Love na Rocinha( DEGUSTAÇÃO)

7° Um mistério... (Degustação)

Yanka,

Assim que vejo a feição do homem, logo percebo que está para lá de derrotado, como meu pai disse.

Ele não estava feliz quando me contou isso, e sim, muito triste pelo amigo, que pelos seus relatos, sempre foi mais pra frente, no entanto, se deixou levar por mulher, foi enganado. Parece que policial se infiltrou mandadona, e os dois acabaram se apaixonando.

Por isso sempre falo, tal de homem é burro. Sempre alerto meu pai em relação as essas mulheres que ele vive se envolvendo. Essa loira mesmo, que está no colo dele hoje, não gosto dela. É uma safada, interesseira.

O tal Marreco me olha sem graça, tem mó cara de bobão, de trapalhão.

Deixo as meninas paradas perto da escada, e sigo até meu pai. Após beija-lo, tomando o cuidado de fingir que esse projeto de piranha não está empoleirada em seu colo, ele me apresenta finalmente ao Marreco.

Sua cabeça foi passada na um, o rosto ossudo, escuridão arroxeada ao redor dos olhos, evidenciando noites sem dormir; uma barba rala crescendo, sem aquela prosperidade que aparentava nas fotos que vi, nas quais ele posava com lindas dedeiras. Lembro de uma em que via-se perfeitamente as letras "M" e "R", que, pelo que falavam na postagem, significavam "Marreco da Rocinha". Sempre com correntes de quase meio quilo cada, roupas de marca, charme e estilo. " Joia do traficante Marreco da Rocinha, preso no início do ano em uma operação, avaliada em quase 800 mil reais". Li em uma publicação no twitter.

Pois é, pesquisei. Não foi difícil. Após sua prisão, muitas fotos suas se espalharam. Ele não podia mais impedir, ir atrás, como sempre fez. Seu rosto estava lá, para quem quisesse ver.

O coitado agora é um falido qualquer, um caco de gente. Confesso que senti até certa pena quando ele me disse precisar beber para espairecer. Também, depois de uma fuga daquelas... Temos de convir que ele é um gênio, muitos diriam ser impossível fazer o que ele fez.

A polícia logo vai descobrir que ele veio para cá. Por quê? Por que não foi para outro país? Por que se esconder aqui, num lugar em que podem pegá-lo a qualquer momento? Por que meu pai aceitou? Estamos fortalecidos, mas nem assim... é perigo desnecessário. E se vier o BOPE, CORE?

Caralho... meu pai é foda.

Marreco recebeu alguma ajuda aqui de fora, rolou subornos, mas o plano foi todo elaborado por ele. Muito inteligente... Como se deixou levar por uma mulher desse jeito e acabou assim, nessa derrota? É inacreditável!

Me afasto para um canto, junto das minhas amigas, longe de todos e, principalmente, dessas vulgares que estão fazendo nem sei o que aqui. Meu pai não bota ordem... Já já me irrito e mando darem área.

Seus amigos convidam várias piranhas, meu pai não tem boca para dizer "não". Apesar de ser o chefe, é conhecido pelo coração de ouro, pela humildade e bondade. Por isso falam por ai que domino ele. Na verdade, só não deixo ele ser feito de trouxa. Mesmo sendo muito esperto, quando se trata dos "crias" dos "amigos", vira um molenga.

Vivi enche copos de gin com energético para nós três. Jéssica acende um cigarro. Não costumo fumar, apenas quando estou bebendo dou alguns traguinhos, longe das vistas do meu pai. Ela me passa e, enquanto fumo, ouço o papo das duas.

— Ele não é tão feio, amiga... — Vivi tenta convencer Jéssica a pegar o Ticolé.

— Tu sabe que não curto envolvido, prefiro trabalhador ou quem tem grana de berço, os ricos, herdeiros. Esses me atraem mais. — Jéssica ingere sua bebida, sondando na direção do Marreco, que está cabisbaixo, fitando o copo em sua frente sobre a mesa, disperso da conversa do meu pai com Jiló e Galego. Já até sei os nomes, cansada deles por perto também.