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SOPHIA

O espelho na minha frente denunciava o quão pálida e magra eu estava. Meu cabelo ressecado, minhas sobrancelhas por fazer e as minhas mãos praticamente esqueléticas me faziam querer surtar.

Eu praticamente não estava dando a mínima pro que meu psicólogo falava bem a minha frente, o meu reflexo extremamente descuidado prendia mais a minha atenção.

— E como você se sentiu quando ele decidiu ajudar a Giovana ao invés de você naquele momento? — ele falou mais alto buscando meu olhar pra ele.

— Eu... eu me senti péssima. — suspirei. — Me senti abandonada, pra falar a verdade, eu me senti uma merda de pessoa.

— Aham, e no seu físico? Chegou a sentir algum desconforto pelo corpo? — perguntou.

Busquei na minha memória aquele dia. Foi difícil lembrar daquela cena, eu precisava do Mike naquela hora e pensando bem eu precisava da Giovana também.

— Senti um vazio no meu estômago, como se eu estivesse prestes a não sentir nada mais. — disse olhando pro espelho atrás dele.

— Pode me relembrar o que aconteceu naquela noite? — ele chamou minha atenção novamente.

Assenti calmamente.

— Eu sai pra beber com Laís, Giovana, Mike e o amigo dele Paulo. Nós fomos para um pub diferente, exclusivamente pra músicas eletrônicas e fãs do som. Aproveitamos aquela noite pra mexer com outras bebidas, era sempre cerveja e optamos por beber bebidas quentes. Aquele dia eu já sabia que a única pessoa de quem o Mike queria era Giovana e eu até consegui ignorar ficando com o Paulo, mas quando Laís saiu pra ficar com um menino e Mike foi com Paulo comprar mais bebidas, eu e Gio ficamos sozinhas e bom...

— Você pode respirar pra falar, se lembre disso. — ele notificou e eu assenti respirando.

— Nós conversamos sobre ele, meu corpo começou a estremecer, meu coração começou a pular com muita força dentro de mim e nós começamos a brigar.

— Você e a Giovana?

— Sim, mas eu que comecei.

— E então ele apareceu afastando vocês duas, mas não te deu atenção, focou só na Giovana, certo? — ele perguntou pra se certificar.

Abaixei a cabeça envergonhada encarando o chão. Ainda era difícil de algum jeito pra eu conseguir lembrar e não sentir nada específico.

— Eu pedi desculpas a ela, afinal, eu a amo como minha amiga e você sabe... você sabe que eu não sou assim na maior parte do tempo.

— Eu sei que não. Na nossa consulta apenas sobre autoconhecimento você afirmou muitas características maravilhosas suas, como ser empática, amorosa, carinhosa, simpática, gosta de ajudar as pessoas, gosta de ser feliz e leve. — ele me lembrou. — E não era ilusão.

— Certo! — balancei a cabeça positivamente ainda olhando pro chão com um sorriso fraco. — Doutor?

— Hum?

— Eu tenho mesmo a síndrome ou não? Sabe, a de borderline. Eu trouxe os exames, estão com você. — apontei pro colo dele.

— Nós temos tempo pra falar sobre na próxima consulta, agora já deu a hora. — ele olhou no relógio. — Lembre-se do que conversamos hoje, de todos os procedimentos necessários na hora do nervoso e principalmente de como controlar sua mente.

— Obrigada, Lorenzo. — sorri pegando minha bolsa e levantando da poltrona.

Ele assentiu retribuindo o sorriso e eu saí de seu consultório.

Eu esperei tanto pro dia de hoje pra descobrir se o que tava rolando comigo tinha nome e mais um dia de enrolação. Ok, eu já estava acostumada com minha mãe, meu pai e meu psicólogo querendo levar as coisas com calma, calma essa até demais.

Desci pelo elevador do prédio comercial e avistei rapidamente minha mãe estacionada com a cabecinha pra fora e o sorriso que ela não tirava nunca do rosto. Eu tinha orgulho dessa mulher!

— Olá, dona Sarah! — a cumprimentei entrando no carro. — Ah, tá aí?

— Não quenga, é assombração. — Henrique brincou do banco de trás.

— Engraçadinho. — fiz careta e olhei pra mamãe.

— Como foi hoje? — ela perguntou dando partida com o carro.

— Legal. — disse. — Você sabe que é tudo sigiloso, psicóloga Sarah.

— Sei bem disso, só queria saber. — ela sorriu pra mim. — Vou deixar teu irmão na casa do Bruno e depois vamos pra casa do seu pai, ok?

É, parece confuso, mas não é. Minha mãe teve uma adolescência bem agitada, enquanto estava de treta com o Bruno - pai do meu irmão - engravidou do meu papis, depois voltou com Bruno, teve o Henrique, se separou e voltou com meu pai anos depois dele perder a mulher dele pro câncer.

Estávamos bem acostumados com essa confusão de relações na nossa família e tava tudo certo. Henrique se dava bem com meu pai e eu também me dava bem com o pai dele, que aliás, é padrasto da Giovana. Desenhem se quiserem entender e eu tô falando sério.

— Além disso, tenho uma conversinha pra ter com vocês! — ela falou.

Franzi as sobrancelhas, guardei meu telefone de volta na bolsa, olhei pro Henrique que também me olhou confuso e olhamos pra ela.

— Qual é a novidade da vez? — perguntei.

— A última séria foi há cinco anos quando você anunciou que estava de namorico com o pai da Sophia. — Henrique relembrou e eu assenti.

— Dessa vez é algo exclusivo de vocês. — ela falou prestando atenção no trânsito.

— Tá, então fala! — apressei.

— Na sexta vocês viajam com o pessoal pra ficarem um mês sozinhos. — ela soltou.

— Que pessoal, mãe? — meu rosto estava num completo "que?" de tão sem entender que eu estava.

— Que pessoal? — ela revirou os olhos. — Vocês dois, Laís, Amanda, Analu, Luma, Theo, Henrique, Ian, Bernardo e Mike.

— WHAT? — Henrique gritou. Ô garotinho espalhafatoso.

— Que doideira é essa, gente? Com que intuito? — ri sem entender.

— O intuito de fazer vocês se aproximarem e começarem a se dar bem, além de criarem maturidade tendo que se virar com as coisas. — ela disse calma como uma pena.

— Mike concordou com isso? — perguntei curiosa.

— Pelo que Malu e Pedro falaram, sim.

— Sério? — arqueei minhas sobrancelhas surpresa e ela assentiu.

— Querida, quando você vai acordar desse relacionamento que nem é relacionamento direito tóxico? — Henrique provocou e eu mandei o dedo médio. — Agora eu tendo que aturar esse povo todo junto era só o que me faltava.

— E vai mesmo. — ela se virou pra ele estacionando em frente ao condomínio de Bruno. — Vai sair hoje com Luma?

— Não sei, ela deu sumiço, mas vou sair com Theo. Tchau, mãe! — ele acenou saindo do carro

Nós duas mandamos beijo de longe pra ele e fomos rumo a casa do meu papis e das minhas irmãs, que aliás, também era a nossa.

Até que eu estava bem com a tal notícia, mesmo existindo muitas implicâncias vindo do nosso meio, eu me dava bem com todos, eu era a única no caso que consegui essa proeza completa.

E seria bom também um tempo só com a Laís e com Mike sem a Giovana pra entender mesmo o que tá acontecendo e colocar uns pingos nos i's.

Como consequência Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon