30° Ainda sou eu...

110 7 2
                                    

Aline,

-O que rolou? -Ele pergunta com a voz firme. Eu engulo seco e tomo mais um gole de bebida para molhar a boca.

-Eu vim perguntar a ela o que vocês tinham decidido, já que tomaram meu celular e não tenho como me comunicar com ninguém. Estava no escuro e queria ir embora logo. -Tento não encarar ele, para conseguir concluir o raciocínio.

-E ai? -Ele se curva, curioso, apoiando os cotovelos nos joelhos.

-E ai, que ela começou a fazer perguntas...depois escorregou e caiu. Você tá achando que joguei ela na piscina, é isso? -Me irrito com essa possibilidade, o olhar dele está muito desconfiado pro meu gosto. -Acha mesmo que eu tenho idade pra tá brigando por causa de homem? -Fecho a cara.

Ele sorri de canto e vira a cabeça de lado, achando graça de não sei o que.

- Não falei nada, pô. Só tô perguntando...Chego aqui e pego as duas molhadas, uma chorando. Tendi porra nenhuma, pô...-Volta a se recostar e desliza a mão no queixo.

-Ela deve estar magoada né, Hudson...Ela sabe o que rolou na Rocinha... -Ele estreita os olhos.

-Hudson? -Parece quase que ofendido.

-Ué, é seu nome, né não? Hudinho, você disse que não quer mais, vou te chamar de Hudson. -Falo, meio emburrada. Eu amava chamar ele de Hudinho.

-Pode crê...Me dá um gole, aê! -Ele estende a mão, pedindo o copo.

Quando entrego, ele bebe e eu passo a mão no rosto.

-O que você quer? Por que pediu pra eu esperar? Tô com frio aqui...-Falo, impaciente.

-Vou te dar uma roupa minha, tu toma um banho no meu quarto e pode dormir lá com a garota, eu durmo em outro canto, jaé?

-Não precisa.

-Ah, é? E vai dormir molhada? Porque hoje tu não sai daqui. -Ele me devolve o copo, com um semblante sério.

Não respondo, porque ele tem razão, mas a ideia de usar a roupa dele não me desce.

- Tu tá ligada que o que rolou hoje não vai rolar de novo, né? -Ouvir isso dele me irrita, apesar de um lado meu ficar triste. Sei que ele não quer magoar a Yanka, e ele está certo, mas mesmo assim me irrita.

-E por que rolaria? Foi um vacilo...Na verdade, nem vamos nos ver de novo, então...-Quando levo o copo na boca, o cheiro do perfume dele invade minhas narinas. O perfume devia estar na mão dele e ficou grudado no copo.

- Não deveria ter rolado nem dessa vez. -Completo e me levanto num repente. Deixo o copo na cadeira e me viro para sair, mas sinto quando ele segura forte meu braço.

Quando me vira, ficamos com nossos rostos bem próximos e o perfume dele (One Million) fica ainda mais presente.

-Me solta...-Sussurro, mas quase não sai. A sensação de adrenalina que ele me disperta, toma conta do meu corpo, de cada partizinha.

-Vou te lavar lá no quarto, pra tu tomar um banho e botar uma roupa seca. -Ele me solta, e se afasta, como se tivesse tomado um choque.

- Você viu se a Natália acordou? -Pergunto, tentando me recuperar do contato.

-Tá apagadona no sofá. -Ele responde, meio frio.

Ele pega a arma, guarda e descemos. Quando chegamos na sala, vejo os seguranças na mesma posição de antes, perto da porta, mas eles nem nos olham. É como se não existissimos. A Natália está deitada do mesmo jeito e a tv continua ligada. Ela deve estar cansada.

Love na Rocinha( DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora