33° Por sorte...

104 5 1
                                    

Enquanto saímos da frente do prédio, ele mantém o silêncio, mas com uma olhada despretensiosa, vejo sua cara de puto. Ramires vira um pimentão quando está com raiva e acaba sendo engraçado.

-Vai, começa a se explicar que tô pronto pra te ouvir. -Enquanto dirigi com uma mão, apoia o cotovelo na janela, segurando com a outra na parte de cima da porta.

Eu respiro bem fundo, porque apesar de não querer falar merda nenhuma e mentalmente estar mandando ele se foder, sei que como sua namorada preciso dar alguma explicação. O problema é que sou péssima em mentir...vou ferrar com tudo, tô até vendo...

-Se quer ouvir uma história mirabolante, não tem! O que tenho pra dizer é que sim, ele estava lá e eu falei com ele. -Mantenho meus olhos na jenela, observando o trânsito e evitando contato visual com ele.

Posso sentir a tensão aumentar a cada segundo, como se ele fosse explodir a qualquer momento.

-E fala isso nessa naturalidade, Aline? Acha isso bonito? -Ele carrega bem seu tom sarcástico.

-É Ramires...tô super natuaral te falando essa merda. -Também ironizo.

-O que vocês conversaram? -Ele pergunta em um tom mais tranquilo.

-Sobre a Naty, eu não sabia que ele estaria lá...ele está sob a proteção do Baiano e foram os soldados dele que sequestraram ela. -Antes que ele fique ainda mais puto, acrescento:

-Mas não sabiam que ela era sua filha! Assim que souberam queriam soltar ela, e pode perguntar pra Naty, trataram ela super bem e tudo...-Preciso acalmar os animos. Crio coragem de olhar pra ele e vejo que continua irado, talvez mais ainda que antes, por saber que o Marreco teve dedo no sequestro da filha dele. Tá, ok! Ele está dez mil vezes mais puto agora.

-Então foi ele, esse desgraçado! -Ele grita.

-Ramires, ele não sabia! Ele quis reverter o erro, mas ai tu subiu metendo bala neles, poxa!

Eu estou mesmo defendendo o Marreco?

Ele não fala mais nada, o que é muito estranho.

Depois de metade do trajeto se dar em silêncio; eu tentando pensar no que dizer e ele simplesmente centrado na estrada, mudo feito um poste- decido então falar.

-Vai ficar calado? -Avisto meu prédio e ele para em frente. Se mantém calado por mais um tempo, esfregando o queixo com o indicador, depois começa, olhando fixamente pra frente:

-Fala a verdade!

Eu começo a ficar nervosa.

-Que verdade, Ramires?! Que verdade, me fala? Quer ouvir o quê? O cara me odeia, você sabe muito bem disso. -Apesar de isso ser uma verdade em parte, minha voz se mantém firme e minha postura também,mas por dentro estou tremendo na base.

-FALA A VERDADE! -Ele berra e bate a mão no volante, me fazendo dar um salto de susto. Odeio essas gracinhas dele, mas não posso falar nada agora. Tô no erro...

Ele se vira para mim furioso.

-Se esse cara te odiasse assim, tu não saia viva de lá, mas pelo contrário, saiu bem viva e bem tranquilinha. -Ele praticamente remunga, tamanha força que usa para ranger os dentes.

-O que conversaram? Fala! -Ele se vira totalmente no banco, apoiando seu braço no encosto almofadado. Através da janela, olho, e vejo seu Denivaldo, meu porteiro, olhando intrigado para cá; provavelmente se perguntando o que uma viatura preta da Civil, faz parada em frente ao prédio.

Talvez eu esteja observando e pensando no seu Denivaldo para fugir do assunto. Não sei mentir, porra! Se ele me apertar mais um pouco, vou acabar contando.

Love na Rocinha( DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now