11° Escreve ai...

487 49 6
                                    

(Comunidade do PPG, 20/08/2005.)

— Não quero saber! Tu quem quis emprestar a bola, ninguém te obrigou! Se furou o problema não é nosso! — ralho, puto com o Alisson, nosso amigo, que hoje tirou o dia para me torrar.

— Parou, gente! Qual foi? Bora acender a churrasqueira, que e o Gadin já foi buscar a cerveja! Deu de caô, bora aproveitar que hoje minha mãe deixou a gente fazer a resenha aqui na laje de casa e parar de brigar por besteira! — Guga interpõe, carregando a churrasqueira portátil dele até o muro.

— Da uma moral aqui!  —  pede, quando quase deixa a parte de cima cair. Corro e seguro para ele. Após, ajeitarmos a churrasqueira no lugar e Alisson traz o carvão, emburrado.

— Vão parar de tretinha? Tão parecendo mulherzinha, seus viados do caralho!  — Guga xinga, dividindo o olhar entre nós dois. 

Estamos bolados. Alisson, porque ontem emprestou a bola pra gente jogar na quadra e eu acabei furando sem querer, e eu, por ter sido sem querer e ele ficar de quais-quai-quais, sendo que emprestou porque quis.
— Jaé… da minha parte ta tranquilo... — Ele é o primeiro a ceder, me olhando pelo canto do olho.

Fico um tempo mantendo a feição de puto, naquele suspense; o Guga me fuzilando, querendo me matar por não dar o braço a torcer.

— Tô zoando! Tá suave já! Foi mal ter furado sua bola, mano... — sorrio, abraçando de lado o Alisson, que me perdoa. Parceiria é infinita, não vai ser uma bola que vai estragar.

Eles também riem e voltamos as pazes.

So encosto com meus crias: Gadin, Guga e Alisson. Ganhamos uma grana por fazer uns corres pros caras da boca e decidimos usar tudo pra tirar um lazer. Compramos asinhas de frango, linguiça e uma carne bovina da mais barata, porque a grana era pouca e ainda tinhamos que comprar cerveja. A mãe do Guga liberou pra gente fazer o churras na laje dela.

Algumas coisas tivemos que improvisar. Carvão o Alisson trouxe da casa dele, e a caixinha de som o Gadin já tinha.

— O mais pica chegou, meus amigo! — Gadin aparece com a cerveja, e botamos na caixa de isopor que eu trouxe — escondido da minha avó. Guga ficou por conta de temperar as carnes, e eu, por conta das músicas. O Heliton tinha vários CDS que ele esconde, mas roubei uns três de funk. Boto no sonzinho e aperto play.

— Hoje vou embrazar legal! — Gadin faz um passinho balançando a barrigona para lá e para cá. Ele é um gordinho — quer dizer, gordão — feio, mas fechamento. 

— Ou, ou,ou! Pera, pera... Tamo esquecendo do melhor, pega a visão! — Alisson tira um baseado do bolso, empolgado, erguendo no alto e o olhando como se fosse um verdadeiro tesouro.

— O Andinho da rua 7 me deu! Dei um papo numa mina pra ele e ele deixou como? Disse que é a mais forte. — Conta, vaidoso. 

Raramente temos grana para comprar maconha, então nos amarramos quando alguém nos dá de graça. Vivemos fazendo um favor aqui e ali pra ganhar as paradas.

— Bora, taca fogo!  — falo, estralando os dedos.

Ele acende na brasa da churrasqueira —  que o Alisson está sofrendo para fazer pegar — e fumamos. Bate uma onda do caralho, rimos muito escutando Mc Orelha no som e quebrando tudo. 

Comemos as asinhas, que ficou salgada, mas ninguém ligou, devido a larica.
Sem piscina, tomamos aquele banho de mangueira e, claro, bebemos cerveja. Depois de um tempo e de finalizarmos o baseado, sentamos nas cadeiras que tinham ali, marolando, falando nada com nada. Cada um numa viagem mais maluca que o outro.

Love na Rocinha( DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora