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AMANDA

Hoje as coisas estavam bem diferentes pra mim. Não estava tão afim de encher a cara, nem de ficar agarrada com ninguém, a não ser que fosse com Analu, que eu estava até com saudades.

Ontem tinha sido bem legal. Sem surtação ou gente bêbada pra lá e pra cá como normalmente nossas festas eram e que essa tava sendo também. Lá ficamos todos sentados, brincando, trocando ideia, algumas vezes parávamos pra dançar ou pra beijar na boca, mas nada demais.

Ana Lua decidiu partir pra casa cedo e eu continuei, só que não fiquei no mesmo ânimo que antes. Lorena estava comigo o tempo todo, mas nada se comparava a presença de Analu, até parei de beber e fui começando a querer pegar no sono, mas de resto, tudo ok.

— Não acredito que você vai ficar sentada aí enquanto toca Anitta, cara. — Analu falou tentando me puxar da cadeira.

Nem bebendo eu estava. Tava desanimada real, acho que era o corpo cansando de festas, a questão é: eu mal tinha começado a me divertir e já estava assim?

— Tô desanimada, Ana. Me deixa. — fiz manha.

— De jeito nenhum, vem agora! — ela pegou meu braço com força e me puxou fazendo com que eu me levantasse.

Bufei e ela começou a me guiar durante a música, parecíamos estar dançando uma música lenta enquanto tocava modo turbo.

— In. su. por. tá. vel. — ela disse me largando percebendo minha insatisfação e puxou uma cadeira pra sentar.

— Vai se divertir Ana, olha lá tua irmã com os meninos, vai lá. — apontei.

— Você também tem que se divertir, poxa. Todas as nossas amigas estão aqui, você nem falou com elas direito, tá acontecendo alguma coisa? Me fala. — ela passou a mão no rosto acariciando preocupada.

Tá, eu vou falar a verdade, eu estou no meio de uma crise existencial. Eu sabia disso desde o minuto em que acordei e lembrei que o quintal ia lotar e o ciclo ia recomeçar.

Que ciclo é esse, Amanda? Me arrumar, descer, encher a cara, vir com papo de me descobrir, beijar um milhão de bocas contando com a da minha melhor amiga, dançar até as pernas doerem, dormir passando mal, acordar de ressaca e começar tudo de novo.

Mas foca em apenas uma coisa: beijar um monte de bocas para me descobrir incluindo a da minha melhor amiga.

Eu até levei isso tranquilamente durante esses dias, mas agora nada fazia mais sentido. Se eu tinha beijado Analu e tinha gostado, isso já não significava que eu curtia mulheres? Por que me cobravam de saber de verdade pra não magoar ninguém, se por dentro eu já sabia que eu gostava, tanto de mulheres quanto de homens.

Mas o pior é: por que eu tava me cobrando demais? Não era grande coisa, era só viver normalmente. Se você gosta de mulheres, fica com mulheres. Se voce gosta de homens, fica com homens. Se você gosta dos dois, você fica com os dois. É simples e prático.

A questão é que por mais que eu pensasse nisso tudo e tentasse fantasiar ou esconder o x da questão, eu já sabia o que era.

No dia que Analu se assumiu lésbica pra todo mundo, Laís encheu minha cabeça dizendo "você tem que se resolver porque se você estiver fazendo isso só por diversão, vai acabar magoando que você ama", e com isso ela queria dizer, acabar magoando Analu.

Fiquei com muita raiva na hora, claro que eu não faria nada pro meu prazer que prejudicasse minha melhor amiga, mas depois que isso ficou martelando na minha cabeça, eu tive medo também.

E daí tentei afastar ela no quesito de ficar, tava tentando levar apenas na amizade. Fiquei com Lorena diversas vezes, até nesses dias que não fizemos nada em casa, Lore passou aqui e ficamos, mas eu não tava bem.

Achei que assim eu estava me livrando do medo, mas na verdade não, ainda existia incômodo dentro de mim e era por isso que no dia de hoje eu estava enfrentando uma boa crise, ou melhor, péssima crise existencial.

— Não tem nada acontecendo. — sorri pra ela. — Só quero ficar um pouco quieta hoje, tudo bem?

— Então vou ficar aqui com você, mesmo que seja com você calada. — ela se ajeitou na cadeira se acomodando.

— Não Ana, vai curtir, please. — fiz sinal de prece e ela me olhou desconfiada. — Por mim, vai? Eu tô bem.

Ela continuou me encarando com os olhos semicerrados, eu sorri pra ela tentando mostrar que tava realmente tudo bem e ela se deu por convencida.

Eu não queria estar assim, mas não queria lutar contra pra não abafar e sim me entender. Queria estar curtindo com ela, com as meninas da faculdade e até com Lorena, mas tava foda.

Fiquei a observando de longe. Ela andou saltitante até as meninas com um sorriso largo, abraçou cada uma e parou na Aimê, a abraçando de lado e apoiando sua cabeça em seu ombro.

Franzi as sobrancelhas, elas nem eram tão amigas, Aimê passou o braço por trás da cintura dela, eu me ajeitei na cadeira pra prestar atenção e apertei os olhos pra enxergar, Analu deu um beijo no pescoço dela que sorriu e selou seus lábios.

Meu estômago embrulhou, rolou aquele aperto no coração e o sangue queimou nas maçãs do meu rosto. Foi instantânea a vontade de sentir o álcool descendo pela minha garganta, a crise existencial de repente desapareceu e eu saí atrás de uma bebida pra me relaxar. O que diabos isso significava?

Como consequência Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin