feito.

— Bom dia! — disse aparecendo na sala com o cobertor jogado no ombro.

— Ficaram até que horas bebendo? Pelo amor de Deus, dormiram até lá fora. — Laís perguntou enquanto servia café em uma xícara.

— Ah, até umas 4 5 horas. — falei me jogando no sofá de preguiça.

— Estamos fazendo o café da manhã. — Sophia avisou mexendo em algo na geladeira.

— Cadê Bernardo e Henrique pra te ajudarem na cozinha? — perguntei.

— Os macho da casa tão tudo dormindo, acham que tem empregada, tão fodidos, isso sim. — Laís disse.

— E Amanda? — perguntei olhando em volta.

— Tá lá em cima deitada. — Giovana falou e eu assenti me levantando.

Subi quase que toda me tremendo pra falar com ela, só queria que pelo menos ela fingisse que nada tinha acontecido, o meu único medo era ela se afastar.

Entrei no nosso quarto e lá estava ela deitada na cama olhando pro teto com os cabelos ruivos caídos pro lado. Ela nem se mexeu mesmo sabendo da minha presença.

Eu não podia ignorar tudo e apelar pra uma confusão mental, isso precisava de diálogo até pra eu pedir desculpas, eu não queria ser igual meus pais em relação a se fechar pra tudo, já que eles mesmo me educaram diferente.

— Bom dia, tá tudo bem? — sentei na ponta da cama dela.

— Oi, mais ou menos. — ela olhou pra mim.

— Olha Amanda, me desc...

Ela me interrompeu. — Eu não gosto de mulher, Ana. E principalmente, não gosto de melhores amigas. Você é isso pra mim e só de pensar algo diferente me deixa confusa e sem saber pra onde ir.

— Eu entendo, é que...

— E se você gostar de mim? E se você não quiser mais ouvir eu falando sobre minha vida pois vai te ferir? E se você se afastar? Sabe, eu tô muito chateada, ao mesmo tempo confusa, não sei.

— Eu não vou me afastar de você ou esperar que você sinta por mim algo diferente. — falei cabisbaixa. — Não quero te perder e por isso vim pedir desculpas.

— Não é desculpas por ser quem é, né? Porque isso eu não aceitaria. Aceito suas desculpas por ter feito algo que podia acabar com nossa amizade, mas não por gostar disso ou sei lá...

— Eu nunca pediria desculpas por ser quem sou, não estamos em 1500. — ri de nervoso.

— Mas parece que você tá presa sim, não contou nem pra ninguém. — ela sentou na cama.

— Tá Mands, eu só queria me desculpar e não conversar sobre minha sexualidade. — desviei o olhar pra parede.

— Tá vendo? — ela riu sarcástica.

Eu a encarei sem entender.

— Você já está mudando. — ela disse. — A gente sempre conversou sobre tudo, se contou tudo e agora isso.

— Eu só não estou pronta, ok? — disse séria.

— Você tem quase vinte, Analu.

— Isso não é questão de idade. — encarei ela. — Bom, já que você me desculpou é melhor você descer pra arrumar la embaixo a bagunça da sala, é sua tarefa, né?

Ela assentiu, mas continuou me olhando querendo respostas. Apenas fiquei encarando a parede pra ela desistir e assim o fez dando de ombros e saindo do quarto.

Foi minha vez de me jogar na cama e olhar pro teto pensativa. Um dia dessas férias idiotas e já tinha dado merda, o que mais viria por aí?

— Posso entrar? — pediu Mike dando batidinhas na porta.

— Entra aí! — sentei na cama de volta e ele entrou fechando a porta atrás deles.

— Qual foi? Tudo bem? — disse esfregando os olhos. Parecia ter acabado de acordar.

— Mais ou menos e você? — perguntei.

— Na mesma. — sentou do meu lado. — Parece que a gente puxou dos nossos pais o azar em relacionamentos.

— Pelo menos no final deu certo. — disse rindo de nervoso.

— Pode crê. — ele assentiu cabisbaixo. — Mas tá foda Analu, tá foda. Giovana aqui, Sophia também daquele jeito, eu já não sei mais o que fazer.

— Só seja você mesmo, Mike. Tenta viver sem pensar um pouco nesse lance com elas, só curte.

— Como? Tô fodido, cara. — ele riu de nervoso. — Aqui não tem muito o que fazer senão estar rodeado dos dois problemas.

— Não tá fácil mesmo. — acompanhei ele na risada.

Parecíamos dois fodidos compartilhando do momento de "tomamos no cu" juntos.

— E você? Por que tá assim? — perguntou.

Eu ainda não tava pronta pra falar nada pra ele mesmo que eu soubesse que meu irmão estaria sempre do meu lado, eu não me sentia completamente confortável com isso.

— Nada não.

— Ahhh Ana, eu sempre compartilho minhas paradas contigo, qual é? — ele disse ameaçando me fazer cosquinha.

— Gente, café tá pronto! — escutamos o grito estrondoso de Laís vindo lá de baixo.

— Tu foi salva pelo gongo, mas não vai me escapar mais tarde. — ele disse sério apontando pra mim e foi descendo na frente.

No geral eu enrolaria ele de qualquer jeito e não falaria nada até porque não estava afim. A foda era agora lidar com Amanda que mesmo depois de me desculpar, ainda seria diferente.

Como consequência Onde histórias criam vida. Descubra agora