29° Maldito olhar...

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Aline,

-Eu sei muito bem de você e do Marreco. -Ela solta a fumaça, enrrugando as sobrancelhas e continua vidrada na paisagem.

Gelo com essa revelação. Será que ele contou tudo pra ela? O que ela sabe?

-Sobre eu e o Marreco? -Faço a desentendida, e taco nicotina goela a dentro, para ver me acalma. Não adianta e ainda me causa mais tosse.

Ela ri, parece uma louca bebada e debochada, mas é muito bonita; e acabo sentindo certo ciúmes em imaginar ela com o Hudson. Decidi que agora iriei chamar ele assim, já que ele não quer que eu o chame de Hudinho. Marreco me lembra algumas coisas ruins, que gostaria de esquecer. Mas sei que volta e meia vou acabar chamando ele de Marreco mesmo assim...

-Sei que você ferrou com a vida dele, que por sua causa ele perdeu tudo e por sua causa, agora ele tem aquele coração de gelo. -Ela embaraça algumas palavras, mas sua constatação me abala um pouco. Eu sinto culpa por ter prejudicado ele; ela abriu essa ferida.

-Eu estava cumprindo meu dever...-Tento falar firme, mas minha voz sai mais baixa do que o pretendido.

-Dever, é...? Sei...-Ela vira mais uma dose de whisky.  -Na minha opinião, você é uma egoísta! Sabia que você destruiu o cara? -Ela me encara e fico muda. Meu coração dói em imaginar o mal que fiz a ele, ninguém precisa tacar isso na minha cara, eu já me torturo sozinha todos os dias.

-Como você conseguiu, hein? Sério! Vi como ele te olha, como fica quando você está perto, como conseguiu quebrar aquela casca? -Ela está mais bêbada do que pensei. Por que está me perguntando isso?

-Vai responder, não? Responde, vai...-Seu sorriso branco e muito bonito, se abre de maneira estranha.

-É uma longa história... mas se serve de consolo, ele me odeia. Ela gargalha alto e vira um tanto bom de whisky.

-Odeia? -Faz uma expressão debochada e fico sem entender. -Ele te odeia?

-Como você mesma disse, ele perdeu tudo por minha culpa, então sim, ele me odeia. -Meu cigarro já acabou e nem percebi. Que assunto estranho. Que situação estranha.

Ela me lança um olhar frio e se não me engano...magoado. Uma poça de lágrimas se juntam rente ao seus cílios, e uma escorre. Minhas conclusões estavam certas, ela está apaixonada por ele. Que merda...

- Você...-Começo a falar, mas ela estende a mão para eu parar, como se não quisesse ouvir mais nada e tenta se levantar. No mometo em que firma o pé na borda da piscina, escorrega e cai na água. Me levanto emediatamente, assustada, mas esperando ela emergir, só que acho que onde ela caiu é a parte mais funda da piscina e por estar bebada ela não consegue alcançar a borda. Está se afogando.

Pulo na água e seguro ela pela cintura, ela puxa o ar apressada, abrindo a boca, e a ajudo a se apoiar na borda.

-Calma, vou te ajudar a subir. -Seguro na borda, ergo meu corpo e saio da água. Seguro ela pelos braços e a sento do lado de fora. Ela está ofegante e encolhe as pernas, apoiando os cotovelos nelas, tampando o rosto com as mãos, entrando em um choro profundo.

Fico observando ela, me sentindo uma filha da puta porque sei que ela está sofrendo. Mas quem nessa história toda não está? Todos estamos sofrendo, e o pior, ninguém realmente tem culpa.

Quando tento segurar em seu ombro, ela me repele com hostilidade.

-Tô bem, porra! Me solta! -Praticamente grita, com a voz de choro. Fico sem saber como agir, sem saber se teria algo que eu pudesse falar, mas não sei se tem. Eu também não gostaria de ter encontrado ele aqui, não queria estar aqui.

Love na Rocinha( DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now