5° Por quê? (Degustação)

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Aline,

Assim que estaciono no barzinho em que combinei com Ramires, guardo a arma na bolsa e desço, olhando para os lados, atenta. Não é a primeira vez que tenho a suspeita de alguém me seguindo.

Desde que fiquei ociosa em casa, procuro qualquer coisa para matar o tempo. Numa dessas, decidi ajudar Osvaldo e Ramires numa investigação extra oficial, para descobrir um esquema de corrupção de policiais envolvidos com jogo do Bicho. Receio que, se estou sendo seguida, seja por causa disso.

Entro rápido no bar. Ramires está numa mesa perto da janela. Arrasto a cadeira de frente para ele e me sento, descansando os braços na mesinha de madeira redonda.

Ele logo percebe que estou aflita.

- Que foi? Que aconteceu?

- Acho que estão me seguindo. - Aceno para a garçonete e, enquanto ela se aproxima, Ramires me encara fixamente, pasmo.

- Um chopp. - Peço à jovem, verificando que Ramires já está bebendo o mesmo. Ela anota o pedido.

Sozinhos novamente, Ramires se inclina na mesa, para perguntar furiosamente:

- Você acredita que pode ser coisa dele? - por ele, quis dizer Marreco. Sempre evita dizer o nome certo.

- Na verdade? Não. Para mim, tem mais ralação com a nossa - diminuo a voz a um sussurro. - investigação.

- Se fosse assim, estariam atrás de mim e do Osvaldo também. Eu mesmo não notei nada de diferente.

- Não sei... - bato ombros, me recostando. - Esses corruptos não vão deixar barato; o custo é alto para eles. Se de algum modo descobrirem que estamos investigando, vão querer nos tirar do caminho. - Sei que policial corrupto é pior que bandido quando o assunto é não serem pegos.

- Não tem como saberem, só nós três temos essa informação. É mais provável ser o seu queridinho... - expressando desdém, diz sarcasticamente.

- Ramires, por favor, né?! - Reviro os olhos, sem paciência para o seu ciuminho patético. Parece uma criança. Somos dois adultos, ele é pai, não estamos mais na idade de discutir por bobeiras.

Fora o Hudinho, nunca tive tolerância com cobranças e ciúmes de homens.

- Você estava tão bem, tão alegre, e olha você agora... - aponta um dedo desgarrado da caneca de chopp, avaliando-me desapontado.

- Estou normal. - fito através da janela, tirando meus olhos de seu radar infalível.

- Normal, Aline? Está toda agitada, nervosa. Tudo isso porque o cara fugiu, ta na cara! - diz com raiva, possessivo, batendo a caneca de vidro no tampo de madeira.

- Se me chamou aqui para me interrogar e brigar, vou indo... - pesco minha bolsa na cadeira ao meu lado, mas, quando me levanto, ele segura meu pulso por cima da mesa.

- Desculpa. Não vou mais falar disso.

Procuro em seu olhar uma garantia, a veracidade. Ao encontrar sinceridade, torno a me sentar.

A moça retorna com meu chopp, e brindamos a não sei bem o que. Os dois emburrados.

Ele cumpre sua promessa, o assunto fica debaixo de algum tapete. Uma sujeira que mais cedo ou mais tarde terá de ser varrida, aspirada. Que não seja hoje!

Procurar o Marreco... Ramires enlouqueceu? Como posso procurar por ele, se ele provavelmente vai querer pelo menos quebrar minha outra perna?

Ele não quer me ver! Ou quer...?

Love na Rocinha( DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now