9° Friozinho na barriga ( degustação)

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Yanka,

Adeus baile... hoje não rolou mesmo. As meninas foram embora aquela hora, confiantes de que, após mostrar o quarto ao Marreco, eu iria com meu pai e as encontraria lá. Pô, sair de casa às duas e pouco... bateu a maior preguiça. Eu teria de me arrumar, e nem banho tinha tomado ainda. Até deixar meu cabelo do jeito que gosto, me maquiar...

Tá vai... honestidade; meu ânimo acabou. Meu pai até mandou mensagem, perguntando se eu dormi ou se queria ir com eles, porque ele só iria tomar banho enquanto a sua vadia sanguessuga ia em casa se aprontar, mas respondi que estava legal de baile hoje, que iria ver um filme, serie, ficar na minha.

Agora, estou reproduzindo os vídeos que minhas amigas mandaram. Estão curtindo a beça. Baile está mídia, mas hoje não me pega.

Dei de cara com ele na cozinha, todo largadão, mas bem melhor sem a penugem no rosto. Parecia até mais jovem. Ok, ele tem seu "encanto", como dizíamos na Espanha. Mas, caraca, o olhar daquele homem me deixa sem fala, coisa incomparável.

Ele encara de um modo muito perturbador, cortante, fixando aqueles globos acinzentados sem sentimento. Não consegui encontrar nenhuma emoção em suas expressões, a não ser respeito.

Não soube definir se o frio que se manifestou em minhas entranhas foi de nervoso ou o quê. Suponho que era nervosismo mesmo, por estar numa cozinha, usando meu pijaminha mini, perto de um ser que mal conheço e não sei a fundo do que é capaz. Bom, me fazer mal eu duvido muito que ele vá. Não é tão soberbo assim para se atrever a tal na casa do meu pai. A amizade entre eles me parece sincera, é antiga. E ele não sairia vivo. Não mesmo. Meus seguranças estão de plantão lá em baixo, bastaria um barulho diferente, um grito, um catuque no rádio.

Não estou propriamente com medo dele, mas minha curiosidade só aumenta. Me deparei com um quebra cabeça, daqueles de muitas peças, que nego leva uns quinze anos para montar, entende? Meio que descobrir mais sobre ele, desvendar suas tramas, está se tornando uma pulguinha inquietante atrás da minha orelha.

Quero descobrir o que houve com a tal policial, encaixar as peças, solucionar esse caso. E estou preocupada por me sentir assim. O que tenho com a vida dele, afinal?

Estou parecendo uma fofoqueira, aquelas vizinhas intrometidas que ficam na janela cuidando da vida alheia. Mas é incontrolável. Eu preciso saber mais. Preciso entender o que ele fez, o porquê, quem é. Ter minha própria opinião, não a do meu pai, que mal sabe diferenciar uma puta ambiciosa de uma mulher decente.

Ver ele sem camisa daquele jeito... as tatuagens, o corpinho de pai de família. Vontade de rir... ele é atraente, poxa! Atraente de um modo diferente, não exatamente pela beleza que estamos acostumadas. Não sei o que sinto, mas sinto algo que não se limita só a espionagem.

Ele atrai do jeito dele... sua voz grave, a gentileza que não combina com nada daquilo que espalharam na internet. Seu humor ainda não apareceu, talvez pelo momento difícil que está passando. Mas é evidente que de forma alguma é alguém medíocre.

Intelectual, tem boa educação e... caralho, o cara lava o copo para botar no escorredor. Que bandido se liga nesses detalhes?

É difícil explicar ele.

Ainda é super respeitador, porque nem uma olhada disfarçada deu no meu corpo praticamente escancarado no pouco tecido fino de seda rosa. A blusa do pijama é de alça, o short mal tampa a poupa do bumbum, e nem uma esquadrinhada ganhei. Será que ele me achou... feia?

Homem nenhum jamais me tratou com tanta formalidade. Até mesmo meus seguranças, que temem e respeitam super, às vezes não resistem a umas olhadas mais atrevidas. Posso dizer que gosto de causar essa reação nos homens, adoro ser almejada, feito uma joia cara que não pode ser possuída por qualquer um.

Love na Rocinha( DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now